terça-feira, setembro 30, 2025

Terça, 30.

Considero o acto do HAMAS em 7 de Outubro de 23 uma acção terrorista contra a qual estou em completo desacordo. Não esqueço, todavia, que a organização foi em grande medida protegida e tolerada por Netanyahu, pensando que desse modo teria mais sossego na sua governação e escaparia à sentença do tribunal onde vários crimes estavam a ser julgados. De outro modo não se compreende, tendo Israel o estatuto de país mais seguro, com exército e sistema de informação de topo, pudessem uns quantos terroristas entrado no seu território e praticado a morte e capturado centenas de israelitas. Seguiram-se três anos de guerra, contrariamente ao projecto do primeiro-ministro e sua clique, que pensavam dominar e exterminar todos os elementos do HAMAS em semanas. Enganaram-se e a guerra que mantêm é contra os palestinianos, crianças, velhos e cidadãos indefesos, uma guerra que até podia ser cómica se não fosse tão injusta com 67 mil palestinianos mortos, um país destruído, fome e miséria, tudo contra meia dúzia de homens entrincheirados ao longo da Faixa de Gaza. Esta é a verdadeira vergonha de Netanyahu e seus camaradas. Tanta destruição, tanta morte e o seu objectivo ao fim destes anos não foi alcançado, não obstante um Exército treinado, a maior carga de mísseis, drones, artilharia pesada para matar indefesos, enquanto os culpados resistem e é com eles que Netanyahu e seus cúmplices, finalmente vão ter de negociar a paz. Ironia do destino. 

Pois bem. Ontem Trump e Netanyahu, parece que assinaram um acordo de paz. Estive a ler os seus princípios que o HAMAS ainda não rubricou, mas não me parece serem suficientemente morais e sólidos para que o mundo dê o Prémio Nobel da Paz a Trump e Netanyahu possa escapar ileso dos tribunais que o acusam de corrupção. Ainda por cima com o senhor Tony Blair metido no assunto, um tipo que desde a anterior intervenção se mostrou incapaz, somente preocupado com a boa-vida, gozando e esbanjando o cargo que lhe foi confiado, espécie de teddy boy à moda antiga.  


segunda-feira, setembro 29, 2025

Segunda, 29.

Batalha atrás de Baralha o filme de Paul Thomas Anderson. Que dizer? Apetecia-me afirmar que é mais uma ameracanice, mas qualquer coisa vista ao pormenor leva-me a questioná-lo.  É verdade que está cheio de lugares comuns, de ideias feitas, e a própria narrativa é confusa e deve agradar à extrema-esquerda como à direita. Até porque Trump perpassa-o e é impossível não pensar no seu governo, sem um bafo de incredulidade. Apetecer-me-ia mesmo dizer que os imigrantes são o tapete que melhor convém ao realizador na sua batalha pelas novas tecnologias, o ruído infernal das armas, os ódios expostos ao vómito, o ritmo desenfreado dos planos, das passagens súbitas, do enredo que com dificuldade segue, o atropelo técnico. A sociedade num todo, está sujeita àquele comité reaccionário de extrema-direita que secretamente move os cordelinhos sociais e políticos e faz imperar a desordem como meio de se manter no poder. Contudo, a ideia que Anderson parece querer passar é infantil, descoordenada, longe da realidade palpável do mundo, espécie de retorno à infância com seus sonhos e quimeras protegidos pela inocência tendo por suporte o amor. É, julgo, para qualquer espectador o desfecho: fabulosas imagens do deserto, com a terrível perseguição de duas ou três personagens principais, com especial atenção ao trabalho de DiCaprio e da banda sonora e temas entoados ao longo das entediantes fugas de carros uns atrás dos outros, uns contra os outros – lanceiro que o espectador pouco dado a pensar aprecia. Mesmo assim, aconselho os meus leitores a irem ver o trabalho de Paul Thomas Anderson.  Há um certo humor infantil, por vezes deslocado, mas que nos faz sorrir. Pode estar ali o melhor da América. 

         - Ontem pude confirmar aquilo que aqui disse dos africanos, a saber: são eles que abrem os dias e fecham as noites. O fertagus, aos fins-de-semana, está por sua conta. Na ida é a desordem, os telefones em altos berros, as crianças que choram, fazem birras; na volta é o sossego, o cansaço, o olhar perdido na paisagem tão escura como os seus corações cansados, os seus rostos descaídos. Apesar disso, a meu lado, um rapaz negro lia Diário de um Ceu. 

         - Quer-me parecer que Luís Montenegro vai perder as autárquicas devido àquela lei estúpida  e selectiva da habitação. O homem está cada vez mais arrogante, contrário à imagem do início do seu mandato. O poder subiu à cabeça do industrial do imobiliário? 

         - Assim como a audição na Assembleia ao Presidente do Banco de Portugal. Mário Centeno, honesto e competente, bateu-se bem contra aquelas figuras insignificantes do CDS e PSD (Paulo Núncio e Alberto Fonseca), apontando os anos e teses que são precisos para fazer parte da equipa do Banco – coisa que os dois deputados da direita ignoravam, tendo feito carreira como cordeiros amamentados pelas cúpulas dos partidos. Queriam que ele deixasse o Banco, mas Centeno respondeu: “É evidente que eu vou ficar no Banco de Portugal (quando deixar o cargo de Presidente). Eu estou no Banco de Portugal há 35 anos.” Defendeu as colegas que eles atacavam afirmando o mérito delas, os estudos, ensaios económicos, e provas dadas ao longo de um caminho duro até chegar à principal instituição bancária do país. A verdade é esta: a mediocridade que tomou de assalto sindicatos, associações, Governo sabe que é por essas portas que alcançam o poder e uma vez instalados julgam-se todos poderosos. Pertencem à geração Trump os pobres desgraçados. 

