domingo, junho 06, 2021

Domingo, 6.

O PCP incompreensivelmente sempre esteve contra o confinamento. Vai daí, sendo a junta e a câmara dele, as festas de Pinhal Novo não podiam faltar até porque são mais importantes em votos que o coronavírus chinês. O largo em frente à estação de comboios, está transformado num arraial de montanha russa, carros de choque, carroceis e tudo o que anima a malta. Esta é a imagem do que poderá vir a ser a regionalização tão querida da esquerda. O país vai andar a duas dimensões e os interesses partidários e dos caciques à velocidade da luz. 

         Estive a ler no Público o artigo de três páginas do homem da democracia liberal, João Miguel Tavares. É uma peça cheia de contradições e não propriamente um texto corrido, mas antes tópicos para um trabalho melhor pensado. Gosto de o ler porque ele documenta-se bem e leva atrás do trabalho de pesquisa a crítica mordaz que é habitualmente a sua e me agrada sobremaneira. Exemplo. Escreve ele a dada altura: “O grande problema da política portuguesa não é o radicalismo dos seus extremos – é o conformismo do seu centro.” Logo no parágrafo seguinte: “Aquilo que nós precisamos, e não temos, nem sequer como desejo, é de um radicalismo do centro, ou de um  centrismo radical.” Em que ficamos? Então num caso como noutro não é de radicalismo que se trata e, portanto, ambos reprováveis?  

         - Desde que terminei a leitura de Alegria que me tenho remetido à badalação livre dos dias, espreitando de quando em vez o romance e arquitectando no meu cérebro o batismo de Volodymir no tempo em que por ordem de Estaline a Igreja Ortodoxa foi banida, as igrejas incendiadas ou destruídas, e ele teve que ser batizado depois da meia-noite na catedral de Anadyr, às escondidas das autoridades de Tchukotka. À parte isto, constantes idas a Lisboa, ora à oftalmologista, ora ao estomatologista, numa dança que não sei dançar e sou pouco dado a apreciar. Amanhã lá tornarei.

         - Mergulhei hoje e espero continuar a fazê-lo até Setembro. Então voltarei a adormecer a água e deixarei este Portugal dos pequeninos para uma temporada em Paris. Regas quotidianas. Silêncio. Plenitude das tardes quentes no oceano de verdura e cânticos da passarada. A casa cheira à obra de Julien Green quando o li pela primeira vez numa tarde de verão como esta. Essa recordação traz-me sucessivos momentos de luz, de serenidade, de harmonia. O Sol descarrega radiações incandescentes para dentro destas paredes. Aqui respira-se saúde e paz e a 6ª Sinfonia de Beethoven converge de cada canto desta sala para centro do universo.