Quarta, 11.
Os
últimos rapazes e o seu instrutor que estiveram retidos na gruta de Chiang Rai
17 dias, foram ontem resgatados sãos e salvos. O Planeta acompanhou a par e
passo toda a engenharia que permitiu um tal milagre, assim como a angústia, a generosidade
e a técnica dos que acorreram gratuitamente de todo o mundo. Se o feito me
surpreende, mais admiro a contenção informativa, a protecção dos jovens, a
sensibilidade dos dirigentes que não permitiram o espectáculo caro aos
jornalistas. Os rapazes ficam de quarentena antes de regressarem ao carinho dos
familiares.
- Comprei no Corte Inglês o romance de
Saul Bellow, As Aventuras de Augie March.
Num dos andares, encontrei um rapaz-escravo, que a pretexto de ser
estagiário por três meses, não só trabalha à borda, como não lhe dão ajuda para
transportes e refeições. Já aqui me referi, revoltado, a situações como esta, no
tempo do PSD no governo. Agora está lá o
PS. Se julgam que há políticas (o João Corregedor diz como Sartre que a
política está em tudo) diferentes entre um partido e outro, tire daí o sentido.
O que há é leis ou seja políticas.
- Não conheço a obra de Saul Bellow.
Se assim me exprimo, não é porque desconheça o autor, mas o que dele li foi
muito pouco. O livro que tenho em leitura neste momento (Cartas e Recordações), através de um pequeno texto ( p. 129,
Quetzal), deu-me numas quantas linhas a força do romancista. O grande escritor,
revela-se às vezes numa frase. Por exemplo, esta saída do romance acima citado
que irei ler com interesse antecipado: “E fazemos isto tudo sozinhos. Onde é
que está toda a gente? Dentro do nosso peito e da nossa pele, o elenco
inteiro.”
- Eu bem me esforcei, mas cheguei à
conclusão que o esforço era vão. Falo do matagal que tomou por inteiro a
quinta. Andou, sábado, aí um homem a gradar a terra. No final, não tendo
gostado do trabalho, pediu-me menos 30 euros em relação ao preço combinado. Foi
o primeiro Caramelo honesto que conheci em quase 40 anos de vida aqui. Hoje
anda aí o Brejnev: recolha do resto da lenha, rachar os troncos maiores,
organizar o local para a proteger do inverno.
- O calor aperta, mas é ainda suave
deixando na pele o prazer da sua sensualidade. Todavia, quem me quiser
encontrar, pode-me procurar às sete da manhã regando o jardim e as árvores.
- Às vezes penso que perco imensa
gente boa e culta que me procura para “amigo” numa ou outra rede social. Nestes
últimos dias, dois professores universitários, um dirigente do PSD... Curioso
como sou, tento saber mais e logo esbarro na patetice destes encontros onde vejo
alguém que conheço de ginjeira a procurar companhia virtual que o prestigie. Ocorre-me
o ditado: diz-me com quem andas... Recolho à toca e roo a minha cenoura como
bicho estimado que sou.