quarta-feira, agosto 04, 2021

Quarta, 4. 

Vi uma reportagem ontem sobre o Líbano. É impressionante como aquelas almas resistem a tudo. Governados há anos por uma seita de ladrões e antes por guerras devastadoras, proclamam a sua fé no meio do sofrimento extremo e como único refúgio numa terra arruinada por criminosos de toda a espécie. 

         - Muito acrescentei aos meus conhecimentos sobre o barão Haussmann. Ele e Napoleão III fizeram obra, mas passaram por cima de milhares de cidadãos pobres que foram, pura e simplesmente, postos a viver sob os escombros, ao frio e à chuva. Calcula-se que a mão do prefeito de Paris, tenha acabado com 42 por cento dos bairros lúgubres e insalubres da capital em tempo record, obrigando 20, 30 mil operários a trabalhar de sol a sol. É a esses infelizes, escravos, que Paris devia render homenagem e que eu saiba nunca o fez. No final, uma vez mais, quem lucrou foram as grandes fortunas. A partir daí o preço das casas quintuplicaram. Os pobres foram encaixotados nos arrabaldes.  

         - Ai está o retrato de um país abandonado recentemente pelos EUA e prontamente cobiçado pela China e Rússia. De uma assentada morreram oito pessoas e dezenas ficaram feridas quando um carro-bomba explodiu junto à residência do ministro da Defesa do Afeganistão. Os Talibãs esperaram pacientemente anos que os russos abandonassem o seu território e de seguida os americanos dessem por finda a luta de mais de uma década. Em breve voltarão a ser os sádicos senhores de um povo sábio e pacífico que viu partir à bomba toda a sua história milenar.    

         - Até agora não tenho que dizer do Verão. Gosto deste tempo que não golpeia, onde a brisa fresca do fim de tarde banha planícies e montanhas, mar e campo. Ontem, chegando da cidade, fiquei mais de uma hora lá fora no terraço (à moda do dondoco Carlos lounge) a ler os jornais e a respirar a doce atmosfera do Estio plácido. O Black, sendo bichano, está sempre disposto à brincadeira e, por isso, entrei na festa porque a aragem fresca que corria a isso convidava. Em breve tenho figos maduros. Vou tentar arranjar paciência para apanhar um quilo de amoras e fazer pela primeira vez compota. Os cachos pendem com tanto fruto negro, mas não deixam que eu deslize as mãos para os colher. Terá que ser por etapas, um tanto cada dia. Também o diospireiro não pode com tanto fruto. Nunca vi nada assim: os ramos carregados quase tocam o chão. Resta as maçãs que eu aceno com ternura porque é quase certo que pouco comerei, sendo os pássaros esfomeados que as ingerem. Outra curiosidade: este ano não há sombra de um só mosquito e mesmo moscas e formigas quase não se avistam. Só as abelhas continuam a preferir este espaço abençoado por Deus. De vez em quando ferram-me, mas eu sorrio-lhes em admiração pela sua sumidade minúscula que não admite granduras. Que mais? Vou nadar meia hora. Antes gostava de falar de Nero e Santo Agostinho que foi obrigado a prisão domiciliária e (talvez) à morte pelo imperador. Em 64 d.C. o apóstolo devia estar em Roma e (talvez) tivesse sido presente a Nero Cláudio César que o mandou assassinar. Agostinho desaparece misteriosamente por essa altura e até hoje não foi encontrada a sua sepultura. Suetónio e Tácito, naturalmente, não falam disso. Pelo menos não recordo qualquer referência.