terça-feira, abril 19, 2022

Terça, 19.

Estes últimos dois dias em estado de graça. Tudo o que neles entrou veio abençoado e ficou a aspergir em bênçãos cada minuto preenchido da gratidão de estar vivo: trabalho no romance, descoberta de pessoas sensíveis, recomeço das actividades no corte da relva e erva daninha, tudo sob a capa da paz interior, afagada ao silêncio que aqui é a minha bela e transcendente companhia, e nem esta tarde em Lisboa alcancei colocar os pés nas ruas, porque todo o meu corpo, com os seus 62 quilos, ondulava, cortava o espaço deixando um rasto de luz que encandeava o caminho... Estava literalmente fechado dentro de mim. Como se não existisse para os outros e muito menos para mim. A unidade cara a São Paulo – corpo e alma – cumpriu-se em plenitude e não há palavras que possam segurar a arquitectura de um ser que se passou inteiro (no sentido metafísico) para um mundo sem traços de identidade.