quinta-feira, setembro 04, 2025

Quinta, 4.

Acabou de sair daqui o Sr. José Manuel. Que homem admirável, integro, sério no trabalho! Reservou a manhã para cortar árvores secas, serrar os troncos para a lareira, de modo a que não tenha de comprar este ano lenha. Conversámos um pouco, mas logo ele: “Se ficarmos aqui à conversa eu não faço o trabalho e vossemecê está a pagar-me.” 

         - Ontem, em Lisboa, um acidente nos elevadores da Glória matou até ao momento 16 pessoas entre nacionais e estrangeiros e feriu uma vintena. Parece que um dos cabos cedeu e os ascensores precipitaram-se por ali abaixo até aos Restauradores. Não se conhece o motivo, embora se saiba que os empregados da Carris vinham reclamando vistoria aos veículos. A moda de os organismos públicos entregarem aos privados os serviços que lhes compete manter, parece estar na origem do desastre. A semana passada andei por lá com os meus amigos. 

         - Todavia, à boa maneira portuguesa, os políticos, compungidos, deram um show de populismo, crendice e cinismo quando entre si e chamando a Judiciária, a Polícia, os bombeiros, os dirigentes da Carris, para não falar na troca de louvores e competências entre Governo e Presidente da Câmara de Lisboa, num rosário de agradecimentos e elogios profissionais, como se isso não fosse a obrigação de todos os que estão em cargos públicos. Resta apurar responsabilidades e aí é que a porca torce o rabo. Aquele documento, criado à ultima hora, afirmando que os elevadores tinham sido fiscalizados no dia mesmo do trágico acidente, a mim dar-me-ia vontade de rir não fosse a gravidade do caso. “Vão-se apurar responsabilidades”, proclamam o primeiro-ministro, o seu colega de partido autarca de Lisboa, e mais não sei quem. Sim, sim. Depois segue-se o julgamento dos culpados (se se encontrarem) que se eternizará como aconteceu com o processo BES, alguns crimes de José Sócrates e outros mais, por exemplo, o cartel da banca que ficou desobrigado de pagar coimas no valor de 225 milhões por... prescrição.  A Justiça está de rastos e com ela a democracia, os cidadãos, a ordem pública. Mas quem assim fala, é logo apelidado de reaccionário, de extra-direita e outros epítetos caros aos correligionários. Por mim, dou louvores à liberdade e à independência de ideias, ao olhar atento que não tropeça em ideologias e traça o caminho livre que tem o outro por objectivo e o colectivo por união. Quem do meu ponto de vista merece um louvor, são os médicos que em greve ou de férias, prontamente se apresentaram nos hospitais para acudir a quem necessitava.