domingo, maio 27, 2018

Domingo, 27.
A eutanásia está de novo na ordem do dia. Não vou repetir o que já aqui expressei. Acrescentarei que todo o barulho não passa, finalmente, de uma imposição parlamentar, não inscrita em nenhum programa partidário, portanto, à revelia das normas democráticas e ainda por cima um projecto feito à pressa ou um acordo lançado aos deputados para ver se pega. Basta ler o que disse Ana Sofia Carvalho, directora do Instituto de Bioética da Universidade Católica e membro do CNECV (Conselho Nacional de Ética para as Ciências da Vida): “Avançar com um projecto de lei sobre a eutanásia sem o parecer do conselho nacional, ao qual compete pronunciar-se sobre legislação com implicações éticas, é algo inédito e moralmente irregular.”

         Tudo isto, a meu ver, por razões meramente economicistas. Sai mais barato convencer o doente e a família de que não há nada a fazer, que deixar o paciente viver até ao derradeiro segundo assistido, quero dizer sem dor, gozando os últimos instantes sem stresse nem ansiedade. Porque esta é a primeira porta que se abre. A seguir vem a inutilidade dos velhos, o horror dos homossexuais, dos deficientes, dos delinquentes e por aí adiante. É de novo a teoria hitleriana da raça pura, do eugenismo como apuramento da raça, o regresso ao mundo macabro, antes e nos séculos seguintes à vinda de Jesus Cristo, quando crianças e anciãos eram mortos para idolatrar os deuses romanos que eram aos milhares. É por último retirar da vida humana a sua fabulosa e lindíssima identidade divina.

         - Com Trump e com outros senhores que nos governam, a política é du n´importe quoi. Como foi possível termos chegado a este ponto! De facto, vivemos já na pré-decadência. Tudo o que nos oferecem só tem o valor do vil metal e cada vida vale o que vale um país. Não há vergonha como não há honra, honestidade, cumprimento da palavra dada. Estamos transformados em coisas, em objectos descartáveis, à mercê do primeiro tirano, do cinopena de que fala Plínio o Velho na sua História Natural ensandecidas criaturas com cabeças de cão.

         - Quinta-feira, à mesa do café A Brasileira e depois descendo o Chiado em modo passeio, saudosa conversa com João Corregedor. Ele falou dos seus tempos de jornalista, invocou nomes, situações, a Lisboa desse tempo. Algumas personagens como o Toy, um chulo que eu também seguia quando, enviado ao Governo Civil (então no Chiado) pelo meu jornal no adiantado da noite, tínhamos conhecimento do que nesse tempo se chamavam as “rusgas”. Acompanhei muitas vezes na carrinha policial, esse mundo de proxenetas, prostitutas, chulos, ladrões e mulheres estranhas, algumas das quais estudantes universitárias. A princípio sentia medo, depois falava com aquela gente de igual para igual, não me passando pela cabeça que estava diante de gente perigosa e marginal. Alguns dos jornalistas nossos colegas, ainda estão vivos e por isso dispenso-me de trazer aqui a carga adjectival que ouvi e com a qual estou de acordo.

         - Queria falar da reunião dos socialistas, mas não vale a pena. “Helder de Sousa, poupa-nos!” pareço ouvir aos meus leitores.