domingo, junho 11, 2023

Domingo, 11.

Continuando. Os socialistas já tinham inventado a arte de mentir, criaram também agora o génio de empobrecer. Arvoram-se em grandes mestres de finanças ao ponto de toda a União Europeia estar a depauperar-se, enquanto nós estamos inchados da boa vida, do dinheiro que corre a jorros nos bolsos dos portugueses, da vida bela que cada um leva, do crescimento de 2 pontos e qualquer coisa... É o maior embuste que a democracia conheceu, não esquecendo que foram eles que descobriram as cativações e a arte de anunciar um decreto antes de ele ser rubricado, estender depois uma aranha densa na sua aplicação, cheia de condicionantes, avanços e recuos, até que no ar fique somente as intenções virtuosas de um partido preocupadíssimo com as condições sociais do povo.  E, todavia, é tão fácil de compreender. Se eu não gastar o que recebo, e for acumulando atinjo uma confortável conta bancária. Quem olhar o montante dirá: “Este tipo é rico. Tem uma data de massa à ordem no banco.” É mais ou menos isto que a dupla Costa-Medina faz. Retêm para passar uma imagem de contenção e seriedade em Bruxelas, mas Portugal vai definhando sem investimentos, reformas, salários condignos, o SNS a mirrar, os professores na rua há quase um ano (dito isto, não acho digno de professores, os cartazes de Costa exibidos em Peso da Régua), a pobreza a crescer, o quotidiano de dez milhões de seres humanos reduzido à comiseração, às esmolas, a corrupção instalada, os ordenados criminosos dos amigos, a máfia política à solta e passo. Perguntar-me-ão: “E quem queres tu pôr no poder?” Tanto me faz. Já não voto em partidos, voto em pessoas. Sei que o líder do PSD é medíocre, disse-o há muito tempo, conhece o jogo de governar deixando tudo como está, na linha de António Costa que paralisou completamente o país em sete anos de (des)governação e ele segue no mesmo sentido. Nunca se lhe ouviu uma ideia, um programa claro; só o panegírico corriqueiro daquilo a que Costa chama “fazer política”. Portugal, em 50 anos de democracia, definhou moral e eticamente; a luta pelo poder não tem em conta os interesses da comunidade; os partidos são grupos de arruaceiros; os portugueses mereciam melhor sorte. 

         - Leio sempre com toda a atenção as crónicas de Teresa de Sousa no Público. Nem sempre estou de acordo com ela, mas quase sempre partilho da sua visão do mundo. No artigo de hoje, “Putin como Estaline”, aborda o hediondo bombardeamento à barragem de Kakhovka. Segundo o jornalista do Independent, Gay Walters, a ordem veio de Putin, simples e eficaz, rebentem com a barragem; acrescenta a cronista: “A ordem veio de Estaline. Foi dada em Agosto 1941. Era a forma mais fácil e mais bárbara de conter o avanço das tropas nazis na região ucraniana de Zaporijia. Calcula-se que tenham morrido entre 120 mil a 180 mil pessoas.” Quando pouco tempo antes, acrescento eu, a união entre nazis e as tropas de Estaline era perfeita. Mais adiante, a propósito da guerra, continua a jornalista: “Quanto à guerra, há centenas de jornalistas da imprensa livre no terreno, há satélites, há informação dos serviços secretos ocidentais, há explicações operacionais dos militares americanos e europeus – um manancial de dados que a imprensa livre escrutina diariamente. Na Rússia, pesa o silêncio próprio das ditaduras. Quem critica a invasão fica sujeito a uma pena que pode ir até 15 anos de prisão.”   

         - Na mesma edição do jornal, tenho prazer em ler todos os domingos Frei Bento Domingues. Devo confessar contudo, que nem sempre assim foi. Só muito tarde o comecei a espreitar e depois a ler com atenção. Isto porque, muito cedo, percebi de que lado estava sua reverência e non mi è piaciuto a mensagem escondida nas entrelinhas. Como hoje, quando leio: “Neste momento, vivemos num mundo afectado por várias guerras. A única tarefa que os cristãos devem incentivar é a procura da paz baseada no diálogo que envolve um processo diplomático, sempre demorado, mas incomparavelmente mais rápido e eficaz do que a continuação dos conflitos e da guerra.” Os comunistas que quase desapareceram do mapa, rejubilam. Eles também querem a paz, mas a paz que não toque no que a guerra roubou. Em Setembro de 1949, Truman, anunciou que os russos tinham a bomba atómica. Desde então para cá, o mundo vive num quadro frágil onde se confrontam democracias e autocracias. Umas e outras querem a paz. Mas enquanto as primeiras podem dispor do seu destino, em liberdade; as segundas subjugam e condenam os cidadãos ao ostracismo dentro das suas próprias pátrias. Quem decide no segundo caso pela paz ou pela guerra? Este pensar de sua excelência, é para além de padronizado também datado. É uma forma de dizer do tempo do fascismo, da esquerda do Largo do Rato, que hoje está do lado de Putin, gritando pela paz. 

         - Anteontem fui à Feira do Livro. Estive de manhã com o João e o Carmo na Brasileira. O Carmo diz que o João está muito mais calmo e já não atira postas (apetecia-me bostas) de pescada marxistas por dá-cá-aquela-palha. Ainda bem. Todavia, eu estou sempre de pé atrás. Bom. Fui. Subi a ala direita e desci. Aquilo está muito mais longo que em anos transactos. Pouca gente. Tempo ameno. De manhã tinha chuviscado. O que me lá levara, encontrei no stand da Gulbenkian – o terceiro volume dos textos filosóficos de Marco Túlio Cícero. Depois, quando desci, espreitei vários stands e comprei o volume póstumo do Diário de Vergílio Ferreira apresentado pelo meu saudoso amigo Helder Godinho. Como acho já ter dito aqui no ano passado, a feira para mim representa muito pouco, porque sou informado ao longo do ano das publicações e vou comprando o que me interessa. 

         - Tudo nos tempos modernos tem um nome. Assim as tempestades e outras sinistras faces de revolta da Natureza. Este Óscar que nos visitou a semana passada, semeou desastres e prejuízos imensos à sua passagem. Como vivemos em depressão permanente, passamos a doença às sacudidelas furiosas do clima, esta foi a “depressão do Óscar”. 

         - Alguns dias depois de ter chegado de Paris e como é meu hábito, trago o necessário para uma boa raclette entre amigos. Os que convidei, sobretudo a Maria José, ficaram doentes ao verem o desastre em que está transformado o oceano de vinha do meu vizinho. Cada um aventou uma hipótese, mas nenhuma delas encaixa no crime ambiental que aqui aconteceu. 

         - Ontem e hoje, várias horas de trabalho neste registo. E o romance? Cala-te.