terça-feira, abril 05, 2022

Terça, 5.

A Rússia actual está na ordem do dia pelas piores razões. Não se pense, porém, que a chamada União Soviética de então era melhor. Vou dar a palavra ao escritor Eugénio Lisboa, que em 1986 fez uma visita a Moscovo e Leninegrado: “Bichas, falta de tudo, mesmo do mais elementar, evidente opressão. Um povo governado por brutos e querem continuar a ser brutos. Suponho que o poder de sedução deles é igual a zero. Como pode aquilo, alguma vez, seduzir alguém? Só um sádico pode querer aquilo.” Mais adiante, p. 92: “Nos hotéis majestosos, a comida era simplesmente detestável: salvava-se a sopa e o resto era para ignorar. Solução era comer dois ou três pratos de sopa... Uma nota redentora: o apetite de leitura daquela gente. Infelizmente, poucas coisas redentoras posso aqui anotar.” Era a Rússia que Gorbatchov, um ano antes, começou a regenerar. 

         - Há um autêntico escândalo que diz bem dos tempos que vivemos: o assédio moral e sexual praticado há longos anos na Faculdade de Direito e agora denunciado. Não bastava os juízes que ditaram sentenças tendo por baixo da mesa somas chorudas; vêm agora alunas e alunos queixar-se de professores que utilizaram a nota de curso a troco de favores íntimos e nojos rácicos. Esta miséria de sociedade, de que professores e juízes são os pilares, remete para a desconfiança nos valores que hodiernamente imperam e são o reflexo de uma democracia podre em que não se pode confiar.  

         - O frio regressou em força. Dia chuvoso e escuro. Saí de casa para ir ao banco travar uma tentativa de roubo cibernético. Voltei logo para ficar à lareira onde o fogo crepitou desde de manhã. Preenchi e enviei o IRS.