terça-feira, maio 29, 2018

Segunda, 28.
Conversa com a Maria José no seu atelier. Ela acaba de terminar o busto de D. Manuel Martins, bispo de Setúbal, falecido o ano passado. Obra notável de perfeição onde todos os pormenores de uma personalidade ímpar estão salientados: no brilho do olhar, na expressão doce, na composição clerical. Espero que passada a bronze, fique o testemunho não só do pastor de Deus, como da artista que se empenhou por vezes até às primeiras horas do dia. A diocese de Setúbal vai ficar com um maravilhoso registo humano do seu guia espiritual.

         - À medida que avanço nos estudos de um mundo abalado pela doutrina de Jesus, naquela concavidade entre a Antiguidade e a nossa Era, pelo menos até aos séculos III e IV, imagino o abalo social, religioso, com toda a sorte de implicações políticas, hábitos de vida familiares, comunitários, tradições culturais milenares, povos primitivos de súbito confrontados com a mensagem que ia em contraciclo com tudo o que até ali havia existido de bárbaro e hediondo, onde a vida humana não tinha a importância que Jesus Cristo veio a conferir-lhe. O mundo grego e romano, ambos apropriando-se um do outro, religiões pagãs e a guerra sempre como actividade visceral (o que Antigo Testamento integralmente faz prova), os senhores todo poderosos apeados do seu poder e arrogância, a ascensão dos povos pobres e humildes tomando a preferência de uma religião que parecia ter sido concebida para eles, insignificantes escravos nascidos para satisfazer os senhores de quem eram sua propriedade exclusiva. Habituados a idolatrar deuses sanguinários, a eles ofereciam-lhes os recém-nascidos, os velhos, comiam os seus corpos, bebiam o seu sangue, em cultos religiosos que os Apóstolos e Doutores da Igreja levaram séculos a alterar. Mas o mais inesperado da mensagem de Jesus Cristo, foi pôr-nos a todos ao mesmo nível, apeando dos seus pedestais os reis sanguinários, os governantes corruptos, os ricos e poderosos. A sua filosofia está assente no Amor e no perdão – diametralmente oposta a todas as filosofias terrenas então como hoje. O que padeceram os primeiros cristãos é inenarrável: mortes, prisões, deportações, perseguições às ordens de Nero, Domiciano, depois Cómodo, e até Marco Aurélio não escapa a diversas e terríveis perseguições, sendo a mais violenta a que vitimou a igreja de Lião, em 177. O imperador Adriano, por jurisprudência, condenou os delatores dos cristãos, mas foi no principado de Septímio Severo que os cristãos adquiriram peso social. Alexandre Severo ao edificar um templo a Cristo reconheceu oficialmente o cristianismo embora Jesus figurasse entre outros deuses. Filipe o Árabe, foi chamado o primeiro imperador cristão. Mas o catolicismo não ficaria por muito tempo. Décio restauraria o paganismo anterior. Estávamos em 250. De seguida veio o imperador Valeriano que foi de uma violência inimaginável, inclusive matou o Papa Sixto II. Seguiu-se Diocleciano que mandou incendiar igrejas, destruir livros sagrados, acossar os cristãos que iam já em metade da população romana. O grande Império Romano chega ao fim por volta de 476 dC.


         - Actividade variada: roçar mato, regar, piscina, leitura, escrita.