Segunda, 26.
A
pobre Annie já pouco nos pode acompanhar, a Robert e a mim, nas nossas visitas
a museus e outros lugares históricos. Embora possua três ou quatro obras de Miró,
não foi connosco ao Grand Palais conhecer a exposição que tem tido uma
afluência incrível. Com efeito, talvez não seja para mim das melhores
exposições que vi. Houve até duas ou três salas que me desagradaram. Contudo,
se a ideia foi traçar o percurso artístico do catalão, desse ponto de vista foi
cumprido. No Grand Palais como por todo o lado quando me confronto com a obra
de Miró, não me atardo a compreender o que me entra pelo olhar. Cada tela é
para mim uma impressão, um resvalo pelo domínio de uma certa intimidade, da
festa retardada na infância quando a criança se deleita a compor cores e
traços, a experimentar decorar a percepção de um mundo que irrompe das suas
ficções. Talvez seja por isso que o pintor poucos títulos dá aos seus quadros.
Basta-lhe o equilíbrio concepcional, a metafísica que enche o espaço, a poesia
que plana, a liberdade que impõe a alegria, a felicidade e o desvario que tem
na cor a sua presença singular, a assinatura que recentra o olhar e nos irmana.
Hodierno de uma época excepcional, pelo número de artistas e pelo jorrar de
estilos, escolas e disciplinas, Miró, após uma breve incursão pelo Cubismo,
logo se distancia para prosseguir o seu caminho independente e feliz. Os anos
passam, Miró recolhe-se numa introspecção onde só o azul do céu e as estrelas
vêm em seu socorro restabelecendo o caminho de uma espécie de santidade
abrigada na memória da infância que nunca o largou.
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A Bailarina (o Cubismo depressa abandonado) |
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Picasso e Braque não andam longe |
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O grupo dos surrealista |
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A cor! A cor! |
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Ao cento George Malkine e Yvette Ledoux beijando-se |
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Paisagem Imaginada |
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Silêncio |