Sexta,
25.
A
atracção pelo dinheiro parece-me ser mais violenta à esquerda do que à direita.
Até o líder de rabo de cavalo do Podemos, uma vez embalado nos projectos de
esquerda, logo encontrou as delícias de uma mansão no campo por 600 mil euros. Ele
e a querida companheira, benignos de causas populares e dos mais pobres, até
aqui membros de topo do terceiro maior partido de esquerda de Espanha, estão
agora sob o fogo cruzado daqueles que nele votaram convencidos que Pablo
Iglesias fosse diferente dos outros que ele um dia, da tribuna partidária,
perguntara: “Entregarias a política económica do país a quem gasta 600 mil
euros num apartamento de luxo?” A revolta dos cá de baixo foi tal, que eles,
ambos parlamentares, puseram o lugar a votos para saber se o povo que os elegeu
quer continuar a ter um “burguês” a defendê-lo no Parlamento. O povão é sempre
ingrato e nem se dá conta que pagar 600 mil lecas por uma casa no campo, é
diferente de desembolsar o mesmo montante num apartamento de luxo na cidade...
“Ganda” invejosos!
- Por este andar o partido que criou o
SNS vai ser o seu coveiro.
- Vi com interesse o programa da RTP1
de homenagem a Eduardo Lourenço. A realização é meritória, pese embora o som
que é miserável. Sobretudo quando nos não permite ouvir o que diz o filósofo.
Este, ancião, como todos os velhos, possui um registo vocal menos audível, os agudos
e os graves parecem desencontrarem-se e o conjunto surge-nos um pouco
entaramelado, o que é natural num homem de 90 anos. Agora o que eu acho é que
neste género de projectos, nunca temos o contraditório. É tudo muito simpático,
muito reverencial, muito alinhado com o convidado, pondo-o com todas as razões,
teorias e futurologias do seu lado. Se ele se limitasse a narrar a sua vida,
tudo bem. Mas quando, como pensador, nos explica o passado e o futuro do país, a
história e os seus agentes, aí discordo em muito do que ele disse. E no entanto,
pelo que me apercebi quando com ele estive uma noite – com ele e com Vergílio
Ferreira – na nossa embaixada de Portugal, em Paris, Eduardo Lourenço não tem
nada do intelectual convencido da verdade única. Eanes, Jorge Sampaio e alguns
mais, aparecem como fantasmas, enquanto deviam ser os perguntadores, os
argumentadores, os que tendo passado pelo poder têm coisas a dizer-nos.
- Ana Gomes a propósito do processo
Manuel Vicente à agência Lusa: “É
de uma hipocrisia serem utilizados este tipo de argumentos para justificar uma
decisão que é uma tremenda demissão da justiça portuguesa e uma tremenda
derrota da Justiça.” Quem fala assim... é livre e pensa pela sua própria
cabeça. Temos muito pouca gente deste quilate.