         - O Verão meteu fim-de-semana e empurrou o Outono com uma carga de chuva. Hoje, inesperadamente, regressou com temperaturas de 30 graus e promete ficar até domingo que vem. Tenho a piscina impecável e espero mantê-la assim até ao fim destes dias quentes e cheios de sol. Dia encantatório, espécie de êxtase nas dobras da luz clara da manhã estatelada até o fim de tarde, ligeira brisa a fazer dançar os braços das árvores que começam a embelezar-se com os tons outonais. Apetece-me gritar de exultação.   


sexta-feira, setembro 26, 2025

Sexta, 26.

Estive a ler o plano do Governo para a habitação: um sonho dourado para especuladores imobiliários. O mal destes e dos outros governantes, é viverem num mundo que não toca minimamente o real. Portugal está condenado a ser um imenso espaço aberto para sem- abrigos. Até se compreende, o primeiro-ministro é dono de meia centena de prédios, casas, arrecadações, garagens e passo. Pobres portugueses que tão maus governantes têm. Desde a sinistra Cristas que os descamisados vêm sendo despejados para as ruas como entulho. Toda a classe política devia ser banida, está cheia de vícios, compadrios, arrogância, incompetência, falcatruas, corrupção. 

         - O vulgar Sarkosy foi condenado a cinco anos de prisão efectiva. Atrás das grades vai poder treinar os tiques que imprimem no seu rosto o desprezo pelos outros. Que a solidão e o castigo lhe dê densidade humana. 

         - Depois de ter deixado a Alzira, refugiei-me para ganhar o dia, na Fnac. A dada altura entra a mulher ainda jovem que costumo encontrar muitas vezes absorta no seu trabalho que pela primeira vez me cumprimenta. Não tarda saberemos ambos de que natureza somos feitos. 

         - Corrigi até à página cinquenta e de seguida parei absorto a pensar nas palavras da escritora Maria Ondina Braga. Nunca nos conhecemos pessoalmente, mas sabia por outros escritores e mulheres de cultura, que ela adorava os meus livros e dizia a quem queria ouvir que eles eram muito cerebrais e havia neles muita filosofia - justamente aquilo que me pareceu ao reler hoje as páginas escritas há dois anos. 


quinta-feira, setembro 25, 2025

Quinta, 25.

O lúcido discurso de Zelensky na Assembleia das Nações Unidas, devia ter sido motivo bastante para alertar o mundo para o estado periclitante em que se encontra. “Não é o direito internacional, não é a cooperação internacional – as armas decidem quem sobrevive” disse o Presidente da Ucrânia. Trump também esteve no mesmo fórum sempre imprevisível, sempre descompensado. Desta vez, foi ao ponto de desdizer tudo aquilo que anda a declarar desde que chegou ao poder. Para grande surpresa do mundo inteiro ali reunido enquanto nações, afirmou que Kiev tem condições para reconquistar todo o território actualmente ocupado pela Rússia. E disse mais, fora do Hemiciclo, quando os jornalistas lhe perguntaram se os países frequentemente sobrevoados por aviões russos deviam abatê-los, respondeu sem hesitar que sim.  Contudo, oh! contudo mais tarde, o seu secretário de Estado, Marco Rubio, reafirmou a necessidade de negociações imediatas entre a Ucrânia e a Rússia. A habitual patada no cravo e outra na ferradura. 

         - Os Açores fecharam-se em casa, correram as persianas, trancaram as portas, e tolhidos entre si, esperam a fúria do furacão que tem semeado desgraças e mortes por onde passou – o Gabrielle. Depois do Ragasa que ainda anda pela China, surge este, todos com nomes humanos, como para nos apaziguar assim como quem diz “desculpa lá qualquer coisinha”. 

         - Deu-se o caso de ter ido ao LIDL comprar um par de calções para trazer por aqui não sabendo onde guardei os que há anos me serviam. Chegado à caixa onde estava uma velha amiga sempre de sorriso e boa disposição, disse-lhe que tinha perdido as calças e daí ter adquirido as que trazia nas mãos. Pergunta-me ela: “Então não sabe onde perdeu as calças?” “Não.” Gargalhada forte da sua parte extensiva aos que estavam atrás de mim. Insistia ela muito admirada: “Essa agora! Então não sabe onde deixou as calças!” Ante o espectáculo que de súbito se gerou, com clientes a rirem com vontade e a empregada muito corada, informei: “Sabe, eu frequento muitas camas e decerto em alguma esqueci ou tive de fugir à pressa.” Agitação geral. Deixei o estabelecimento deixando para trás o coro dos clientes a rirem à desgarrada. 

         - Vou fazer meia hora de natação. Está um sol magnífico por aqui, quente sem magoar, céu limpo e virgem, silêncio alastrado ao interior do tempo que com tempo se arrasta para a eternidade...


quarta-feira, setembro 24, 2025

Quarta, 24.

O artigo do Publico de segunda-feira assinado entre outros por uma pessoa que estimo, Helena Roseta, fala do projecto Housing First para acudir as 13.128  pessoas em situação de sem-abrigo que actualmente dormem na rua, mas não explica cabalmente como funciona. Diz-se que foi aplicado com sucesso na Finlândia, Dinamarca e Áustria e oferece uma situação definitiva para os necessitados e ainda por cima mais barata que os modelos-tapa-buracos até aqui postos a funcionar. Como gosto de andar informado, fui à Internet e obtive a resposta: “O Housing First é um modelo de intervenção social para pessoas em situação de sem-abrigo, que consiste em dar acesso imediato a habitação individualizada e permanente no mercado comum, sem pré-condições, e um acompanhamento psicossocial voluntário para promover a autonomia e reintegração social.” Depois a sua aplicabilidade: “As casas do modelo Housing First vêm de um investimento público e privado no mercado de arrendamento, onde proprietários privados "contratam" as suas casas para serem usadas em projetos de habitação social, como o caso em Lisboa, que conta com 340 casas arrendadas da autarquia. O modelo nasceu em Nova Iorque na década de 90 e foi implementado em Portugal em 2009, sendo a casa vista como um direito humano básico.” Só um reparo: a parolice do nome estrangeiro. A nossa língua anda tão pobre, que até duas simples palavras não encontram tradução.   

