Quinta,
19.
Ontem
desci o Chiado com a Teresa Magalhães e o João Corregedor. Antes, na
Brasileira, conversa intercalada com dose homeopática de política. Mais uma vez
não estive de acordo com o nosso amigo e não me encolho de discordar e
argumentar, apesar da dificuldade em o fazer parar de contender. Falou-se das
célebres taxas da eléctrica chinesa. Todos andam a sugar na “vaca leiteira”
como lhe chamou o que é suspeito de ganhar de dois senhores fortunas fabulosas
quando esteve no governo Sócrates. O que não nos dizem com suficiente
sonoridade, é que o principal larápio ou salteador, é o Estado. Aqui como por
todo o lado, com particular avidez no IMI.
- Um sonho estranho. Por duas vezes
acordei murmurando: “É à miséria que retornámos.” Parecia o título de um livro
que eu escrevia enquanto dormia. À segunda vez que soletrei a frase, anotei-a no bloco que tenho
à cabeceira. De seguida mergulhei num sono profundo para acordar às sete da manhã.
- Morreu o meu saudoso amigo Fernando
Fernandes. A ele devo todos os trabalhos de carpintaria, soalhos, tratamento da
madeira. Era um grande artista que, apesar do seu problema de saúde grave, fez
um trabalho notável que perdura sem um desajuste após vinte anos e causa admiração
a todos quantos aqui vêm. Que ano este! Tantas ausências luminosas nesta terra húmida
da ganância e da efemeridade de tudo o que aqui se ergue. Há três dias também
nos deixou João Semedo, outro homem honrado que nos abriu caminho com lucidez e
um sorriso reservado no assomo encantador da sua existência.
- Ontem, na fnac do Chiado,
reuniram-se três ex-jornalistas. Forma de falar. Em verdade quem molhou o bico
naquela loucura de trabalho, jamais deixa de o ser. Conversa franca e solta,
sobre uma actividade que alguns apontam como estando a expirar. X do semanário Expresso
por quem se tem logo uma empatia que não apetece desgrudar, estava de acordo
comigo quando referi o muito que detesto no jornalismo dos nossos dias. Discordámos
quanto a uma personagem de Aveiro que ele acha muito inteligente e o João diz
que apesar de direita “nos obriga a pensar”, mas que a mim não me engana no
furor da palavra vadia que costuma exibir.
- Acho que se calhar tem mais sentido ser
(-se) honesto, defender interesses de transparência e de integridade que às
vezes não têm a ver com ser (-se) de esquerda ou direita. Há gente de esquerda
que não tem princípios de integridade e transparência e há gente de direita que
tem.” Maria José Morgado ao Público. Assino por baixo.