Quinta, 18.
A França sempre foi difícil de governar, mas hoje, apertada de dívidas, empurra para as grandes fortunas a sua liquidação. Como os sindicatos têm mais força que os partidos - não obstante como se sabe serem a sua cabeça, corpo e membros -, despejaram nas ruas milhares de franceses a contestar as medidas do primeiro-ministro demissionário e contra o actual na série de governantes que em pouco tempo Macron pôs à frente do destino do país. Vai daí, prevenindo-se, o Governo atirou para as ruas das cidades do Norte ao Sul, 80 mil agentes da autoridade. No estado em que se encontram as democracias europeias, não auguro nada de bom para a querida liberdade tão ameaçada como nunca esteve.
- Londres ajoelhou-se ante Donald Trump numa visita dita de Estado. Aquilo é um espectáculo vergonhoso que nos entorpece os sentidos. Como é possível que uma nação antiga, cheia de tradições e defensora da liberdade, se possa ajoujar diante de um especulador imobiliário! Felizmente que nas ruas os ingleses que não esquecem o passado e o presente do visitante e dizem alto e bom som aquilo que a hipócrita política não tem tomates para dizer (desculpem o tom, mas saiu assim, assim ficará).
- André Ventura cujo partido é ele e mais ninguém, ao ponto de nem sequer conseguir apresentar um governo-sombra como prometeu, abandonou a Assembleia onde se discutiam problemas que interessam aos portugueses, para falar à multidão de imigrantes que se juntou em frente do Parlamento pacificamente a pedir celeridade nos vistos de permanência no país. Eles repudiaram e bem a sua demagógica presença e disseram bem alto o desprezo que nutrem por ele. A maneira de fazer política neste homem, é uma forma permanente de empurrar a ambição para onde os ventos sopram de feição.
- Dia intenso e belíssimo. Andou aí o diamante puro que é o Sr. José Manuel. A quinta está a ficar um espanto idêntico ao que o saudoso Roman conseguiu. Trabalhei desde as oito a seu lado, acartando a matéria que se ia acumulando dos cortes de árvores, arbustos, erva daninha, e arrumação e serragem de achas para o inverno. Olhando o resultado, logo conclui não haver precisão de comprar lenha – facto que me encanta devido ao muito que gastei este ano por aqui.
- E depois? Depois pergunto-me onde se escondem as dores do corpo que me atormentavam há ainda três meses. Desapareceram as escrófulas, esconderam-se decerto entre as vértebras as picadas, os tendões parecem ter deixado o meu corpo, os artelhos esticaram, os músculos alargaram, as pernas ficaram mais ágeis, mesma aquela que os homens maduros tanto invejam ou aqueloutra que as donzelas e os rapazinhos salivam ao admirar a originalidade, todo o meu corpo em uníssono canta a alegria de haver invertido o trote da velhice. Tudo isso graças aos trinta minutos de natação (ou “nadação” como diz em O Rés-do-Chão de Madame Juju a dita personagem). A piscina é para mim não um estatuto, mas o ginásio inteiro que desde tenra idade me declaravam nunca dever dispensar. Assim, entrei na rotina saudável de para além da sua prática, ficar uma hora ao sol para recolher a vitamina D indispensável ao sabor terno e doce do meu bem-estar.
- Ontem fui a Lisboa. Sem esquecer o tricot, depois do almoço, sentei-me na Fnac e avancei na correcção do romance. Vim logo a correr, sob calor sufocante, mergulhar. Não entendo como a água se preserva com índices de cloro e PH correctos. Continuo a achar que o skymer não funciona como antigamente, apesar do corte e costura do Nilton, mas já me estou nas tintas e só desejo que ela aguente até ao fim desta última dose de Verão.