sexta-feira, junho 16, 2023

Sexta, 16.

Os dias em que consigo mergulhar no romance, são dias profundos abastados de tudo o que falta ao comum dos mortais. Há um tempo que venho preparando no meu cérebro o insólito encontro daquele que será o segundo marido de Ana Boavida. Já fiz e desfiz duas páginas e esta manhã, estando no café da Fnac ao Chiado, tentei de novo construir a cena. Não foi um passo em falso, mas também não me parece que tenha preparado psicologicamente o leitor para a entrada daquele que alterará radicalmente a vida da minha heroína. Terei de tentar quantas vezes for necessário, porque essa história de inspiração é própria de estreantes e amadores. 

         - A BBC diz que viajavam no barco da maior tragédia migratória 700 pessoas, o canal 2 (francês) fala em 600, o Público adianta 750, entre as quais várias dezenas de crianças. O que se sabe de concreto é que só 104 foram resgatas com vida. Um horror! Um náufrago gritava: “Quero a minha mãe!” O hipócrita Governo grego, decretou um dia de luto nacional, mas nada faz, nem tem feito, para amparar quem arriba aos seus portos. Pelo contrário. São os que fogem dos seus países por diversas razões, que evitam (por conhecimento) acoitar-se à Grécia. Por seu lado a UE fecha os olhos, finge desconhecer os dramas, está-se nas tintas para as vidas humanas que terminam nas praias espanholas, italianas, turcas ou gregas.  

         - Assistimos a mais uma sessão no Parlamento sobre a TAP – essa nojeira-merdalheira que os socialistas nos oferecem diariamente. O senhor das esquerdas do partido, quer que passemos por idiotas e dá loas à sua passagem pela CP e companhia aérea. Seja. Todavia, os trabalhadores dos comboios estão em greves sucessivas há pelo menos três meses; a TAP está esfrangalhada; a mim nunca me devolveram a viagem que não pude fazer em 2021 devido à pandemia à Hungria; o lucro completamente estapafúrdio que ele diz ter conseguido quando dirigiu a TAP, se aconteceu, foi à conta daquilo que ele proibiu aos privados de fazer. Eu não suporto estes cangalheiros da democracia, todos empinocados, senhor deputado para aqui, senhor deputado para ali, excelência isto, excelência aquilo, é-me ridículo, falso, provocador do estado de inércia e corrupção em que o pais se encontra. O João Corregedor ainda não se libertou do clima de insurreição espanhola que varre a Assembleia da República. Quando vem ao meu encontro, se for na Brasileira, digo-lhe: “João, assim engravatado, de fato completo, é para ires ao encontro dos camaradas. Por isso, desce ali a Rua do Alecrim, vai até ao Cais do Sodré, vira à direita e ao fundo vez um mastodonte edifício é lá que tens de entrar.” Ri-se.