sexta-feira, junho 30, 2023

Sexta, 30.

Alinho esta presença no café da Fnac. Refugiei-me aqui para cumprir duas horas de escrita no romance (p. 99), mas um grupo de mulheres brasileiras tomaram todo o espaço emitindo vozes estridentes que não deixam cinco minutos ao silêncio. Desisti daquele para entrar neste diário, forma saltitante de olhar o mundo, descortiná-lo pedaço a pedaço, num fugitivo olhado, mergulho em mim para sorver o que no fundo subjaz como partícula inquieta da realidade. 

         - O mínimo que se pode dizer é que a França está doente. Tudo serve aos franceses para incendiarem carros, equipamento urbano, transportes públicos, edifícios de câmaras municipais (julgo que é a segunda), numa fúria de destruição selvagem que impressiona e dá que pensar. Desta vez foi a morte de um rapaz de 17 anos, em Nanterre, às portas de Paris, por não ter obedecido à ordem do policia para que parasse o carro. O agente da autoridade foi preso por abuso de poder. Mas o adolescente já tinha cadastro por crimes anteriores. 

         - Estou do lado de António Costa quando exige que os inquilinos dêem o seu aval à instalação de um AL no prédio. Discordo completamente dos argumentos frágeis do líder do PSD, nas tintas para o desassossego dos locatários,  montado na ideia que se vão perder milhares de empregos e negócios. Esta praga que aumentou o preço das casas, expulsou os velhos dos centros urbanos, instaurou a desordem e o ruído, não passa nem por sombras pela sensibilidade do mediano social-democrata. 

Já não me encosto ao primeiro-ministro quando depois de andar a combater aqueles que lhe pediam mais impostos para os donos de supermercados e bancos sempre recusou ou taxou pequenos montantes, venha agora apregoar que está contra a senhora Lagarde nas políticas de contenção do custo de vida e descida da inflação. Costa está sempre na crista do que o insufla, o longo prazo, as vistas largas, não é com ele. Depois, ele conta com a memória curta dos portugueses. 

         - Três horas mais tarde, troquei de café a caminho da estação. Abanquei no Vitta Roma onde o ar condicionado funciona a fundo. Quando ia a regressar ao romance, eis que entra um grupo de velhas psitacídeos, ruidosas, excitadas, qual delas a mais tagarela que encheu o espaço até ali tranquilo.