         - Trump esteve no seu melhor (ou pior) quando praguejou na ONU contra tudo e contra todos, sobretudo contra a Organização que em tempos fez obras e não aceitou trabalhar com a sua empresa. 

         - Chamam-lhe supertufão Ragasa e à sua passagem por Taiwan rumo à China, fez pelo menos 14 mortos e abateu centenas de árvores, habitações e causou grossas inundações. Em Macau as rajadas de vento atingiram 148 quilómetros/hora. Toda a Ásia foi afectada e os prejuízos são incalculáveis. 

         - A personalidade vulcânica ao tempo ministro das Infra-Estruturas e ex-Secretário-geral do PS, está a ser desvendada através da bagunça que foi a cena do despedimento da presidente da TAP, senhora Christine Ourmières-Widene, e da ex-administradora Alexandra Reis e respectivas indemnizações, pelo hoje deputado do Partido Socialista cognominado Vasco Gonçalves.   

         - Entre nós, o bom tempo com temperaturas a subir e noites mais frescas, têm-me permitido largas braçadas na piscina. Apesar de a água estar já fria, não hesito em mergulhar e vou mantê-la própria até, pelo menos, o fim deste mês meados de Outubro.

         - O outro furacão de raça humana esteve aí hoje. Como nunca tinha encontrado ninguém com tanta garra, jamais me habilitei a limpar as largas árvores junto à casa. Estou a fazê-lo agora. Só que, o Sr. José Manuel, leva tudo a eito e o que vejo é o que almejava ver mas de forma atenuada. A razia foi tal, que expus a casa a quem no caminho lá em baixo passar – coisa que não me agrada. Para me serenar, diz-me o meu auxiliar, “isto na Primavera rebenta tudo”.   

Não se pense que se trata de raiz de árvore. Não. É de silva que tinha braços da grossura do meu pulso. 


terça-feira, setembro 23, 2025

Terça, 23.

À pressa, o Chega apresentou uma parte do seu governo-sombra. Aquilo parece uma matilha tresmalhada com um ou outro elemento respeitável que não se percebe porque aderiram ao projecto. O partido de André Ventura é apenas ele e aquelas personagens sinistras que o acompanham no Parlamento. Tudo aquilo é risível. 

         - Eu voto para as autarquias na minha cidade natal. E o meu voto vai para João Ferreira. É o homem mais sério e com ideias impecáveis e deve por direito pertencer à equipa que sair vitoriosa das eleições. 

         - Nas Nações Unidas Portugal reconheceu o Estado da Palestina. Com ele uma vasta camada de outros países impulsionados por Macron que tem a cabeça a prémio no seu país, mas levado a cabo acções muito importantes no domínio internacional. Pergunta-se que utilidade prática tem o movimento de nações do mundo (veja-se foto) sobre Israel, se o inclino da Casa Branca, reles especulador imobiliário, apoia assassinos e corruptos como Benjamim Netanyahu, dispostos a fazer da Faixa de Gaza o paraíso para americanos multimilionários. Por agora talvez pouco. Mas os tempos mudam e não há memória de aqueles que utilizaram o poder em seu proveito próprio, dizimaram povos, praticaram o genocídio, destruíram cidades inteiras, reduziram a condição humana à aniquilação, possam sobreviver ao castigo exemplar que os espera.   

         - Ontem, assim que cheguei de Lisboa, apanhei a primeira meia dúzia de dióspiros. A árvore está pesada de tanto fruto e daqui para a frente vai ser colher o fruto todos os dias. Não vejo hora de meter as mãos na massa e começar a encher frascos de compota. Francamente, um homem assim dotado, quem o levar, leva uma mina de ouro... 


sábado, setembro 20, 2025

Sábado, 20.

Ontem fui almoçar com o João ao Tascardoso o restaurante no Príncipe Real tão do seu agrado. Encontrámo-nos na Brasileira onde ficámos até à uma e meia à conversa. Na mesa ao lado, uma turista brasileira a viver há muitos anos na Noruega, mete conversa connosco. Trabalha no hospital central da capital e a dada altura, falando-se de religiões, o João atira: “Aqui o meu amigo é ultra-católico.” Pensei “que quererá o tipo dizer com isto?” para logo abandonar a preocupação, sabendo que o homem é todo política e que na enxurrada vai também Jesus Cristo.

         - Voltaram os incêndios no Norte: Viseu, Oliveira do Hospital, Coimbra. 

          - Mais um teste russo com dois caças a sobrevoarem a Estónia. Putin, esperto, aproveita o ego inchado de Trump para executar os ensaios necessários à investida da guerra. A Europa, como sempre, limita-se a condenar “a provocação perigosa”. Todos parecem ignorar a inquietação de von der Leyen: “A questão central é muito simples: A Europa tem estômago para este combate? Tem a unidade? O sentido de urgência? A vontade política e a capacidade de compromisso?” Respondo-lhe eu: NÃO. Acabaram de regressar de férias e estão muito cansados. Essas perguntas são demasiado complicadas e levam-nos a deixar a vidinha querida, as viagens pagas, as reuniões divertidas seguidas de almoços abundantes, os ordenados milionários e a jactância de que somos imbuídos. 

         - Como se previa, a jangada dos revolucionários rumo a Faixa de Gaza, correu para o torto. As crianças de vida confortável, que adoram praticar a caridade e empavonar a pobreza, embora vivam como médios-burgueses de consciência lixeira, em pleno mar, desentenderam-se. Resultado: a menina Thunberg deixou a sua decorativa embarcação e foi prosseguir caminho noutro barco. A revolucionaria dos três costados, menina Mariana Mortágua, ficou ao óculo do arrasto, triste, a vê-la desviar os holofotes mundiais da sua pessoa.  


quinta-feira, setembro 18, 2025

Quinta, 18.

