sexta-feira, maio 25, 2018

Sexta, 25.
A atracção pelo dinheiro parece-me ser mais violenta à esquerda do que à direita. Até o líder de rabo de cavalo do Podemos, uma vez embalado nos projectos de esquerda, logo encontrou as delícias de uma mansão no campo por 600 mil euros. Ele e a querida companheira, benignos de causas populares e dos mais pobres, até aqui membros de topo do terceiro maior partido de esquerda de Espanha, estão agora sob o fogo cruzado daqueles que nele votaram convencidos que Pablo Iglesias fosse diferente dos outros que ele um dia, da tribuna partidária, perguntara: “Entregarias a política económica do país a quem gasta 600 mil euros num apartamento de luxo?” A revolta dos cá de baixo foi tal, que eles, ambos parlamentares, puseram o lugar a votos para saber se o povo que os elegeu quer continuar a ter um “burguês” a defendê-lo no Parlamento. O povão é sempre ingrato e nem se dá conta que pagar 600 mil lecas por uma casa no campo, é diferente de desembolsar o mesmo montante num apartamento de luxo na cidade... “Ganda” invejosos!

         - Por este andar o partido que criou o SNS vai ser o seu coveiro.

         - Vi com interesse o programa da RTP1 de homenagem a Eduardo Lourenço. A realização é meritória, pese embora o som que é miserável. Sobretudo quando nos não permite ouvir o que diz o filósofo. Este, ancião, como todos os velhos, possui um registo vocal menos audível, os agudos e os graves parecem desencontrarem-se e o conjunto surge-nos um pouco entaramelado, o que é natural num homem de 90 anos. Agora o que eu acho é que neste género de projectos, nunca temos o contraditório. É tudo muito simpático, muito reverencial, muito alinhado com o convidado, pondo-o com todas as razões, teorias e futurologias do seu lado. Se ele se limitasse a narrar a sua vida, tudo bem. Mas quando, como pensador, nos explica o passado e o futuro do país, a história e os seus agentes, aí discordo em muito do que ele disse. E no entanto, pelo que me apercebi quando com ele estive uma noite – com ele e com Vergílio Ferreira – na nossa embaixada de Portugal, em Paris, Eduardo Lourenço não tem nada do intelectual convencido da verdade única. Eanes, Jorge Sampaio e alguns mais, aparecem como fantasmas, enquanto deviam ser os perguntadores, os argumentadores, os que tendo passado pelo poder têm coisas a dizer-nos.


          - Ana Gomes a propósito do processo Manuel Vicente à agência Lusa: “É de uma hipocrisia serem utilizados este tipo de argumentos para justificar uma decisão que é uma tremenda demissão da justiça portuguesa e uma tremenda derrota da Justiça.” Quem fala assim... é livre e pensa pela sua própria cabeça. Temos muito pouca gente deste quilate.