Terça, 17.
Eu
devo ser o único português que tem a sorte de não perceber nada de futebol. Mas
sofro as suas consequências, pago para o sustentar e tenho de o gramar. Entopem-me
os ouvidos com o seu português de sapatilha, embrutecem-me quando ouço a gente
que dele vive a falar aquele português de chinelo, o urrar de fanáticos impondo
uma moral de relvado, exibem a mediocridade como um valor, a violência, a
corrupção, os comportamentos de sargeta. E não me canso de avisar que um dia
vamos pagar muito caro esta devoção, que digo eu, esta dependência a um planeta
que não tem regras nem olha a meios para atingir os fins. A inteligência, a
sensibilidade e a cultura dos portugueses fugiu toda para o futebol. O saldo da
festa foi impressionante: dois mortos, crianças feridas, dezenas de outros
festivaleiros levados para o hospital, lojas dos Campos Elísios saqueadas. O
costume. Nem tanto assim. Na Rússia onde o pagode é controlado como deve ser,
durante o mês que durou a choldra, não houve uma única insubordinação, morte ou
ferido. Благодарю, Senhor Putine!
- Falando da sarna. A mim quer-me
parecer que a ida do “maior jogador do mundo” para Itália, vai ser a morte do ídolo.
Há qualquer coisa de trágico naquela contratação, um ambiente de fim de festa,
com o drama a aflorar na ambição que quer agarrar os derradeiros foguetes que se
perdem no ar.