segunda-feira, setembro 29, 2025

Segunda, 29.

Batalha atrás de Baralha o filme de Paul Thomas Anderson. Que dizer? Apetecia-me afirmar que é mais uma ameracanice, mas qualquer coisa vista ao pormenor leva-me a questioná-lo.  É verdade que está cheio de lugares comuns, de ideias feitas, e a própria narrativa é confusa e deve agradar à extrema-esquerda como à direita. Até porque Trump perpassa-o e é impossível não pensar no seu governo, sem um bafo de incredulidade. Apetecer-me-ia mesmo dizer que os imigrantes são o tapete que melhor convém ao realizador na sua batalha pelas novas tecnologias, o ruído infernal das armas, os ódios expostos ao vómito, o ritmo desenfreado dos planos, das passagens súbitas, do enredo que com dificuldade segue, o atropelo técnico. A sociedade num todo, está sujeita àquele comité reaccionário de extrema-direita que secretamente move os cordelinhos sociais e políticos e faz imperar a desordem como meio de se manter no poder. Contudo, a ideia que Anderson parece querer passar é infantil, descoordenada, longe da realidade palpável do mundo, espécie de retorno à infância com seus sonhos e quimeras protegidos pela inocência tendo por suporte o amor. É, julgo, para qualquer espectador o desfecho: fabulosas imagens do deserto, com a terrível perseguição de duas ou três personagens principais, com especial atenção ao trabalho de DiCaprio e da banda sonora e temas entoados ao longo das entediantes fugas de carros uns atrás dos outros, uns contra os outros – lanceiro que o espectador pouco dado a pensar aprecia. Mesmo assim, aconselho os meus leitores a irem ver o trabalho de Paul Thomas Anderson.  Há um certo humor infantil, por vezes deslocado, mas que nos faz sorrir. Pode estar ali o melhor da América. 

         - Ontem pude confirmar aquilo que aqui disse dos africanos, a saber: são eles que abrem os dias e fecham as noites. O fertagus, aos fins-de-semana, está por sua conta. Na ida é a desordem, os telefones em altos berros, as crianças que choram, fazem birras; na volta é o sossego, o cansaço, o olhar perdido na paisagem tão escura como os seus corações cansados, os seus rostos descaídos. Apesar disso, a meu lado, um rapaz negro lia Diário de um Ceu. 

         - Quer-me parecer que Luís Montenegro vai perder as autárquicas devido àquela lei estúpida  e selectiva da habitação. O homem está cada vez mais arrogante, contrário à imagem do início do seu mandato. O poder subiu à cabeça do industrial do imobiliário? 

         - Assim como a audição na Assembleia ao Presidente do Banco de Portugal. Mário Centeno, honesto e competente, bateu-se bem contra aquelas figuras insignificantes do CDS e PSD (Paulo Núncio e Alberto Fonseca), apontando os anos e teses que são precisos para fazer parte da equipa do Banco – coisa que os dois deputados da direita ignoravam, tendo feito carreira como cordeiros amamentados pelas cúpulas dos partidos. Queriam que ele deixasse o Banco, mas Centeno respondeu: “É evidente que eu vou ficar no Banco de Portugal (quando deixar o cargo de Presidente). Eu estou no Banco de Portugal há 35 anos.” Defendeu as colegas que eles atacavam afirmando o mérito delas, os estudos, ensaios económicos, e provas dadas ao longo de um caminho duro até chegar à principal instituição bancária do país. A verdade é esta: a mediocridade que tomou de assalto sindicatos, associações, Governo sabe que é por essas portas que alcançam o poder e uma vez instalados julgam-se todos poderosos. Pertencem à geração Trump os pobres desgraçados. 

         - O Verão meteu fim-de-semana e empurrou o Outono com uma carga de chuva. Hoje, inesperadamente, regressou com temperaturas de 30 graus e promete ficar até domingo que vem. Tenho a piscina impecável e espero mantê-la assim até ao fim destes dias quentes e cheios de sol. Dia encantatório, espécie de êxtase nas dobras da luz clara da manhã estatelada até o fim de tarde, ligeira brisa a fazer dançar os braços das árvores que começam a embelezar-se com os tons outonais. Apetece-me gritar de exultação.