terça-feira, agosto 31, 2021

Terça, 31.

À medida que avanço no romance, deparo-me com uma carrada de dúvidas e muitas hesitações. Sobretudo as relacionadas com o autor, o narrador, a personagem, o tempo na gestação da história. Tinha de memória que José Saramago havia levantado o mesmo género de conflitos na entrevista-livro que deu a João Céu e Silva. Estive, portanto, umas duas horas esta manhã a consultar a obra e como as palavras vivem numa cerejeira, ei-las, as cerejas, que tombam uma a uma e num instante tinha não sei quantas páginas relidas. O curioso da situação, tendo privado com o escritor anos a fio, foi como se o tivesse na Rua de S. Marçal à conversa comigo. O que ele diz é absolutamente verdadeiro, porque muito antes da consagração do Nobel, o espaço e o tempo que foi o seu, derramam-se nas páginas contadas com a clareza da luz que não admite sombras. Nem de tudo gosto na sua vasta obra, acho até que lhe falta um qualquer rasgo de profundidade que navegue por entre os escombros da alma humana, um murmúrio inquieto, uma interrogação que se descaminhe no labirinto da transumância do espírito, cada livro tecnicamente perfeito, mas, para mim, infelizmente, alguns morrem aí. Todavia, esta é a minha opinião pessoalíssima e, portanto, vale o que o vale. 

         - Eu prefiro elogiar Marcelo Rebelo de Sousa no seu papel de vigilante da democracia e das normas constitucionais que no de comentador político, primeiro-ministro, capelão e animador televisivo. Estou com ele quando veta as novas Regras de Apoio à Economia Local que davam aso à extinção de processos a autarcas por incumprimento de normas de gestão financeira, projecto votado pelo PS e o PCP largamente favorecidos, se Marcelo não tivesse vetado. O que é lamentável e revela o carácter político dos dois partidos, é a lata, a indiferença democrática e a  desonestidade que patenteia.