segunda-feira, novembro 05, 2018

Segunda, 5.
Paris. Antes de sairmos de Quiberon, Robert levou-me numa volta através da Cote Sauvage. Belo passeio por estrada à beira-mar, cruzando uma infinidade de praias, algumas com castelos imponentes, sob céu de chumbo e mar bravo. Passando sobre as rochas niveladas pelo tempo, centenas de franceses em passeios pedestres. A dada altura deixámos o carro e fomos falésia abaixo espreitar a fúria das ondas espumando nas rochas, entrando e saindo de verdadeiras catedrais ou túmulos rasgados na rocha. Não sou um verdadeiro amante do mar e da praia, mas tenho que reconhecer que o oceano é todos os dias diferente e exerce sobre os homens a autoridade que lhe advém de um mundo tenebroso, feito de fúrias e segredos, imensidade e força. A vida mais diversificada habita nas suas profundezas, um mundo fabuloso está ainda por descobrir.



         - Outro dia trabalhei sete horas divididas antes e depois do almoço. Encontrava-me tão cansado, que o Robert alertou-me: “Vê lá se arranjas qualquer acidente cerebral!” O problema para mim não são as horas de labor intelectual, é a excitação que as acompanha. Quando escrevo metamorfoso-me num bicho igual a muitas das personagens que habitam a obra de Ovídio.   

         - A Laure, no seu atraso mental de nascença, dizia-me quando descíamos a pé do centro da cidade para casa: “Eu peço a Deus para que a minha família se aproxime da Igreja.”    

         - Terminei o livro que Paul Morand dedicou a Coco Chanel. Li-o em três dias e não é de maneira nenhuma uma literatura de algibeira. Pelo contrário, é obra de uma importância capital para se conhecer o percurso da mulher mais influente do século XX na moda, é igualmente um retrato de um mundo que a pouco e pouco foi engolido pela banalidade, a globalização, a tirania das redes sociais, do mercado, e da educação nivelada por baixo. Chanel criou uma nova mulher que em certo sentido em alguns estratos ainda hoje permanece.


         - Os franceses chamam ao Presidente não sei de quem de tal modo a sua popularidade é baixa: “le teigneux”.