quarta-feira, maio 23, 2018

Quarta, 23.
 Longas horas em suspensão a ler de Tertuliano, Apologético. Infelizmente, esbarro com frequência no português do tradutor José Carlos de Miranda, e sou automaticamente levado a comparar com a tradução da Bíblia por Frederico Lourenço, onde o português é escorreito e limpo de compreensão. Acresce que as notas de rodapé dão ao leitor um cansaço imenso devido ao corpo reduzido da letra. Os editores de tanto quererem economizar, acabam por perder leitores, para não falar na falta de respeito por eles.

         - Fiz aquilo que já executei uma série de vezes: com o corta relva a trabalhar tentei retirar a erva armazenada na roda cortante de forma a aliviar a força ao empurrar a máquina. Desta vez, porém, fui apanhado pela lâmina e um corte num dedo, com sangramento abundante e um senhor inchaço. A princípio, devido à dor insuportável, pensei que tinha deixado nas folhas de corte parte do dedo. Felizmente foi apenas a unha e um golpe. Nada que o gelo não tivesse aliviado. E o trabalho prosseguiu tendo eu terminado o relvado do lado sul da casa.

         - Annie telefonou. Recém-chegada do Vietname, no meio de uma tempestade de granizo que imobilizou Paris, quis contar-me o que viu e como decorreu a viagem. À despedida: “este ano arranja-te para ficares mais tempo que o ano passado. Oui, chef.” (O léxico francês como também o português, não admite o neologismo “chefa” que é uma aberração e eu ouço com frequência aos nossos queridos palradores na TV.)

         - No país maravilhoso, rico e cumpridor do défice e das ordens de Bruxelas do Mágico, os hospitais de Norte a Sul, incluindo o Instituo de Oncologia de Lisboa, falam em falta de meios e na recusa em atender novos doentes. Uma pergunta inocente: se isto se passa num país próspero e socialista, como seria se fosse no período de governação de Pedro Passos Coelho?


         - Verifico que à medida que a idade avança, esta noite e de quando em quando, vou tendo chonas de saudade do sono seguido de sete horas que toda a minha vida me acompanhou. Com uma diferença estranha: não sei se durmo se sonho que estou acordado. Isto porque não sofro da noite clara, nem acordo no dia seguinte cansado. Mistério. Dito isto, se assim continua, vou ter que comprar aquele medicamento que o Tó uma vez me receitou, tão cómico e tenebroso, que se o tomava no salão ia de gatas, escada acima para o quatro e aí chegado tinha de me segurar ao respaldo da cama para não cair inanimado no chão... com tremenda soneira.