Segunda, 8.
Os franceses que têm a vida em oscilação incerta, 90 por cento disseram que não acreditam na classe política. Têm razão. É ela que nos traz de volta os regimes totalitários de esquerda ou direita.
- Tem sido para mim uma feliz descoberta a personalidade e a obra de Robert Walser. O amigo Carl Seelig, que o ia buscar ao sanatório onde o escritor passou os últimos trinta anos de vida num hospício em Herisau, Suíça, sofrendo de depressão e esquizofrenia, para o exercício de caminhadas através de bosques, lugares isolados, montes e vales em redor de Sankt Gallen. Desses passeios, nasceu o livro que vou lendo o mais lentamente possível, porque não me quero desfazer-me dele tão depressa. Estas spaziergangswissenschaft ou seja “Caminhologia”, termo criado pelo sociólogo suíço Lucios Burckhard, oferecem-nos a personalidade, a vida e obra de um autor que tudo fez para se ausentar da fama e do proveito que os seus livros lhe ofereciam. Ele próprio o diz: “Quero viver com o povo e desaparecer no seu seio. É o que mais se adequa ao meu modo de ser.” E esta a propósito de Paul Morand : “A vida social é um veneno para o artista. Retira-lhe densidade e leva-o a fazer compromissos.“ Que pensaria ele dos escritores dos nossos dias, grandes génios, mas cujas obras não passam do terceiro dia de publicação, embora ufanos em passagens televisivas, radiofónicas, presenças em escolas, simpósios, feiras, plenários, ufa, estou estafado.
- Vou citar uma frase deste autor, que define muito bem a intervenção daquele que nos desgovernou e veio agora do fundo da sua arrogância em defesa da que pelo seu partido se candidata à Câmara de Lisboa: “As pessoas que vivem na mó de baixo, e não vêem meio de satisfazer os seus desejos, aproveitam sempre a oportunidade para prejudicar quem está ainda mais abaixo. A sua alegria provém da infelicidade alheia, que é o meio de que dispõem para saciar a sua sede de vingança.” Todavia, ao Vasco Gonçalves do PS, aquele que à maneira de François Hollande atirou o seu partido para a valeta, respondeu muito acertadamente o actual autarca de Lisboa. Surpreendeu-me.
- Dia majestoso, abençoado, dependurado da vibrante presença de um ente superior que eu chamo divindade. Muito trabalho, mas em harmonia com a serenidade e uma certa ascese.