domingo, abril 10, 2022

Domingo, 10. 

“Sem solidão ninguém vive, mas há muitas pessoas que simplesmente não têm acesso à solidão: não têm espaço, não têm tempo, não têm transporte. Pior do que tudo é quando nem sequer têm consciência da necessidade da solidão.” Estas curiosas palavras são do Meiquinho no Público de hoje. Ele fala, talvez, da solidão esporádica, da que baralha a consciência prometendo fortalecê-la quando, na verdade, a solidão profunda, arejada, contribuiu muitíssimo mais para a dimensão abrangente da existência.  

         - A França vota neste momento para as presidenciais. Segundo as sondagens, à parte a abstenção que deve ser elevada, estão para ir à segunda volta Le Pen e Macron. Todos os outros estão equidistantes e não merecem uma palavra; mais a mais, quando Éric Zémmour e Mélenchon emitiram referências elogiosas a Putin como também a senhora Le Pen o fez. A direita e a esquerda entendem-se bem com os autocratas. Ora, acontece, que os franceses nunca gostaram de Macron (eu estou com eles, o rei nunca me enganou) e nestas eleições como nas anteriores que levaram Chou Chou ao Eliseu, o povo votou por ele sem convicção nem vontade. Marine Le Pen deu a volta às questões ideológicas e tenta agora a chance enganando os eleitores. Dizem as sondagens que a segunda volta está fifty-fifty. Seja como for, entre uma e outro o diabo que escolha. 

         - Porque, a partir da invasão da Ucrânia, o nosso olhar europeu mudou. É preciso que a Rússia fique isolada, que a Europa desenvolva outros horizontes que passem pela auto-suficiência de diversas matérias, que não entre de novo na loucura de dar prioridade à economia e os restos aos cidadãos, que a riqueza seja equitativamente distribuída, a defesa reforçada, o combate aos extremos acérrimo, a vigilância das suas fronteiras constante, o combate aos corruptos, ao terrorismo, à pobreza e à iliteracia, a todos os países e regimes ditatoriais que cercam o nosso modelo de vida onde a liberdade é a sacrossanta bandeira comum. 

         - Para o início da semana esperam-se odiosos combates na Ucrânia. Quando vejo as imagens que nos chegam, a quantidade de sofrimento que somos obrigados a ver como se de uma dor nossa se tratasse e trata com efeito, um pensamento nos acode: quantas mortes e destruição, êxodo de milhões de seres humanos, ter-se-iam evitado se a União Europeia tivesse agido de imediato e não tivesse perdido tempo a confiar num homem que despreza o ser humano, um ditador que encarcera quem ousa opor-se-lhe! 

         - A cisão está consumada. As Igrejas Ortodoxas de Moscovo e Kiev cortaram relações. O patriarca Kirill, chefe da Igreja russa, defensor da ofensiva militar na Ucrânia ordenada por Putin, com dimensão “metafísica” como ele diz, contra “as forças do mal”, que se opõem à unidade do povo e da Igreja russa. Que malabarismo, santo Deus! Dito de outro modo, o patriarca Kirill da Igreja mais importante da Rússia a proclamar a violência e a destruição, morte e sofrimento do povo de Deus! 


Uma rua de Marioupol onde a morte vagueia e fugir-lhe é agarrá-la mais além nos escombros do ódio. (foto Le Monde)