Domingo, 27.
A eutanásia está de novo na ordem do
dia. Não vou repetir o que já aqui expressei. Acrescentarei que todo o barulho
não passa, finalmente, de uma imposição parlamentar, não inscrita em nenhum
programa partidário, portanto, à revelia das normas democráticas e ainda por
cima um projecto feito à pressa ou um acordo lançado aos deputados para ver se
pega. Basta ler o que disse Ana Sofia Carvalho, directora do Instituto de Bioética
da Universidade Católica e membro do CNECV (Conselho Nacional de Ética para as
Ciências da Vida): “Avançar com um projecto de lei sobre a eutanásia sem o
parecer do conselho nacional, ao qual compete pronunciar-se sobre legislação
com implicações éticas, é algo inédito e moralmente irregular.”
Tudo isto, a meu ver, por razões meramente economicistas. Sai mais
barato convencer o doente e a família de que não há nada a fazer, que deixar o
paciente viver até ao derradeiro segundo assistido, quero dizer sem dor,
gozando os últimos instantes sem stresse nem ansiedade. Porque esta é a
primeira porta que se abre. A seguir vem a inutilidade dos velhos, o horror dos
homossexuais, dos deficientes, dos delinquentes e por aí adiante. É de novo a
teoria hitleriana da raça pura, do eugenismo como apuramento da raça, o
regresso ao mundo macabro, antes e nos séculos seguintes à vinda de Jesus Cristo,
quando crianças e anciãos eram mortos para idolatrar os deuses romanos que eram
aos milhares. É por último retirar da vida humana a sua fabulosa e lindíssima
identidade divina.
- Com Trump e com outros senhores que nos governam, a política é du n´importe quoi. Como foi possível
termos chegado a este ponto! De facto, vivemos já na pré-decadência. Tudo o que
nos oferecem só tem o valor do vil metal e cada vida vale o que vale um país.
Não há vergonha como não há honra, honestidade, cumprimento da palavra dada.
Estamos transformados em coisas, em objectos descartáveis, à mercê do primeiro
tirano, do cinopena de que fala Plínio o Velho na sua História Natural ensandecidas criaturas com cabeças de cão.
- Quinta-feira, à mesa do café A Brasileira e depois descendo o Chiado
em modo passeio, saudosa conversa com João Corregedor. Ele falou dos seus
tempos de jornalista, invocou nomes, situações, a Lisboa desse tempo. Algumas
personagens como o Toy, um chulo que eu também seguia quando, enviado ao Governo
Civil (então no Chiado) pelo meu jornal no adiantado da noite, tínhamos
conhecimento do que nesse tempo se chamavam as “rusgas”. Acompanhei muitas
vezes na carrinha policial, esse mundo de proxenetas, prostitutas, chulos,
ladrões e mulheres estranhas, algumas das quais estudantes universitárias. A
princípio sentia medo, depois falava com aquela gente de igual para igual, não
me passando pela cabeça que estava diante de gente perigosa e marginal. Alguns
dos jornalistas nossos colegas, ainda estão vivos e por isso dispenso-me de
trazer aqui a carga adjectival que ouvi e com a qual estou de acordo.