segunda-feira, junho 05, 2023

Segunda, 5. 

O desplante, a capacidade de iludir, mentir e absorver os impactos sociais disso tudo, é a marca que ficará da governação socialista orientada por António Costa. Há quem aprecie e diga até que o homem é hábil, inteligente, sabe manobrar, mas eu que vivo à distância e desse lugar observo imparcialmente, digo que é desonestidade, falta de ética, abandalhamento da democracia, supremacia. Não me esqueço quando estava no activo e lidava com empresários de vários sectores industriais, ouvia com frequência dizer que apreciavam mais o governo socialista que o social-democrata. E tinham razão, e sabiam de que falavam. Os socialistas – vou repetir-me – adoram dinheiro, riqueza, o fausto que ele projecta nas suas vidinhas antes pobrezinhas. Daí que estejam sempre prontos a atender, a tombar para o lado dos que julgam possuir o poder que dá um punhado de notas. Foi o que aconteceu com os Certificados de Aforro. Os banqueiros refilaram que os clientes debandaram a pôr o seu querido dinheiro nos rentáveis papéis do Estado e logo Costa, com aquele sorrisinho macaco que exibe com frequência, atendeu às suas súplicas e, expondo a arrogância que a maioria lhe (não) deu, criou outra emissão dos referidos certificados, mas com um rendimento mais baixo. Toda a gente percebeu que foi a Banca que impôs a acção, Costa e o seu secretário de Estado das Finanças (pobre homem cheio de dificuldade em provar o contrário) de joelhos, indiferente à classe média que vive no limite, serenou os insaciáveis banqueiros, à frente dos quais está o algoritmo da CGD. 

         - Depois, bem depois temos o eterno folhetim da TAP, à cabeça do qual aquela figura com ar periférico mas... socialista. O que chegou dos Açores e já vinha com a lição estudada, diz que o povo está farto dos episódios da referida telenovela. Fala em nome de todos nós, como se lhe tivéssemos passado procuração para tal e passando por cima das últimas sondagens que vão, precisamente, contra as suas afirmações. Por outro lado, o patrão diz que o povo lhe deu a maioria e, nessas condições, o Presidente da República e a oposição têm que ouvir e amochar. Sim, deram-lhe a maioria, mas foi na condição que cumprisse o que prometeu, coisa que está muito longe de acontecer. O país parou, literalmente, nestes derradeiros sete anos, e de nada adianta fazer de todos nós um número abstracto de almas para quem só conta a economia que, diga-se de passagem, eu não acredito. Sei como é fácil manobrar números, comprar pareceres, trocar as voltas às percentagens e assim. O país não tem investimento, vive de contas de merceeiro que António Costa tanto gosta, do turismo que não traz nada de proveitoso e pode de um ano para o outro arribar a outras paragens deixando-nos ainda mais pelintras. Estamos transformados num país de restaurantes, hotéis, comes e bebes; impusemos o pastel de nata e julgamos que somos o mais rico da Europa. Outro dia, estando em Beauvais (França), sou abordado por uma senhora que trabalhava na câmara da cidade. Quando lhe disse que era português, a mulher, vibrante, diz-me que tinha estado em Lisboa. Pergunto-lhe o que achou da cidade, resposta: “Adorei pastéis de natas.” É esta merdelhice de imagem que têm de nós – não passamos dum pastel de nata. 

         - Comecei  e terminei de cortar a relva em frente ao salão. 

         - A propósito da nova ideologia de que a esquerda se apropriou no século XX, perdidas todas as outras que anteviam o paraíso na terra, estando a reler o diário de Julien Green, esbarro nesta entrada, (13 de Julho de 1949): “Chaleur torride. Hier j´ai noté 49º au soleil.” (p. 744) Rien à dire.