Segunda,
28.
Conversa
com a Maria José no seu atelier. Ela acaba de terminar o busto de D. Manuel
Martins, bispo de Setúbal, falecido o ano passado. Obra notável de perfeição
onde todos os pormenores de uma personalidade ímpar estão salientados: no
brilho do olhar, na expressão doce, na composição clerical. Espero que passada
a bronze, fique o testemunho não só do pastor de Deus, como da artista que se
empenhou por vezes até às primeiras horas do dia. A diocese de Setúbal vai
ficar com um maravilhoso registo humano do seu guia espiritual.
- À medida que avanço nos estudos de
um mundo abalado pela doutrina de Jesus, naquela concavidade entre a
Antiguidade e a nossa Era, pelo menos até aos séculos III e IV, imagino o abalo
social, religioso, com toda a sorte de implicações políticas, hábitos de vida
familiares, comunitários, tradições culturais milenares, povos primitivos de
súbito confrontados com a mensagem que ia em contraciclo com tudo o que até ali
havia existido de bárbaro e hediondo, onde a vida humana não tinha a importância
que Jesus Cristo veio a conferir-lhe. O mundo grego e romano, ambos
apropriando-se um do outro, religiões pagãs e a guerra sempre como actividade
visceral (o que Antigo Testamento integralmente faz prova), os senhores todo
poderosos apeados do seu poder e arrogância, a ascensão dos povos pobres e
humildes tomando a preferência de uma religião que parecia ter sido concebida
para eles, insignificantes escravos nascidos para satisfazer os senhores de
quem eram sua propriedade exclusiva. Habituados a idolatrar deuses
sanguinários, a eles ofereciam-lhes os recém-nascidos, os velhos, comiam os
seus corpos, bebiam o seu sangue, em cultos religiosos que os Apóstolos e Doutores
da Igreja levaram séculos a alterar. Mas o mais inesperado da mensagem de Jesus
Cristo, foi pôr-nos a todos ao mesmo nível, apeando dos seus pedestais os reis
sanguinários, os governantes corruptos, os ricos e poderosos. A sua filosofia
está assente no Amor e no perdão – diametralmente oposta a todas as filosofias
terrenas então como hoje. O que padeceram os primeiros cristãos é inenarrável:
mortes, prisões, deportações, perseguições às ordens de Nero, Domiciano, depois
Cómodo, e até Marco Aurélio não escapa a diversas e terríveis perseguições,
sendo a mais violenta a que vitimou a igreja de Lião, em 177. O imperador
Adriano, por jurisprudência, condenou os delatores dos cristãos, mas foi no
principado de Septímio Severo que os cristãos adquiriram peso social. Alexandre
Severo ao edificar um templo a Cristo reconheceu oficialmente o cristianismo
embora Jesus figurasse entre outros deuses. Filipe o Árabe, foi chamado o
primeiro imperador cristão. Mas o catolicismo não ficaria por muito tempo.
Décio restauraria o paganismo anterior. Estávamos em 250. De seguida veio o
imperador Valeriano que foi de uma violência inimaginável, inclusive matou o
Papa Sixto II. Seguiu-se Diocleciano que mandou incendiar igrejas, destruir
livros sagrados, acossar os cristãos que iam já em metade da população romana. O
grande Império Romano chega ao fim por volta de 476 dC.
- Actividade variada: roçar mato,
regar, piscina, leitura, escrita.