A França sempre foi difícil de governar, mas hoje, apertada de dívidas, empurra para as grandes fortunas a sua liquidação. Como os sindicatos têm mais força que os partidos -  não obstante como se sabe serem a sua cabeça, corpo e membros -, despejaram nas ruas milhares de franceses a contestar as medidas do primeiro-ministro demissionário e contra o actual na série de governantes que em pouco tempo Macron pôs à frente do destino do país. Vai daí, prevenindo-se, o Governo atirou para as ruas das cidades do Norte ao Sul, 80 mil agentes da autoridade. No estado em que se encontram as democracias europeias, não auguro nada de bom para a querida liberdade tão ameaçada como nunca esteve.  

         - Londres ajoelhou-se ante Donald Trump numa visita dita de Estado. Aquilo é um espectáculo vergonhoso que nos entorpece os sentidos. Como é possível que uma  nação antiga, cheia de tradições e defensora da liberdade, se possa ajoujar diante de um especulador imobiliário! Felizmente que nas ruas os ingleses que não esquecem o passado e o presente do visitante e dizem alto e bom som aquilo que a hipócrita política não tem tomates para dizer (desculpem o tom, mas saiu assim, assim ficará). 

         - André Ventura cujo partido é ele e mais ninguém, ao ponto de nem sequer conseguir apresentar um governo-sombra como prometeu, abandonou a Assembleia onde se discutiam problemas que interessam aos portugueses, para falar à multidão de imigrantes que se juntou em frente do Parlamento pacificamente a pedir celeridade nos vistos de permanência no país. Eles repudiaram e bem a sua demagógica presença e disseram bem alto o desprezo que nutrem por ele.  A maneira de fazer política neste homem, é uma forma permanente de empurrar a ambição para onde os ventos sopram de feição. 

         - Dia intenso e belíssimo. Andou aí o diamante puro que é o Sr. José Manuel. A quinta está a ficar um espanto idêntico ao que o saudoso Roman conseguiu. Trabalhei desde as oito a seu lado, acartando a matéria que se ia acumulando dos cortes de árvores, arbustos, erva daninha, e arrumação e serragem de achas para o inverno. Olhando o resultado, logo conclui não haver precisão de comprar lenha – facto que me encanta devido ao muito que gastei este ano por aqui. 

         - E depois? Depois pergunto-me onde se escondem as dores do corpo que me atormentavam há ainda três meses. Desapareceram as escrófulas, esconderam-se decerto entre as vértebras as picadas, os tendões parecem ter deixado o meu corpo, os artelhos esticaram, os músculos alargaram, as pernas ficaram mais ágeis, mesma aquela que os homens maduros tanto invejam ou aqueloutra que as donzelas e os rapazinhos salivam ao admirar a originalidade, todo o meu corpo em uníssono canta a alegria de haver invertido o trote da velhice. Tudo isso graças aos trinta minutos de natação (ou “nadação” como diz em O Rés-do-Chão de Madame Juju a dita personagem). A piscina é para mim não um estatuto, mas o ginásio inteiro que desde tenra idade me declaravam nunca dever dispensar. Assim, entrei na rotina saudável de para além da sua prática, ficar uma hora ao sol para recolher a vitamina D indispensável ao sabor terno e doce do meu bem-estar. 

         - Ontem fui a Lisboa. Sem esquecer o tricot, depois do almoço, sentei-me na Fnac e avancei na correcção do romance. Vim logo a correr, sob calor sufocante, mergulhar. Não entendo como a água se preserva com índices de cloro e PH correctos. Continuo a achar que o skymer não funciona como antigamente, apesar do corte e costura do Nilton, mas já me estou nas tintas e só desejo que ela aguente até ao fim desta última dose de Verão. 


terça-feira, setembro 16, 2025

Terça, 16.

Vi e ouvi a primeira maratona de entrevistas aos candidatos autárquicos, com a vantagem de ter ficado esclarecido que não voltarei a ver outra que vier. Tanto a candidata à Câmara de Lisboa do PS como Carlos Moedas não me interessaram minimamente, sobrando as franjas ideológicas que me pareceram mais sólidas: João Ferreira do PCP e Bruno Mascarenhas do Chega. Sobretudo aquele, que mostrou mais conhecimento, mais consenso nos objectivos e mais equilíbrio social e político. A senhora foi francamente fracota, com a lição tirada dos manuais do bocejo. Um ausente se agigantou: António Costa. Durante o seu reinado e ainda por cima com maioria, nunca se ocupou da habitação e só o começou a fazer quando os jovens desceram às ruas reivindicando um tecto. A pagaille ainda vai no adro. 

         - Os avisos são cada vez mais explícitos. A Polónia não pára de interceptar drones e deteve dois bielorrussos. Os EUA atacaram navio venezuelano e mataram três pessoas. Israel destrói e intensifica bombardeamentos a Gaza. 

         - A situação do SNS é cada vez mais complicada e insustentável. Nisto misturam-se interesses privados e públicos e os médicos não são hoje o que foram os seus antecessores. Agora é o lucro que conta e quase nada a entrega aos doentes e à profissão. Tornaram-se funcionários públicos ou empregados dos sectores privados que inventaram um estratagema que os contrata enquanto médicos independentes que ganham à hora a preços elevadíssimos quando comparados com os que auferem os seus colegas efectivos nos hospitais públicos. São brigadas que chegam e partem, não pertencem a nenhum senhor, estão ao serviço de quem lhes der mais.  Aí não parece haver deontologia alguma, faltam quando lhes apetece e não se responsabilizam por equipas disponíveis nos hospitais públicos. Daí a angústia da ministra em criar equipas de médicos aptos a servir as populações, em particular as grávidas. Governar em democracia, está cada vez mais difícil. Portanto os povos tendem a encostar-se aos ditadores e oligarcas. Dito de outro modo, à extrema-direita ou extra-esquerda. 


segunda-feira, setembro 15, 2025

Segunda, 15.

Novo ataque de Israel ao Iémen. Que eu me lembre, Benjamin Netanyahu, já bombardeou uns quantos países soberanos – Irão, Qatar, Síria, Líbano, Iémen  para não falar da Faixa de Gaza, Cisjordânia e passo. A tudo se permite o homem que governa Israel, com as costas quentes de Trump e como ele com a mesma arrogância de senhor do Médio Oriente. Até quando? 

