quinta-feira, maio 10, 2018

Quinta, 10.
Estamos nisto. Ninguém se entende num sector que dá muito dinheiro a ganhar a demasiada gente: o dos incêndios. A um mês das aflições que tanta tragédia trouxeram ao país com mais de cem mortos, imensos prejuízos, pessoas reduzidas a nada, a procissão de políticos lavados em lágrimas de crocodilo a desfilar nos ecrãs de televisão, tudo parece querer repetir-se porque nada está consistentemente organizado para o evitar. Marcelo – e com razão – diz que não se torna a candidatar se a calamidade se voltar a repetir. Quer ele dizer que assume para si o fracasso do seu mandato. O Governo, pela voz do seu Primeiro-Ministro, afirma que seja qual for a desgraça e a sua dimensão, não se demite. Duas posições que expõem à clarividência quem está agarrado ao poder.

         - A política chegou a um tal estado de degradação que não sabemos quem fala verdade e quem mente. Trump rasgou mais um acordo, desta vez com o Irão, invocando que o país dos ayatollah  não está a cumprir com o abandono das armas nucleares. Alguns falam numa guerra iminente. O facto é que, quem primeiro alertou para o assunto, foi Israel. Os israelitas costumam possuir uma polícia secreta eficiente.

         - Vou repetir aquilo que costumo dizer todos os anos: chego nestes dias de calor e muito trabalho no campo às dez da manhã com a sensação de que o dia terminou para mim. Tudo se inverte: o melhor período habitualmente consagrado à escrita, passa para a tarde, enquanto as horas plenas são abastecidas dos trabalhos lá fora que parecem não findar nunca. Às dez estou esgotado, tendo começado as sete.

         - Ontem ao fim da tarde fui ao Palácio da Independência para estar com o Vítor no lançamento do seu livro História da União de Portugal à Coroa de Castela com a chancela da Althum. Um trabalho notável apresentado por outros dois notáveis professores: António Dias Farinha e Martim de Albuquerque. Sobretudo o primeiro que sem se perder, durante perto de uma hora, de improviso, falou do que nos levou a Alcácer Quibir. Suponho que foi Dias Farinha quem disse que o livro de Conestaggio devia passar a designar-se Jeronimo de Franchi Conestaggio-Vítor Amaral de Oliveira. De facto, a tradução, a introdução e as notas de rodapé, pelo pouco que observei, são de uma erudição e pesquisa surpreendentes. É a primeira vez que o livro de Conestaggio é traduzido para português (escrito no século XVI) e o meu amigo introduz nele uma série de observações históricas que anulam muito do que nos habituaram a ter por certas. Um se não apenas. O corpo do texto demasiado pequeno e as notas a precisarem de lupa. Manifestei este desagrado ao editor, mas ele respondeu-me que se assim não fosse a obra atingiria para cima de 800 páginas. Talvez. Apesar dos apoios da Católica onde o Vítor foi professor e da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia! É por esta e por muitas outras, que eu no contrato exijo ter opinião na concepção do livro.


         - Tornei, tarde, na noite. Vim na última pazada dos infelizes que dormem neste “deserto” maravilhoso. Fazia tanto vento e frio, que tive de me recolher no interior da estação de Sete Rios ou seria Jardim Zoológico? Estava em camisa como se estivéssemos em pleno verão. Que foi o que havíamos tido neste derradeiros dias, toda a gente pensando que definitivamente. O edredão voltou a cobrir-me.