terça-feira, junho 22, 2021

Terça, 22.

“Menos notável e muito menos inédito é o facto de ter culpado os subordinados, que castigou. Não muito original é também o facto de se ter ilibado de qualquer responsabilidade política.” Palavras de António Barreto referindo-se a Fernando Medina que eu, se me permitem, torno extensivas a toda a classe política que nos governa. 

         - Desta vez vou nomear o seu nome: Adão e Silva. O comentador que tantas magnificências teceu a António Costa por todo o lado onde celebra a sua sapiência política ou de historiador, não sei bem, foi nomeado pelo seu ídolo para a comissão das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, durante cinco anos, não me enganei, cinco aninhos rechonchudos, pela módica quantia mensal de 3.745,26 euros, mais 780,36 para despesas de representação. Não se diga que Costa não é um homem reconhecido. Se a tudo isto juntar o ordenado de professor auxiliar no ISCTE, colaborador do Expresso, jornal Record, RTP, RSF temos um sardanapalo de alto coturno. Esta nobreza da subserviência, que ama de amor fátuo os pobres, despeja estatísticas, compara números e épocas, sistemas políticos e faz da folha Exel a sua bíblia, não repara que os estratos mais frágeis da sociedade continuam a viver sem dignidade enquanto eles vivem à grande e à francesa. Se Deus me deu algum dom, e esse foi a facilidade de escrever e reflectir, ponho-o ao serviço daqueles que ainda mal sabem pensar, embora o país democrático diga que o analfabetismo pertence ao Estado Novo. Segundo as suas estatísticas, em 1970, havia 29% de analfabetos; hoje somos um país de gente cultíssima. Basta ouvir falar os senhores deputados, ministros e jornalistas para percebermos em que nação vivemos. 

         - Ai vida, vida! Nem a velhice deixas descansada. No que a mim me toca, nem a dor posso viver no ripanço.  

         - Passei na farmácia, em Lisboa, e o farmacêutico, assim que me viu: “Esteve cá o meu Simão e ofereceu-me uma prenda que me deixou (um leque de mãos) ...” Desaparece. Volta daí a instantes com os três volumes do meu Diário editados e pede-me que os autografe. Digo-lhe não faço isso a granel. Faz uma cara desconsolada de menino infeliz. “Está bem – digo – um de cada vez. Hoje levo um, na próxima semana outro e depois o último.” Abriu um grande sorriso: “Veja como o meu Simão é querido.”