         - É preciso que se registe, que a morte do apoiante número um de Donald Trump, Charlie Kirk,  assassinado numa universidade americana, é fruto da liberdade que cada americano possui de usar armas de fogo e de que o actual chefe da Casa Branca é acérrimo defensor. 

         - A ONU aprovou a resolução que pede a solução de dois Estados para Israel e Palestina. Na sessão foi condenada de forma explicita o HAMAS e foi aprovada com 142 votos a favor, 10 contra e 12 abstenções. Contra votaram os EUA, Israel e Hungria, a República Chega absteve-se. De assinalar que todos os países europeus votaram a favor. 

         - No Nepal a nova primeira-ministra, Sushila Karki, foi aclamada pela dita Geração Z, aquela que quer ver o Governo invadido por miúdos da sua geração. 

         - A engenhoca que o Nilton montou no skymer, aparentemente resultou: a água deixou de verter e tem-se conservado em bom funcionamento. Quem se vai aproveitar sobretudo quando um novo Verão chegou, sei eu quem é. 

         - Bolsonaro parece que não escapa da cadeia por bons e fartos anos. O Nilton que o apoia sem reservas, ao saber da sentença, diz que o vai visitar logo que vá ao Brasil.


sábado, setembro 13, 2025

Sábado, 13.

Acabei com grande pena a leitura do livro de Carl Seelig. Numa das derradeiras caminhadas com o escritor Robert Walser, eles abordam a morte de Estaline ocorrida em 1953. O autor de Os Irmãos Tanner, diz: “Sempre me repugnou o incenso que mandava espalhar à sua volta. Rodeado de servilismo, acabou por converter-se num ídolo, incapaz de viver como uma pessoa normal. Talvez houvesse nele algo de genial, mas aos povos convém mais serem governados por naturezas medíocres. Um génio esconde quase sempre um lado maligno, que os povos acabam por ter de pagar com sofrimento, sangue e vergonha. “

         - Vivi esta tarde como se fosse um monge retido no convento. Durante horas preparei e confeccionei uns quantos frascos de compota de figo que a árvore me deu em derradeiro suspiro. 

         - Os tumultos no Nepal, tal como fizeram os manifestantes na Libéria, levaram os descontentes a incendiar o Parlamento e casas de governantes que acusam de corruptos e prédios na capital Katmandu. Dos incidentes resultaram mais de 34 mortos e 1.300 feridos. O primeiro-ministro demitiu-se e os manifestantes na maioria jovens, querem à frente do Governo um jovem como eles. Na confusão, centenas de reclusos evadiram-se de uma cadeia nepalesa. Assim vai o mundo. Por todo o lado, há todos os dias uma lavareda que se atiça. 

         - Voltou aí o Nilton. Os remendos que fez no skimer parece ter resultado e eu posso ter água conveniente até ao fim da época estival, isto é, lá para meados de Outubro. 


sexta-feira, setembro 12, 2025

Sexta, 12.

Depois de uma noite de pesadelos (aquela aflição já minha conhecida, indo eu a conduzir, eis que surge uma ladeira muito íngreme e, de súbito, o mar imenso) acordo numa aflição, no preciso momento em que vou a resvalar para o fundo das águas. Apesar disso, calças verdes e t-shirt rosa, diáfano, despacho-me para Lisboa onde tenho vários assuntos a tratar. Sem tempo para almoçar, desço à cave do Celeiro e engulo uma sopa de cenoura e gengibre, uma empada de atum e um doce de chocolate e ei-lo a correr a vários sítios até desaguar no meu querido café da Fnac. Comigo, claro, foi o croché. Em duas horas revi 20 páginas e, sentindo-me satisfeito, rumei ao meu poiso onde me esperava o Nilton agarrado à resolução do skymer remendado à sua maneira.  

         - No fertágus, dois negros na minha frente muito jovens. Ela ingressou no comboio uma estação antes dele e quando o rapaz entrou encontrou-a sentada nas cadeiras vermelhas dos prioritários que são para os pretos uma tentação. O moço abeirou-se e beijou-a na boca e deixou-se ficar perto dela, enlaçado pela cintura, o resto do corpo esguio projectado muito para cima da cabeça da rapariga. Esta de cara contra a barrida em beijos ao sexo do negrito que, olhando para todo o lado, não podia esconder o que vinha crescendo contra sua vontade. Ele bem metia a mão dentro das calças desportivas para acalmar o impaciente, mas ela não parava de assentar os lábios naquilo que decerto lhe parecia um gelado. À sua volta um misto de escândalo e abrenúncio. 

         - Vítor Escária, o homem dos 75 mil euros distribuídos por vários sítios no seu gabinete em São Bento, acaba de ser nomeado para director do Instituto Superior de Gestão. Antes foi assessor de José Sócrates e chefe do gabinete de António Costa. A isto chama-se Portugal sem vergonha nem ética. 

         - As greves no Metro voltaram. Decerto outras virão em breve em muitos outros sectores. Eu sou dos que insistem que é preciso mudar a lei da greve. Não é justo que “o nosso povo” seja sacrificado às mãos de sindicatos que se dizem seus representantes e carregam-no com sacrifícios, perdas de viagens nos passes, deslocações inúteis, esperas cansativas e brutais, diminuição de salários. Depois admiram-se que o Chega tenha nesta altura a maioria dos votos para as autarquias. Um partido sem gente ou com gente bizarra: gatunos, pirómanos, agressores sexuais, etc..  

         - O calor voltou em força e eu não vejo hora de continuar as minhas meias horas diárias de natação. 


quinta-feira, setembro 11, 2025

Quinta, 11.

