Domingo, 1 de Julho.
Marília,
João, Guilherme vieram cá almoçar a casa. Montei a mesa lá fora, debaixo do
guarda-sol que na ocasião teve a função de guarda-chuva porque durante o
consenso gastronómico choveu para gáudio do Corregedor adorador de dias
pardacentos. Marília e João, pareciam o pai-natal a abarrotar de camarão,
vinhos e doces. No final, despachámos mais de duas horas em ameno e divertido
convívio, onde quase não se abordou
política, antes uma soma de temas uns mais pícaros que outros. Ficou, contudo,
por analisar a questão de João Corregedor que é também a minha porque nela
penso muitas vezes: que destino vai conhecer a democracia!
- Pelas cinco da tarde, rumámos no
carro do Guilherme que se parte ao meio para deixar entrar os passageiros que
se instalam na rectaguarda, a Quinta do Anjo. Na adega Venâncio ocorria a
vernissage de mais uma mostra da pintura de Sebastião Fortuna. Forma de falar.
Porque o Mestre, obcecado como é, não desiste de atrair às suas exposições o
Presidente da Câmara de forma a convencê-lo da utilidade em adquirir um monte
abandonado em Cabanas para refazer o projecto que perdeu há muito para a mesma
edilidade. Anda nisto há quase dez anos e não há ninguém que o convença que a
câmara não está voltada para a cultura. Evidentemente
o Presidente não compareceu.
- Regressámos apressados a casa. Eu
ignorava que João e Guilherme eram simpatizantes de futebol. Logo que nos
instalámos no salão, percebi que os dois amigos tinham pela frente um resto de
tarde sofredor. Portugal jogava contra o Uruguai. Eu para não fazer a desfeita
aos meus convidados, vi intermitentemente a partida, sempre advogando o final
da sarna que me obrigava coçar-me sem descanso. Tenho a impressão que foi a
primeira vez na minha vida que presenciei um jogo de futebol mais de cinco
minutos. Pelo que ia vendo, Portugal era inferior ao Uruguai. O “maior jogador
do mundo” estava reduzido a um peão de brega, o resto da camarilha mal se
aguentava nas canetas, aquilo metia dó. No final houve 2-1 a favor dos
uruguaios. Uma injustiça, gritarão nas próximas semanas os comentadores, os
portugueses, a imprensa e a televisão. E têm razão. A “selecção de todos nós”
merecia ganhar. Com um ou mais seleccionador em casa de cada português, o
Presidente da República arregimentando os sentimentos, não se percebe, é uma
autêntica injustiça, não pode ser, é bárbaro, que os “nossos jogadores”
tivessem deitado a perder tanto entusiasmo e conhecimento. Resta a consolação
de cá em casa ter havido um empate: Marília eu contra João e Guilherme. Ufa!
Aqueles pobre coitados, estafadinhos, coitadinhos, vão poder, enfim, partir
para as ilhas Maurícias a gozar quatro anos de merecidas férias, enquanto nós
descansamos de tanta overdose festivaleira. O Sporting que ocupe agora a cena. A
minha previsão (terça-feira, 26) cumpriu-se.
- José Manuel Tengarrinha faleceu
anteontem. Tinha 87 anos. Fomos colegas nos jornais e na Latina. Era um homem
discreto, apaixonado ma non troppo,
militante de esquerda, elegante e perturbadoramente snob que contradizia o seu
estatuto político. Comigo foi sempre impecável.
- Folgo com a eleição de António
Vitorino para a direcção das Nações Unidas para as Migrações (IMO). É o homem
ideal para ocupar o cargo nesta altura, tendo em conta as relações de Trump com
o resto do mundo dos aflitos. Ainda porque ele destronou, pela primeira vez, os
Estados Unidos do cargo.