domingo, julho 01, 2018

Domingo, 1 de Julho.
Marília, João, Guilherme vieram cá almoçar a casa. Montei a mesa lá fora, debaixo do guarda-sol que na ocasião teve a função de guarda-chuva porque durante o consenso gastronómico choveu para gáudio do Corregedor adorador de dias pardacentos. Marília e João, pareciam o pai-natal a abarrotar de camarão, vinhos e doces. No final, despachámos mais de duas horas em ameno e divertido convívio, onde quase não se  abordou política, antes uma soma de temas uns mais pícaros que outros. Ficou, contudo, por analisar a questão de João Corregedor que é também a minha porque nela penso muitas vezes: que destino vai conhecer a democracia!

         - Pelas cinco da tarde, rumámos no carro do Guilherme que se parte ao meio para deixar entrar os passageiros que se instalam na rectaguarda, a Quinta do Anjo. Na adega Venâncio ocorria a vernissage de mais uma mostra da pintura de Sebastião Fortuna. Forma de falar. Porque o Mestre, obcecado como é, não desiste de atrair às suas exposições o Presidente da Câmara de forma a convencê-lo da utilidade em adquirir um monte abandonado em Cabanas para refazer o projecto que perdeu há muito para a mesma edilidade. Anda nisto há quase dez anos e não há ninguém que o convença que a câmara não está voltada para a cultura.  Evidentemente o Presidente não compareceu.   

         - Regressámos apressados a casa. Eu ignorava que João e Guilherme eram simpatizantes de futebol. Logo que nos instalámos no salão, percebi que os dois amigos tinham pela frente um resto de tarde sofredor. Portugal jogava contra o Uruguai. Eu para não fazer a desfeita aos meus convidados, vi intermitentemente a partida, sempre advogando o final da sarna que me obrigava coçar-me sem descanso. Tenho a impressão que foi a primeira vez na minha vida que presenciei um jogo de futebol mais de cinco minutos. Pelo que ia vendo, Portugal era inferior ao Uruguai. O “maior jogador do mundo” estava reduzido a um peão de brega, o resto da camarilha mal se aguentava nas canetas, aquilo metia dó. No final houve 2-1 a favor dos uruguaios. Uma injustiça, gritarão nas próximas semanas os comentadores, os portugueses, a imprensa e a televisão. E têm razão. A “selecção de todos nós” merecia ganhar. Com um ou mais seleccionador em casa de cada português, o Presidente da República arregimentando os sentimentos, não se percebe, é uma autêntica injustiça, não pode ser, é bárbaro, que os “nossos jogadores” tivessem deitado a perder tanto entusiasmo e conhecimento. Resta a consolação de cá em casa ter havido um empate: Marília eu contra João e Guilherme. Ufa! Aqueles pobre coitados, estafadinhos, coitadinhos, vão poder, enfim, partir para as ilhas Maurícias a gozar quatro anos de merecidas férias, enquanto nós descansamos de tanta overdose festivaleira. O Sporting que ocupe agora a cena. A minha previsão (terça-feira, 26) cumpriu-se.

         - José Manuel Tengarrinha faleceu anteontem. Tinha 87 anos. Fomos colegas nos jornais e na Latina. Era um homem discreto, apaixonado ma non troppo, militante de esquerda, elegante e perturbadoramente snob que contradizia o seu estatuto político. Comigo foi sempre impecável.


         - Folgo com a eleição de António Vitorino para a direcção das Nações Unidas para as Migrações (IMO). É o homem ideal para ocupar o cargo nesta altura, tendo em conta as relações de Trump com o resto do mundo dos aflitos. Ainda porque ele destronou, pela primeira vez, os Estados Unidos do cargo.