sábado, novembro 17, 2018

Sábado, 17.
Numa volta pelo centro de Paris, pude observar o descontentamento dos franceses pela política de Chou Chou. Ele está bastante isolado no trono que a todo o custo garimpou agarrado ao fascínio do poder. Hoje foram os automobilistas anónimos, quero dizer, sem a tanga partidária a comandar os seus interesses e comadrices. As redes sociais cada vez mais suplantam a mentira partidária e são o meio interessante de fazer face à entronização daqueles que, vencendo as eleições, se arvoram do poder absoluto. Não só a capital. Toda a França desceu à rua para protestar contra a subida abusiva dos preços da gasolina, com confrontos com a Polícia e uma morte a registar. Nós somos pacatos, submissos, tementes, adoramos a arrochada, somos passivos até dizer chega. Chou Chou ameaçou os que impedissem a circulação das ruas, o povo riu-se-lhe na cara de bebé cínico. A mulher deve-lhe ter dado ordem de se suster. Espero bem.

         - Prossigo o meu trabalho com imensa dificuldade. A parte final do romance trouxe-me problemas com que não contava. O ajuste entre a morte de Rui Gonçalves e a vida que resta a Flávio Jardim viver, é-me penoso articular.


         - De ontem para hoje, um frio doido. Desde que cheguei à quase um mês, foi a primeira vez que tive de me artilhar com gorro, cachecol e luvas. Atravessei a cidade começando por Clignancourt, Champs Élysées, e terminei num bistrot, a mochila pesada de livros, para um chocolat chaud em frente à Fontaine de Saint-Michel. Dia fantástico (para utilizar a expressão dos saloios e das saloias que fazem televisão). Quando eu pensava que tinha a minha lista de livros a comprar completa, eis que vejo um de Green, publicado postumamente, em 2008, que não conhecia. A propósito, desde o ano passado que andava à procura do quarto volume do tempo de Junger, Soixante-dix s´efface. Encontro-o hoje em Chez Gilbert Joseph com um ligeiro vinco na capa. Protesto, digo que os livros para mim são sagrados e que aquele exemplar não devia estar ferido. “É quase nada”, argumenta a empregada. Depois diz-me que espere. Daí a minutos aparece: o preço que era de 35 euros, passou para 12 euros. Um milagre!