Já aqui reflecti sobre aquilo a que os políticos chamam “responsabilidade política” e que eu por muitas voltas que dê à cabeça não consigo decifrar. O que me ocorre é zero. Porque acusar um político de responsabilidade, é encobri-lo dos desastres que eventualmente praticou quando em cargos públicos. Reparem. Quando um político é acusado de laxismo ou falta de competência para o cargo, o que lhe acontece é apenas ser demitido e vai à sua vidinha antiga, tranquilamente. Outro dia Marcelo Rebelo de Sousa tentou decifrar o que significa “responsabilidade política” nestes termos: “Responsabilidade política há... Quem quer que exerça um cargo político é politicamente responsável. Quem está à frente de uma instituição pública, está sujeito a um juízo político por aquilo que aconteça de menos bem nessa instituição, mesmo sem culpa nenhuma, mesmo que em intervenção nenhuma.” Perceberam? Eu patavina. Charabiá puro. 

         - Isto vem a propósito do acidente no elevador da Glória, como eu previ nunca saberemos a quem atribuir responsabilidades. A trapalhada é já tanta, que os tribunais não vão conseguir acusar ninguém. Porque a mentira tomou conta dos meandros terríveis que levaram à morte 16 pessoas. Continuo a pensar que todo o drama nacional nasce do laxismo público, dos cargos oferecidos aos camaradas dos partidos, das conivências, da corrupção que grassa por todo o lado. Não há quem tome conta desta malandragem, desta sofreguidão pelo poder, desta luta entre partidos que não têm nem nunca tiveram em conta o interesse nacional. Com uma administração pública encharcada de funcionários, dependentes do Orçamento de Estado, um exército de velhos submissos de subsídios, sem dignidade, apodrecendo ao sol triste do fim de vida, com uma pobreza solidamente estabelecida nos dois milhões e meio de indigentes, salários baixos e resignação é natural que aceitem por destinado o que os políticos matreiros lhes oferecem. 

         - Aqui como por todo o lado. Um exemplo. A moda dos “influencer” nem sempre acaba bem. Um activista que tentava influenciar a juventude trumpista, foi assassinado a tiro numa universidade dos EUA. Republicanos e democratas uniram-se na condenação. Pois, sim. 

          - Trago aí o Sr. José Manuel verdadeiro espalha-brasas. O homem, com 70 anos, não pára um momento e até a mim me dá fanicos. Voltou também o Nilton porque o skymer que ele havia reparo, abriu fenda. Eu desde a primeira hora que desconfiava. No mês de Agosto a coisa andou bem, o equilíbrio do cloro e PH foi satisfatório. Ele quer aplicar uma cola, mas eu já me vou preparando para o substituir.


quarta-feira, setembro 10, 2025

Quarta, 10.

A Netanyahu e seus muchachos tudo é permito. Desta vez, sobrevoou um país independente, o Qatar, e despejou uma série de bombas sobre o edifício onde era suposto estarem reunidos chefes militares e outros do HAMAS. Com as costas quentes daquele grupo de salteadores governados por Trump, nada teme tudo lhe é devido. Deste modo, ficou mais longe a possibilidade de um acordo de cessar fogo na Faixa de Gaza, sítio mártir para dois milhões e meio de palestinianos. Aquilo não são gente, são selvagens descrentes de Yahvé cuja doutrina não se assemelha em nada à sua prática quotidiana. 

         - A propósito. Há um grupo de “revolucionários” onde se inclui a senhorita do BE, que vai numa jangada libertadora dos pobres palestinos. Não devemos levar a sério tais iniciativas. Aquilo é uma festa de oportunistas incautos, que quer impor a si próprios um estatuto para o qual não têm estômago, nem capacidade política ou outra. Propaganda, propaganda para que te quero! 

         - As Forças Armadas da Polónia, abateram pelo menos uma dezena de drones que entraram no seu espaço aéreo, quando a Ucrânia estava uma vez mais a ser atacada por Moscovo. Foi a primeira vez que um Estado-membro da NATO disparou contra armamento bélico da Federação Russa. As ameaças da Europa surgiram na ladainha do costume. Putin já enviou demasiados avisos, fez muitos testes, um dia destes, quando menos se esperar, começa a guerra. Trump continua a dizer que vai retaliar com sanções económicas que não ralam de modo nenhum o ditador. O mundo está sobre um vulcão de pólvora. 

         - Aquelas cenas asquerosas de sul-coreanos, acorrentados de mãos e pés, a subir para as carrinhas que os devolverão ao seu destino natal, a mando do capaz que a tudo se impõe como deus omnipresente, são para além de inumanas, criminosas. 


segunda-feira, setembro 08, 2025

Segunda, 8.

Os franceses que têm a vida em oscilação incerta, 90 por cento disseram que não acreditam na classe política. Têm razão. É ela que nos traz de volta os regimes totalitários de esquerda ou direita. 

         - Tem sido para mim uma feliz descoberta a personalidade e a obra de Robert Walser. O amigo Carl Seelig, que o ia buscar ao sanatório onde o escritor passou os últimos trinta anos de vida num hospício em Herisau, Suíça, sofrendo de depressão e esquizofrenia, para o exercício de caminhadas através de bosques, lugares isolados, montes e vales em redor de Sankt Gallen. Desses passeios, nasceu o livro que vou lendo o mais lentamente possível, porque não me quero desfazer-me dele tão depressa. Estas spaziergangswissenschaft ou seja “Caminhologia”, termo criado pelo sociólogo suíço Lucios Burckhard, oferecem-nos a personalidade, a vida e obra de um autor que tudo fez para se ausentar da fama e do proveito que os seus livros lhe ofereciam. Ele próprio o diz: “Quero viver com o povo e desaparecer no seu seio. É o que mais se adequa ao meu modo de ser.” E esta a propósito de Paul Morand : “A vida social é um veneno para o artista. Retira-lhe densidade e leva-o a fazer compromissos.“ Que pensaria ele dos escritores dos nossos dias, grandes génios, mas cujas obras não passam do terceiro dia de publicação, embora ufanos em passagens televisivas, radiofónicas, presenças em escolas, simpósios, feiras, plenários, ufa, estou estafado.  

