Terça, 1 de Maio.
Ontem encontrei um amigo de longa data
por acaso. Estava sentado a uma mesa de café, com um saco de gelo na bochecha,
ausente. Abanquei a seu lado e o desabafo veio de pronto. Tinha entrado no
consultório de luxo do médico dos príncipes e das princesas Malo pelas onze
horas e só saíra às quatro da tarde. Perguntei-lhe se tinha feito implantes? Apenas
havia extraído um dente do siso que impôs fosse feito pelo mestre. O ano
passado, sim, tinha feito um implante e pagara 2500 euros!! Pela “operação” de
hoje, desembolsou 1500 euros! “Cruzes!” exclamei eu como se me roubassem a
carteira. O principal veio então: desde as onze da manhã vivera uma espécie de mise en scène que justificasse o
montante. Longa espera, a extracção dez quinze minutos, de seguida veio o “recobro”
com direito a uma sopinha e um refrigerante. “Mas tiveste alguma hemorragia? - Não.
Aquilo foi tudo muito rápido. – Havia, claro, muita gente – insisti eu. - Na
grande sala de espera umas quatro pessoas.” O espectáculo acabou, a cortina
vermelha desceu, na sala não se ouviram palmas.
- Arons de Carvalho, mandatário da candidatura de António Costa, um dos
fundadores do PS, saiu-se com esta máxima partidária de excelente qualidade
moral que deverá ser seguida pelo rebanho socialista: “Não acho que seja
reprovável uma pessoa viver com dinheiro emprestado de outra. Não é por isso
que as coisas estão erradas.” Referia-se aos milhões “emprestados” por Carlos Santos
Silva da empresa Lena a José Sócrates. Emouqueceram ou passaram-se dos carris?
- Posso estar desmoralizado, chegar de Lisboa constrangido, entrando
aqui e olhando as laranjeiras em flor, o perfume que paira em torno da casa, as
papoilas vermelhas dançando ao vento, logo a minha mente se queda agradecida e
sinto a segurança, a serenidade, a paz que reconforta o espírito e traz ao
solitário a alegria da esperança.