domingo, agosto 29, 2021

Domingo, 29.

Eu parece que previa a desgraça no apontamento de segunda-feira passada, dia 23. Naquela chaga aberta em que se tornou o Afeganistão, grandes foram as tragédias que desde o meio da semana ocorreram. Por cima dos milhares de desesperados que tentavam a saída de Cabul, o Daesh-K (nova sigla indicativa de divisão no seio do grupo) fez deflagrar uma bomba potente que um kamikaze trazia consigo: mais de uma centena de mortos, muitos deles soldados americanos que faziam serviço de encaminhamento dos infelizes para os aviões militares, muitos feridos, o caos e o sofrimento no coração de todos os que ali se encontravam e encontram para fugir de uma vida bárbara que decerto espera a todo o povo afegão. Joe Biden prometeu vingança e não tardou: ontem os EUA desencadearam um ataque com drone contra o Daesh, digamos, mais extremista acantonado na província de Nangarhar (a Este do território). Não se sabe quem foi atingido e provavelmente não se saberá tão cedo. Biden diz ter sido morto o comandante Bill Urban. O curioso de toda esta embrulhada, é que quem cedeu a informação do sítio a atacar, foram os novos senhores do Afeganistão. Adivinha-se, portanto, o futuro da trapalhada americana na zona e no mundo. Acho que quem tem tido o sentido apurado desta desgraça criada pelos EUA e do vindoiro posicionamento geo-estratégico, é Emmanuel Macron que não quer romper com os novos dirigentes e permanece no Afeganistão contra a debandada de todos os outros países. Talvez tenha razão. Ontem estive a ver a entrevista que o porta-voz dos talibãs, Zabihullah Mujahid, ao canal France 24 e pareceu-me um homem equilibrado e em quem se pode confiar. A ver vamos, claro. 

         - “Muitos dos clichés usados para denegrir o Partido Socialista são verdadeiros. Não tem alma, nem ideologia. Não tem doutrina, nem cultura. Não tem estratégia, nem programa. Não tem afecto, nem simpatia. Não tem substância cultural, nem identidade política. Não tem orgulho, nem compaixão.” António Barreto no Público de ontem. Eu gostaria de acrescentar apenas mais esta: não é socialista, é uma coisa híbrida entre a social democracia e um clube de ricos ignorantes. 

         - Sexta-feira instalei-me na fnac do Chiado e cumpri umas saborosas três horas de trabalho no romance. Apesar da noite inopinadamente má, a cabeça cumpriu e o resultado foi satisfatório. Até à chegada da Carmo Pólvora com quem fui almoçar ao Adega da Mó. Longo, simples e saboroso repasto regado com tinto e muita conversa solta. No restaurante apenas meia dúzia de clientes.  

         - Ontem, também de inesperado (eu que adoro imprevistos), apareceu a Maria José a desafiar-me para almoçar. Levou-me ao sítio outrora do Sebastião Fortuna, hoje transformado numa zona de restauração ao ar livre. Os brasileiros estão por todo o lado, são eles que governam o espaço. Depois da arrastada refeição, fomos ao seu atelier. Maria José não pára. Encontrei-a a fazer um relógio solar para uma IPSS, portanto, à borla, na mesma técnica bizantina e romana, isto é, em milhares de pedras de várias cores, minúsculas, 2, 3 milímetros, coladas juntas formando a imagem previamente criada. Disse-me ela que cada quadrado com 20x20 cm levava um dia inteiro (nove horas!) a cobrir! A paciência, o esforço físico que ela põe não sendo já uma moçoila na obra é admirável.