sexta-feira, maio 18, 2018

Sexta, 18.
É impossível escapar à praga do futebol. Umas vezes por bons motivos, outras pelas piores razões. Assim, esta manhã, na Brasileira, João, António Carmo e eu falámos em excesso dos energúmenos que atacaram a Academia do Sporting, em Alcochete. João Corregedor, diz que a acção foi perpetrada pela direita que anda a fazer coisas semelhantes por essa Europa fora. Não chego a tanto. O que eu vejo é o assalto à cadeira do poder ocupada pelo actual homem forte do clube. Perfilam já cuidadosa e humildemente, pois então, os três cavaleiros andantes da honestidade, do desprezo pelo dinheiro e as honrarias: o bombeiro, perdão, “o senhor 10 por cento”, o banqueiro e o advogado dos humildes e injustiçados. Tudo muito bem orquestrado entre eles. Espero que Bruno de Carvalho, apesar de ser quem é e como é, consiga os votos de confiança do povo sportinguista. Quanto ao mais, é para mim líquido que os pobres jogadores querem ficar multimilionários e vão aproveitar as circunstâncias para embolsar a indemnização e com ela no dia seguinte estarem contractados por mais uns trocos num qualquer clube estrangeiro. É da natureza daquela gentinha.

         - Ontem vieram aí o Virgílio e o Guilherme. Tinham uma reunião com a Presidente da Câmara de Setúbal para exporem o desagrado do escultor ao rumo da sua obra à responsabilidade do museu da cidade. Saíram fascinados pela senhora. Bom. Eu se fosse a eles, seria mais prudentes. Disse-lhes: “Não embandeirem em arco. Eu tenho muito pouca confiança nos autarcas. Eles aprenderam todos as técnicas do cinismo e da mentira.”


         - No comboio que me trouxe a casa, sentados perto de mim, um pedreiro, uma respeitável senhora de 83 anos e um homem “mudo”. A passageira fazia crochet, o trolha tossia, o mudo estava ausente. A dada altura, a senhora inquieta-se com a persistente tosse do operário. Este sossega-a dizendo-lhe que aquilo era do cimento, colas, tintas a que estava sujeito todos os dias nas obras. A partir daí entro na conversa e digo da minha admiração pelo trabalho da passageira. Esta diz-nos que trabalha num guardanapo, toalha e babete para uma organização de ajuda aos mais necessitados. O rapaz admirara-se: “Está a ver! Hoje é raro ver-se alguém a fazer esse trabalho e ainda por cima para ajudar os outros. O que se vê é as pessoas com o telemóvel que substituiu isso que a senhora faz. Ele substituiu aquilo que a senhora faz.” Eu respondo: “E você também é especial. Quantos operários da construção têm essa observação.” Riu-se. Rimo-nos os três. O mudo só partilhou a sua indiferença.