segunda-feira, maio 21, 2018

Segunda, 21.
A semana passada, armado em valdevinos, pouco estive com as minhas personagens. Todavia, não houve um único dia que não tivesse pensado em Flávio Jardim, Lúcia, Rui Gonçalves, Pimentel da Gaia, o grupo das maduras Fifi, Lalá, Loló e tantos outras. Ontem voltei ao seu encontro e foi como se eu próprio me tivesse revelado a mim mesmo na surpresa do impacto. Ao abrir a página um coro de vozes e sentimentos saudou-me e juntos prosseguimos a viagem iniciada há ano e meio. Dito isto, é muito árduo ter ideias todos os dias.

         - Fiquei ao lado do deputado do PCP, um viúvo moderno todo de negro vestido, mais exactamente do seu lado esquerdo, aquele que tem estampado em todo o braço um tapete chinês daqueles que os lares humildes costumam ter aos pés da cama. Que chique, camada!

         - Um fatídico acidente com um boeing 737 pouco tempo depois de ter levantado voo de Havana, matou 110 passageiros, sobreviveram três que estão em estado crítico. Como sempre só as chamadas “caixas negras” poderão ajudar a descobrir o que esteve na origem da tragédia.

         - A praga do futebol absorve tudo e todos. A tal ponto que ontem o Público era quase só dedicado à patetice dos seus intervenientes. Conclusão: não o comprei. Até a nossa querida UE deixou de nos sarnar, para não falar nas desgraças do mundo que são portanto a menina de ouro do nosso jornalismo. Este está em uníssono com a saída do presidente do Sporting, exercendo um jornalismo medíocre, alinhado com os patrões, de uma razia crítica insuportável. Todavia, nem tudo é mau. As desgraças que aconteceram em Alcochete, vieram pôr uma vez mais a nu a conivência entre política e futebol. O Presidente da Assembleia da República já nos habituou às suas resmunguices e todos sabemos quem ele é. Onde há futebol há política, onde há política e futebol, há corrupção e milhões a correr. Uns e outros adoram o povo e detestam os cidadãos. O quadro presente, resume-se em  sete cães a um osso. E no entanto, se tivessem lido Lúcio Aneu Séneca, saberiam que “o que é suficiente nunca é pouco, tal como nunca é muito o que é insuficiente”. Cartas a Lucílio, pp. 666-667, Gulbenkian.


         - Ontem assisti um bom bocado ao programa Got Talent. Vi com satisfação quantos verdadeiros talentos existem por esse país fora. As aptidões reais vão ter dificuldade em ocupar os palcos a abarrotar de mediocridades. Eles provam que Portugal não é só futebol. Algumas das miúdas e miúdos, com 12 anos apenas, trabalham oito horas por dia, enquanto as alimárias vivem do expediente cínico do diz- bem-de-mim-para-eu-fazer-o-mesmo-de-ti. Portugal tem imensas ilhas por descobrir. Antes porém, tem de correr com as múmias instaladas. (Já agora digo o mesmo para a política.)