sábado, julho 21, 2018

Sábado, 21.
Ontem estando à conversa com os ininterruptos na Brasileira, entrou o Manuel Augusto, funcionário para a cultura na Câmara de Setúbal, com uma excelente novidade: a edilidade decidiu atribuir a Vergílio Domingues a medalha da cidade. Pedi-lhe que desse imediatamente a notícia ao visado. À noite telefonei ao Vergílio a felicitá-lo. Longa conversa, encontrando-o eu praticamente restabelecido dos males por que passou.

          - Um pouco mais tarde, no Príncipe, longa e interessante conversa com o grande Mário. O início, contudo, desastroso devido a um colega seu que eu não conhecia e almoçava com ele. Seguiu-se uma discussão sobre leis e Direito com o nosso desconhecido causídico. Os meus leitores sabem o que penso dos advogados e das leis nacionais. Bom. A dada altura o simpático homem, atira:  “Não queira saber mais de Direito que eu que sou advogado.” Esta parábola à monsieur de La Palice é típica de um género para o qual não tenho nem quero ter resposta, porque a convicção encerra em si tudo o que eu poderia adiantar. Lembra-me o outro: “Nunca me engano e raramente tenho dúvidas.”  De facto, os advogados estão formatados para o precipício das certezas e conseguem esta coisa milagrosa: transformam assassinos e corruptos em homens imaculados e honrados. Pena que só consigam o milagre com os ricos...
        

         Mas falemos do maravilhoso Mário e da tarde que se prolongou muito para lá do horário de fecho do restaurante. Estivemos à conversa até à meia tarde, as portas do estabelecimento fechadas, os empregados apressados à nossa roda, rumo aos seus destinos de férias, a tertúlia encerrada por um mês. Falámos de livros, de pessoas do nosso convívio, de cenas canalhas, de coisas felizes e infelizes, conversa que se pode ter com ele, porque o Mário compreende, escuta e rebate sempre com um sorriso acolhedor, na base da qual está decerto os seus anos de seminário. Anda a ler Paul Auster. Eu torci o nariz e logo ele quis saber a razão. Expliquei, ele compreendeu. Depois perguntou-me que autores (americanos de preferência) lhe podia eu aconselhar. Falei de vários, e ele, moderno, pesquisava no smartphone, assinalando com uma cruz os títulos. Não percebi e não quis perguntar a razão por escritores norte-americanos. Percebi que Nova Iorque tinha um encanto especial na sua vida. Falámos demoradamente de literatura light como eu considero a que faz Auster. Ele contra-assinalava que esse tipo de livros lhe preenchiam os momentos de lazer. Eu dizia que não preciso de encher os meus perdendo o meu precioso tempo com coisas e coisinhas ligeiras que não me trazem nada, antes me assomam na indignação das árvores que é necessário abater.