quinta-feira, agosto 12, 2021

Quinta, 12.

O concerto de Agir, O Cantinho do Zeca, transmitido pela RTP1, dia 2 de Agosto, ano de nascimento do cantor, e que eu pude ver ontem ao serão através da internet, é uma beleza de equilíbrio, graça, bom gosto e harmonia. Um naipe de artistas, criteriosamente escolhidos pelo produtor e músico, gente que não vejo a correr os canais miseráveis que transmitem de manhã à noite todo o lixo em versão dejecto nauseabundo, ali estiveram com dignidade, paixão e amor à Arte. O povo não deve ter gostado nada, no dizer habitual dos senhores que mandam nas televisões e também nele, povo, analfabeto que se abstém de espreitar estas safiras cristalinas que nos dão por favor ou quando qualquer efeméride os obriga. Agir é o autor dos arranjos musicais, do giro de cena, da atmosfera, do calor humano que emana de todos os artistas enlaçados nos ritmos de Zeca para quem a letra servia a toada, a canção, o protesto, a revolta. Mas o excelente músico que é Agir vai mais longe: estende no tempo cada tema, embrulha-o na candura que ele próprio cria quando canta, magnetiza-o em torno de matrizes originais sem nunca perder de vista o autêntico sopro que saiu da alma do trovador. Por instantes, somos levados naquela melopeia de sons para um outro mundo, que raras vezes entrevistamos, e eu, pessoalmente, espreito diante da página em branco, num balancear entre a vida e a morte, entre o mistério e a graça, entre o silêncio e o murmúrio. Senhor de uma dicção perfeita, de graves que se adoçam, de agudos que voam, Agir é no panorama da música portuguesa um artista inteiro, único e singular. (Agora não me venham acusar que só digo mal...)  


 

         - Porque mal digo e o pior possível. A começar pelos responsáveis televisivos, tipas e tipos sem qualidade, arrastados por modas ocas, vazias, tresmalhadas, que entretêm o pateta e glorificam o idiota, selando com os seus gostos duvidosos o entretenimento familiar, todos “em família”, à manjedoura comendo os programas comprados por truta e meia, apresentados por gente de baixo preço, sem cultura nem humor, ou de humor grosseiro, do tipo manas catatuas, assente na brejeirice, que dá para esconder a cultura que não possuem, todos gajas e gajos porreiros, que passam de canal em canal levando consigo as anedotas foleiras tão velhas e relhas como eles. É só ver os programas ditos da manhã, os de fim-de-semana, os concursos, os humorísticos e temos a tabuada gravada da merdelhice nacional. Se a isto somarmos as transmissões futebolísticas, chegamos à conclusão que o povo é feliz e instruído até dizer chega. Os governantes esfregam as mãos de contentes, a polícia possui um povo admoestado, manso e humilde, os industriais e financeiros podem escolher viver noutro mundo só seu, despejarem todas as porcarias do consumo de massa no regaço destes adoradores de inutilidades, os decibéis ensurdecer, chuvas diluvianas descerem do céu irado, os calores tropicais estenderem-se à terra inteira, trazendo fome e doenças, que o bom povo lusitano não despegará os olhos do brinquedo mágico que o entretém e desvia dos autênticos problemas que assolam Portugal e o mundo inteiro. Assim a morte vai chegando em cascatas de ataraxia e orações.