Segunda, 5.
Paris.
Antes de sairmos de Quiberon, Robert levou-me numa volta através da Cote
Sauvage. Belo passeio por estrada à beira-mar, cruzando uma infinidade de
praias, algumas com castelos imponentes, sob céu de chumbo e mar bravo. Passando
sobre as rochas niveladas pelo tempo, centenas de franceses em passeios
pedestres. A dada altura deixámos o carro e fomos falésia abaixo espreitar a
fúria das ondas espumando nas rochas, entrando e saindo de verdadeiras
catedrais ou túmulos rasgados na rocha. Não sou um verdadeiro amante do mar e
da praia, mas tenho que reconhecer que o oceano é todos os dias diferente e
exerce sobre os homens a autoridade que lhe advém de um mundo tenebroso, feito
de fúrias e segredos, imensidade e força. A vida mais diversificada habita nas suas
profundezas, um mundo fabuloso está ainda por descobrir.
- Outro dia trabalhei sete horas divididas
antes e depois do almoço. Encontrava-me tão cansado, que o Robert alertou-me:
“Vê lá se arranjas qualquer acidente cerebral!” O problema para mim não são as
horas de labor intelectual, é a excitação que as acompanha. Quando escrevo
metamorfoso-me num bicho igual a muitas das personagens que habitam a obra de
Ovídio.
- A Laure, no seu atraso mental de
nascença, dizia-me quando descíamos a pé do centro da cidade para casa: “Eu
peço a Deus para que a minha família se aproxime da Igreja.”
- Terminei o livro que Paul Morand
dedicou a Coco Chanel. Li-o em três dias e não é de maneira nenhuma uma
literatura de algibeira. Pelo contrário, é obra de uma importância capital para
se conhecer o percurso da mulher mais influente do século XX na moda, é
igualmente um retrato de um mundo que a pouco e pouco foi engolido pela banalidade,
a globalização, a tirania das redes sociais, do mercado, e da educação nivelada
por baixo. Chanel criou uma nova mulher que em certo sentido em alguns estratos
ainda hoje permanece.
- Os franceses chamam ao Presidente
não sei de quem de tal modo a sua popularidade é baixa: “le teigneux”.