domingo, junho 25, 2023

Domingo, 25.

Dois acontecimentos marcaram a semana passada. Ontem o confronto entre dois criminosos: Vladimir Putin e um tal Yevgeny Prigozhin com a Ucrânia de permeio. O mundo parou a ver o que dali ia sair, pois desde a véspera que o antigo cozinheiro do ditador tinha empreendido com cinco mil homens, todos mercenários da empresa Wagner da qual é proprietário, a conquista de Moscovo. A caminhada foi rápida, por auto-estrada (olé, olé), em tanques e veículos blindados, tenho conquistado a cidade de Rostov sem que tivessem enfrentado resistência. Mais acima, uns duzentos metros, estava o ditador à sua espera e a capital Moscovo preparada para o receber, com estradas cortadas, a ponte sobre o rio erguida, escavadoras a abrir rasgos profundos nos acessos, o exército nas ruas, os cidadãos convidados a ficarem-se em casa, as escolas encerradas por um mês, a Praça Vermelha cercada pelos guardas do palácio, Putin encurralado a sete chaves no baú dourado do Kremlin. Pelo caminho um helicóptero foi abatido pelos bárbaros da Wagner, algum tiroteio, mas o percurso parecia um passeio para o oligarca dono dos soldados. Eis senão quando, uma notícia expandiu-se: Prigozhin, não querendo um banho de sangue, desejando poupar os seus homens, interrompe o trajecto e mais tarde veio a lume que ele ficaria à guarda do ditador da Bielorússia e os seus soldados poderiam integrar o exército russo, sem castigos nem prisões. Tanto haveria a dizer deste saldo! Sobra, todavia, a fragilidade de Putin, as mentiras que ele propagou ao seu povo, a desorganização do exército, a incompetência, a triste figura que o líder moscovita transmitiu quando do discurso que fez à nação, chamando traidor e outros epítetos, para hora depois, percebendo que nem todo o exército estará do seu lado, que ficou mais só, o medo estampado no rosto, a opressão trágica do fim, obrigado a render-se ao criminoso Yevgeny Prigozhin. 

         - O outro acontecimento foi mais trágico e relaciona-se com a ganância, a avareza, o desprezo pela vida humana em favor do lucro. Enfiados num pequeno submersível, cinco milionários que pagaram para cima de 100 mil dólares para espreitarem o Titanic depositado no fundo do mar a 3780 metros de profundidade desde 1912. A empresa que se ocupa destas viagens perigosas, nunca se preocupou em certificar o veículo porque não queria pagar os custos da certificação! O Titan por impulsão matou os cinco homens que ficaram sepultados no fundo do Atlântico. 

Para os tentar resgatar enquanto existia oxigénio, gastou-se uma pequena-grande fortuna. Sim, qualquer vida é sagrada, mas não deve ser mais preciosa a vida de um milionário que a de um pobre coitado que foge da fome, da guerra, dos ditadores. As centenas de vidas ceifadas nas águas da Grécia e noutros países do Mediterrâneo, deviam merecer idênticos esforços. Estes dois actos, dizem com palavras de sangue e revolta, como os países e os Estados estimam com indiferença e desumanidade o valor das vidas de uns e outros. 

          - “Do que é que poderá ter acontecido” – linguarejar de comandante da Marinha.  

          - A Natureza tem muita força. As chuvas que caíram há duas semanas, foram suficientes para fazer regressar às suas propriedades o ganancioso dono da vinha paredes-meias com o meu espaço. Não terá rendimento nenhum e ainda bem para os consumidores porque os vinhos ditos bons carregam veneno desde a sulfatação das parreiras à “construção” do vinho.   

Há um mês

hoje


A paisagem que tenho  do meu quarto ao acordar.

          - Lembrei-me quando ia a caminho que possuía o passe vintage e meti-me no comboio. Não esperava vê-lo cheio como uma saca de batatas das que se vendem nas feiras daqui no dia de hoje. Fui a Lisboa resolver um problema na Internet e por todo o lado nem parecia ser domingo. Multidões passeavam e só na Fnac, na loja da Vodafone, eram mais os estrangeiros que os nacionais. A cidade modificou-se muito e quando lá vivia, perto do Chiado, pela manhã, não se via vivalma. Não sei se me agrada assistir a esta “evolução”, porque com ela é um pedaço de mim que se perde nas esquinas da memória. Lisboa, a cidade que me viu nascer, não me reconhece e quando a atravesso é como se fosse um fantasma sobrevoando espaços desaparecidos, sombras que fogem na minha frente, igrejas abertas sem fiéis, sinos tocando para surdos apressados, ruas onde os ventos enfunam manhãs soalheiras que desaguam na morte. Lisboa sem identidade.