Quarta,
23.
Longas horas em suspensão a ler de Tertuliano,
Apologético. Infelizmente, esbarro
com frequência no português do tradutor José Carlos de Miranda, e sou
automaticamente levado a comparar com a tradução da Bíblia por Frederico
Lourenço, onde o português é escorreito e limpo de compreensão. Acresce que as
notas de rodapé dão ao leitor um cansaço imenso devido ao corpo reduzido da
letra. Os editores de tanto quererem economizar, acabam por perder leitores,
para não falar na falta de respeito por eles.
- Fiz aquilo que já executei uma série
de vezes: com o corta relva a trabalhar tentei retirar a erva armazenada na
roda cortante de forma a aliviar a força ao empurrar a máquina. Desta vez,
porém, fui apanhado pela lâmina e um corte num dedo, com sangramento abundante
e um senhor inchaço. A princípio, devido à dor insuportável, pensei que tinha
deixado nas folhas de corte parte do dedo. Felizmente foi apenas a unha e um
golpe. Nada que o gelo não tivesse aliviado. E o trabalho prosseguiu tendo eu
terminado o relvado do lado sul da casa.
- Annie telefonou. Recém-chegada do
Vietname, no meio de uma tempestade de granizo que imobilizou Paris, quis
contar-me o que viu e como decorreu a viagem. À despedida: “este ano arranja-te
para ficares mais tempo que o ano passado. Oui, chef.” (O léxico francês como
também o português, não admite o neologismo “chefa” que é uma aberração e eu
ouço com frequência aos nossos queridos palradores na TV.)
- No país maravilhoso, rico e cumpridor
do défice e das ordens de Bruxelas do Mágico, os hospitais de Norte a Sul,
incluindo o Instituo de Oncologia de Lisboa, falam em falta de meios e na
recusa em atender novos doentes. Uma pergunta inocente: se isto se passa num
país próspero e socialista, como seria se fosse no período de governação de
Pedro Passos Coelho?
- Verifico que à medida que a idade
avança, esta noite e de quando em quando, vou tendo chonas de saudade do sono
seguido de sete horas que toda a minha vida me acompanhou. Com uma diferença
estranha: não sei se durmo se sonho que estou acordado. Isto porque não sofro
da noite clara, nem acordo no dia seguinte cansado. Mistério. Dito isto, se assim
continua, vou ter que comprar aquele medicamento que o Tó uma vez me receitou,
tão cómico e tenebroso, que se o tomava no salão ia de gatas, escada acima para
o quatro e aí chegado tinha de me segurar ao respaldo da cama para não cair
inanimado no chão... com tremenda soneira.