         - Vou citar uma frase deste autor, que define muito bem a intervenção daquele que nos desgovernou e veio agora do fundo da sua arrogância em defesa da que pelo seu partido se candidata à Câmara de Lisboa: “As pessoas que vivem na mó de baixo, e não vêem meio de satisfazer os seus desejos, aproveitam sempre a oportunidade para prejudicar quem está ainda mais abaixo. A sua alegria provém da infelicidade alheia, que é o meio de que dispõem para saciar a sua sede de vingança.” Todavia, ao Vasco Gonçalves do PS, aquele que à maneira de François Hollande atirou o seu partido para a valeta, respondeu muito acertadamente o actual autarca de Lisboa. Surpreendeu-me. 

         - Dia majestoso, abençoado, dependurado da vibrante presença de um ente superior que eu chamo divindade. Muito trabalho, mas em harmonia com a serenidade e uma certa ascese.   


domingo, setembro 07, 2025

Domingo, 7.

Os testes são cada vez mais evidentes e só Trump, talvez com um projecto ainda não completamente conhecido, não vê o evidente. O seu amigo Putin, acabou de atingir com um drone o gabinete ministerial da primeira-ministra ucraniana. Se é clara a estratégia do ditador russo, não é de todo conhecido o que vai na cabeça do Presidente dos EUA, que parece ir no impulso do dia, da disposição, do humor e da clientela que o cerca. 

         - É tão tonto o resultado da primeira inspecção ao que aconteceu no elevador da Glória. O cabo partiu e daí, parece ser a interrogação para os 16 mortos e feridos. 

         - Acordei a meio da noite para escutar por breves instantes a chuva que caía forte. Foi uma bênção neste dia que me esperava como é hábito umas horas duras a regar e a puxar mangueiras. Ontem ainda consegui a minha diária meia hora de natação. Hoje reservei-me para colher um cesto de alfazema em flor que fui distribuindo pelas jarras dispersas por toda a casa. 

         - Ontem Mai Hong perguntou-me se já estava a comer mais. Ela e o filho Minh Nam, surpreendiam-se com o pouco que ingeria todos os dias. De facto, tendo visto fotos que me mandaram de visitas que fizemos juntos, verifiquei que estava muito magro. Já comecei a engordar e esta manhã vi na balança que tinha mais 800 gramas. O problema é que detesto comer, faço-o apenas por sobrevivência. 


sábado, setembro 06, 2025

Sábado, 6.

Como se previa o festival de elogios mútuos, escondia a tradicional incompetência e laxismo da Administração Pública. Afinal parece que o desastre no elevador da Glória, não tinha gente competente à altura do projecto – facto que qualquer cidadão minimamente expedito detectou. Deixei-me louvar o candidato à Presidência da República pelo PCP, António Filipe, que ressurgiu da algaraviada com palavras justas, simples, e sem suplementos partidários sobre o terrível acontecimento. Resta esperar agora que o tempo e o silêncio que o acompanha, abafe os sentimentos hipócritas, as palavras cristãs de ocasião, os salamaleques de protocolo. Talvez para a próxima década, conheçamos (eu decerto já cá não devo estar) o motivo de tantos mortos e feridos. 

         - Mais uma vez me assalta o privilégio que é ser funcionário público em Portugal. Não pode ser despedido, ganha mais que no sector privado, é arrogante no atendimento, tem a reforma por inteiro (penso), e nada lhe acontece que faça acelerar a sua vidinha sincopada pelo relógio sucessivamente consultado para a saída das repartições. Querem um exemplo? Ontem, estando eu a aguardar o fertagus no regresso a casa pelas duas da tarde, ouço nos altifalantes: “O comboio para Faro tem um atraso de 54 minutos. Pedimos desculpa pelo incómodo.” Os barões da CP ganham acima da média nacional. 


quinta-feira, setembro 04, 2025

Quinta, 4.

Acabou de sair daqui o Sr. José Manuel. Que homem admirável, integro, sério no trabalho! Reservou a manhã para cortar árvores secas, serrar os troncos para a lareira, de modo a que não tenha de comprar este ano lenha. Conversámos um pouco, mas logo ele: “Se ficarmos aqui à conversa eu não faço o trabalho e vossemecê está a pagar-me.” 

         - Ontem, em Lisboa, um acidente nos elevadores da Glória matou até ao momento 16 pessoas entre nacionais e estrangeiros e feriu uma vintena. Parece que um dos cabos cedeu e os ascensores precipitaram-se por ali abaixo até aos Restauradores. Não se conhece o motivo, embora se saiba que os empregados da Carris vinham reclamando vistoria aos veículos. A moda de os organismos públicos entregarem aos privados os serviços que lhes compete manter, parece estar na origem do desastre. A semana passada andei por lá com os meus amigos. 

         - Todavia, à boa maneira portuguesa, os políticos, compungidos, deram um show de populismo, crendice e cinismo quando entre si e chamando a Judiciária, a Polícia, os bombeiros, os dirigentes da Carris, para não falar na troca de louvores e competências entre Governo e Presidente da Câmara de Lisboa, num rosário de agradecimentos e elogios profissionais, como se isso não fosse a obrigação de todos os que estão em cargos públicos. Resta apurar responsabilidades e aí é que a porca torce o rabo. Aquele documento, criado à ultima hora, afirmando que os elevadores tinham sido fiscalizados no dia mesmo do trágico acidente, a mim dar-me-ia vontade de rir não fosse a gravidade do caso. “Vão-se apurar responsabilidades”, proclamam o primeiro-ministro, o seu colega de partido autarca de Lisboa, e mais não sei quem. Sim, sim. Depois segue-se o julgamento dos culpados (se se encontrarem) que se eternizará como aconteceu com o processo BES, alguns crimes de José Sócrates e outros mais, por exemplo, o cartel da banca que ficou desobrigado de pagar coimas no valor de 225 milhões por... prescrição.  A Justiça está de rastos e com ela a democracia, os cidadãos, a ordem pública. Mas quem assim fala, é logo apelidado de reaccionário, de extra-direita e outros epítetos caros aos correligionários. Por mim, dou louvores à liberdade e à independência de ideias, ao olhar atento que não tropeça em ideologias e traça o caminho livre que tem o outro por objectivo e o colectivo por união. Quem do meu ponto de vista merece um louvor, são os médicos que em greve ou de férias, prontamente se apresentaram nos hospitais para acudir a quem necessitava.  


quarta-feira, setembro 03, 2025

Quarta, 3.

