quarta-feira, novembro 28, 2018

Quarta, 28.
Há dias a televisão ofereceu quase três horas a Nicolas Hulot – o ilusório homem do Planeta. A dada altura desinteressei-me. O programa é como aquele da RTP1 Prós e Prós. O homem prega bem, muito do que diz é razoável, mas a prática é absolutamente outra a começar pela sua vidinha airada com três carros, não sei quantas casas, um quotidiano abastecido do melhor da sociedade de consumo. Numa palavra: caviar e champanhe. A cena política em toda a parte está vassala das suas contradições e quem vier de trás que feche a luz. Os meus amigos (alguns) acusam-me de pretender mudar o mundo. Não se trata disso, mas sim de alterar a submissão dos mais fracos em favor da loucura e da opulência dos fortes (financeira ou de poder). O que me revolta é ver tanta e tão profunda disparidade. Veja-se o caso mais recente do senhor Carlos Gohosn. 

         - A primeira cópia de O Juiz Apostolatos tenho-a sobre a mesa de trabalho. De vez em quando folheio-a como quem deita uma olhada distraída a algo que conhece de longa data. Umas vezes o que perscruto agrada-me, outras entristece-me. Mas o resultado final irei saber quando me dedicar à correcção e limpeza do texto. Por agora quero distância, reflexão, embalo. 


         - Outro dia, Francis convidou-me a aparecer no seu minúsculo apartamento com uma vista esplêndida sobre o canal. O pretexto foi dar-me a conhecer a sua colecção de gravuras do tempo de Napoleão III sobre o início do Caminho de Ferro em França, datadas de 1850. Na ocasião, mostrou-me a obra completa de George Sand, de 1854, maravilhosamente encadernada, ilustrada por Tony Johannot e pelo filho da escritora Maurice Sand. Francis, coleccionador de arte, organiza de quando em vez exposições. Os americanos não o largam propondo-lhe milhares de euros por isto e por aquilo. Ele resiste. Por vezes, em momentos de aperto, vende uma peça, uma tela, uma escultura antiga. Por exemplo, o seu acervo de arte africana é notável, das poucas valiosas que a França possui, e disputado pelos curadores internacionais. O Museu Nacional de Etnologia, em Belém, possui uma obra por ele oferecida. Foi decerto herança da família ou do realizador Marcel Carné com quem foi ami intime. O interior é um pequeno museu de bom-gosto, simpático, acolhedor. Apesar de exíguo, nem por isso deixa de nos acolher parecendo aos nossos olhos ávidos das belas coisas imenso. A marca da personalidade do seu ocupante, está sólida em cada divisão.