Quinta, 10.
Estamos nisto. Ninguém se entende num sector que dá
muito dinheiro a ganhar a demasiada gente: o dos incêndios. A um mês das
aflições que tanta tragédia trouxeram ao país com mais de cem mortos, imensos
prejuízos, pessoas reduzidas a nada, a procissão de políticos lavados em lágrimas
de crocodilo a desfilar nos ecrãs de televisão, tudo parece querer repetir-se
porque nada está consistentemente organizado para o evitar. Marcelo – e com
razão – diz que não se torna a candidatar se a calamidade se voltar a repetir.
Quer ele dizer que assume para si o fracasso do seu mandato. O Governo, pela
voz do seu Primeiro-Ministro, afirma que seja qual for a desgraça e a sua
dimensão, não se demite. Duas posições que expõem à clarividência quem está
agarrado ao poder.
- A
política chegou a um tal estado de degradação que não sabemos quem fala verdade
e quem mente. Trump rasgou mais um acordo, desta vez com o Irão, invocando que
o país dos ayatollah não está a cumprir
com o abandono das armas nucleares. Alguns falam numa guerra iminente. O facto
é que, quem primeiro alertou para o assunto, foi Israel. Os israelitas costumam
possuir uma polícia secreta eficiente.
- Vou
repetir aquilo que costumo dizer todos os anos: chego nestes dias de calor e
muito trabalho no campo às dez da manhã com a sensação de que o dia terminou
para mim. Tudo se inverte: o melhor período habitualmente consagrado à escrita,
passa para a tarde, enquanto as horas plenas são abastecidas dos trabalhos lá
fora que parecem não findar nunca. Às dez estou esgotado, tendo começado as
sete.
- Ontem
ao fim da tarde fui ao Palácio da Independência para estar com o Vítor no
lançamento do seu livro História da União
de Portugal à Coroa de Castela com a chancela da Althum. Um trabalho notável apresentado por outros dois notáveis
professores: António Dias Farinha e Martim de Albuquerque. Sobretudo o primeiro
que sem se perder, durante perto de uma hora, de improviso, falou do que nos
levou a Alcácer Quibir. Suponho que foi Dias Farinha quem disse que o livro de Conestaggio
devia passar a designar-se Jeronimo de Franchi Conestaggio-Vítor Amaral de
Oliveira. De facto, a tradução, a introdução e as notas de rodapé, pelo pouco
que observei, são de uma erudição e pesquisa surpreendentes. É a primeira vez
que o livro de Conestaggio é traduzido para português (escrito no século XVI) e
o meu amigo introduz nele uma série de observações históricas que anulam muito
do que nos habituaram a ter por certas. Um se não apenas. O corpo do texto
demasiado pequeno e as notas a precisarem de lupa. Manifestei este desagrado ao
editor, mas ele respondeu-me que se assim não fosse a obra atingiria para cima
de 800 páginas. Talvez. Apesar dos apoios da Católica onde o Vítor foi
professor e da FCT – Fundação para a Ciência e a Tecnologia! É por esta e por
muitas outras, que eu no contrato exijo ter opinião na concepção do livro.
-
Tornei, tarde, na noite. Vim na última pazada dos infelizes que dormem neste
“deserto” maravilhoso. Fazia tanto vento e frio, que tive de me recolher no
interior da estação de Sete Rios ou seria Jardim Zoológico? Estava em camisa
como se estivéssemos em pleno verão. Que foi o que havíamos tido neste
derradeiros dias, toda a gente pensando que definitivamente. O edredão voltou a
cobrir-me.