Ontem dei um salto a Lisboa para tratar de um assunto e na volta abanquei na Fnac. Lá encontrei os leitores do costume debruçados sobre os livros e os passantes apressados da bica ao balcão. Lembrei-me do Lionel quando uma manhã lhe tracei a visita à Baixa lisboeta e depois o encontro naquele lugar para o almoço. Posteriormente, estando nós aqui sós, ele a ler um ensaio sobre Vasco da Gama, eu a escrevinhar coisas que me ocorriam ao cérebro, ambos sentados lá fora sob o toldo, disparou: “Aquele café na Fnac é onde costumas escrever?” Perante a positiva, acrescentou: “Também me pareceu pelo número de intelectuais que lá vi. – Mas olha que lá não vou pela frequentação, mas pelo sossego. – Então e a Brasileira que disseste ser encontro de homens da cultura. –Isso foi no passado, no tempo da ditadura. – Por isso, sem te querer magoar, quando nos lá levastes achei aquilo impróprio para o debate de ideias devido ao movimento dos turistas. Até aqueles velhotes que me apontastes serem o que restam desse tempo, achei estarem ali abandonados.” 

         - Comecei o dia a colher figos e amoras. Obriguei-me a não arredar pé deste espaço de forma a cumprir uma série de projectos. Desde logo regas, de seguida, intercalando a escrita com a leitura, fui fazendo compota de figo – uma paixão que me enche de prazer. Eu se habitasse em França ou nos EUA, seria rico só com a transformação da fruta em um doce de comer e chorar por mais. No fim do dia, mergulhei para meia hora de natação. 

         - Nunca tal me aconteceu. Marquei consulta para a minha médica de família, e só obtive data para... 30 de Outubro! Antes, isto é, há meia dúzia de meses, ainda era possível conseguir em duas semanas. Isto prova a degradação da Saúde em Portugal. Não sei de quem é a culpa, a ideologia de esquerda quer o impossível, a de direita o cruzamento da doença com o enriquecimento de uns quantos. 

         - Aquele trio sinistro Vladimir Putin, Xi Jinping ping ping, Kim Jong-un, reunidos na capital da China com o propósito de assinalar o fim da Segunda Guerra Mundial, parece mais um ditame que antecipa o princípio da terceira guerra. Avisos não faltaram no discurso do ditador chinês diante de um exército autómato, espécie de gnomos emergindo do fundo dos tempos, com toda a caterva de material militar: miíseis supersónicos, navios, aviação, veículos blindados, de forma a pôr em sentido a Europa e os EUA. É esta a paz que estes tipos apregoam querer. 

Olha que três...

         - Já agora. Putin diz não se opor à entrada da Ucrânia na UE. Mas que tem ele a ver com isso e que importância tem o seu acordo, se o país é independente e capaz de preparar o seu futuro e o dos seus cidadãos! Que, de resto, antes da invasão russa se tinha manifestado aos milhares pela adesão à União Europeia. 

        - Há dias, forte tremor de terra, abalou o Afeganistão. Imagens impressionantes, pessoas despedaçadas de dor pelos familiares mortos e pelo futuro imediato numa terra governada por sectários em nome de deuses que sentenciam um destino de escravatura, humilhação e desprezo pela vida humana. 


segunda-feira, setembro 01, 2025

Segunda, 1 de Setembro. 

Estaremos nós em face de uma segunda edição de Trump à portuguesa? Fiquei muito admirado com o montante imobiliário do primeiro-ministro. Não é que ele não tenha direito a ser dono de casas, apartamentos, casinhas e terrenos, mas porque, devido à opção por esse meio de riqueza, tendo ele feito  carreira de deputado, me surpreendeu. Sinceramente, neste tocante, prefiro mil vezes Marcelo Rebelo de Sousa. Eu se abraçasse a carreira política, não teria a ideia de enriquecer por este meio ligado à especulação imobiliária. E depois, pobre homem! Então o Presidente da Assembleia, do mesmo partido, não se esqueceu de indicar na folha dos seus bens uns quantos apartamentos! E aquele rapaz do BE, e o antes do actual Secretário-Geral do PS, e... 

         - Entrámos numa espécie de adeus aos fogos. Ou melhor dizendo: Bye bye seus danados, até para o ano com repetições iguais ou piores, com estes ou outros políticos, a incompetência é sempre a mesma. 

         - Reintegrei o silêncio na vida e neste espaço. Ainda tenho muito para arrumar, mas o grosso foi feito ontem. A pouco e pouco vou comendo o que ficou no frigorífico, coisas que nunca tinham entrado nos meus hábitos alimentares, mas económico como sou, entendo não dever desperdiçar. Porcarias: chouriços, cremes, gelados gordurosos, sumos, fiambre, queijos de vaca, manteiga e compotas, cerveja, etc. O que mais me surpreendia neles, Mai Hong e Lionel, era o facto de ambos serem médicos no hospital de Estrasburgo e engolirem tanta imundície. Uma vez perguntei ao meu amigo quanto tinha de colesterol. Não sabia. E disse-me que em consulta, dizia aos seus pacientes para comerem e beberem de tudo. Insisti. Respondeu que vai para o hospital todos os dias de bicicleta (cerca de vinte minutos) e isso bastava para não se preocupar. Todavia, uma vez em casa dele, quando o vi a devorar um queijo enorme num ápice, levantei a questão, ele respondeu: “Olha, num país como nosso, com tanta coisa boa, centenas de queijos diferentes, é uma pena não aproveitar.” Hoje está com uma barriga de professor. Nu, o zizi desaparece. 

         - Vou nadar.