Sábado, 12.
Longa conversa com a Mariette e o marido na casa de
Azeitão. Ela diz que espalhou aos seus amigos em França a minha premonição (muito
antes da eleição), de que Macron seria um péssimo Presidente da República.
- A
colónia francesa por estas paragens é impressionante. Eu se quisesse já tinha
vendido esta propriedade duas vezes a gauleses. Mas vou ajudar o meu vizinho
que há dias me deu a bela notícia que ia arrancar os eucaliptos para voltar à
vinha. Na altura ele pediu-me que falasse aos meus amigos na hipótese de
comprarem uma sua outra propriedade com vasta área de casas para turismo de
habitação. Foi isso que hoje fiz e parece com bons resultados. É incrível a
capacidade financeira desta gente. Estão por todo o lado e em força.
- Não
podemos confiar em ninguém e muito menos nas ideologias que eles dizem
professar. Em verdade só há uma bandeira que eles conhecem e veneram – o
dinheiro. A Justiça, no golpe certeiro de sujidade e desprezo, que remeteu para
Luanda o processo do corrupto Manuel Vicente, nunca mais será reconhecida por
justa e equitativa. Não é por acaso que o coro de agradecimento e bajulação
obtido em uníssono pelos políticos de
joelhos diante de João Lourenço, do Presidente da República àquela coisa
chamada Rui Rio, rejubilam com as mesmas palavras e os mesmos alarves sorrisos.
É claríssimo que dos anafados governantes africanos vai sair a absolvição.
Aliás eles já dizem que Portugal terá de lhes pedir desculpa. Prodiit quasi ex adipe iniquitas eorum (assim
da gordura nasceu a sua maldade Sl-72.7).
- O
tempo permanece incerto. O frio e o calor acotovelam-se baralhando-nos o corpo.
A quinta é mato com mais de um metro de erva compacta de altura. Junto ao
caminho, já rocei duas vezes e para o resto do terreno tenho um mar de espigas
tocadas pelo vento que hoje não deixou um segundo de sacudir este campo vegetal.
Tenho uma filosofia: faço o que posso e a mais não sou obrigado. Assim, todas
as manhãs, muito cedo, esvazio um depósito e depois encosto a máquina e o corpo
ao descanso. Daqui a um mês devo ter tudo limpo.
-
Acabo de entrar depois de uma volta pelo mercado caramelo. Acho que é a
primeira vez que este acontecimento se realiza. Fui atraído pela ideia, mas,
sobretudo, pela prova da sopa (já lá vou) com o mesmo nome típica aqui do
burgo. O recinto, com as suas atracções, o seu comércio, artesanato variado,
petiscos, doces, tasquinhas e espaços para se abancar no jardim, foi para mim
uma viagem ao passado, como se o tempo se tivesse imobilizado e em catadupa
viessem as recordações, os sorrisos da infância, os camaradas desaparecidos, os
timbres felizes da reinação inocente, a excitação da vadiagem, a curiosidade à
flor dos sentimentos confusos, as noites livres e barulhentas, os odores das
rodas dos carros eléctricos, os choques que sacudiam todo o corpo e lançavam
risos convulsos, as luzes de néon, as árvores cheias das sombras que encobrem
os fantasmas, as músicas foleiras arremessadas à alegria... tudo isto eu vivi
no espaço de pouco tempo. Não me engano em dizer que a autarquia por uma vez
está de parabéns pelo trabalho despretensioso e perfeito que oferece aos
palmelões (eu prefiro dizer palmeleiros).
- A
sopa caramelo é um prato que faz as vezes de entrada e de segundo prato. A base
é o feijão manteiga, a que se adiciona couves, massa, toucinho (atirei para o
lado), bocados de carne de vaca, chouriço (cuspi para fora), talvez alguma
batata para engrossar, tudo muito concentrado, pesado, saboroso. Com esta sopa,
dispensamos tudo o resto, até os palitos são dispensáveis.