domingo, junho 27, 2021

Domingo, 27.

Absolutamente de acordo com Nuno Palma e sem qualquer entravo assino de cruz tudo o que ele escreve hoje no Público. O artigo é a resposta a Fernando Rosas que há uma semana, também no mesmo jornal, tece laudas sectárias sobre a política de desenvolvimento de Portugal no tempo do Estado Novo. Diz Palma: “Portugal continua a ser dos países mais atrasados da Europa a nível educativo, mesmo entre os jovens (eu diria até entre eles); continua a ser dos mais próximos da Turquia, mesmo para as gerações posteriores ao 25 de Abril.” E pergunta: “Também isto é culpa do Estado Novo?” Quem me lê regularmente, verá neste texto muito das minhas críticas e referências ao estado actual do país. Quando falo – e muitas vezes o faço – da tremenda decepção que é para mim a esquerda, refiro-me precisamente a aspectos enunciados pelo professor, mas também ipsis verbis à obsessão em professar: quem não é por mim, é contra mim. Dito de outro modo, só é verdade aquilo que vem da esquerda, tudo o mais é um retorno ao passado fascista, evidentemente. Mesmo quanto à cultura que no artigo é abordada, pessoalmente, não vejo relação de causa-efeito na melhoria social e cultural presente. Sim, dizem as estatísticas que há menos ou quase nada de analfabetismo, e isso em que é que se traduz quando vemos o que por aí vai. O país concreto, inter-relacional, solidário, tratando assuntos com alguma profundidade, relacionando-os entre si, entre épocas, entre regimes é porventura do conhecimento instituído de hoje? Temos indústria? Gente culta que não ande ao sabor da corrente? Políticos com amplidão de forma a construir o futuro? Ou estamos como sempre estivemos: Deus, pátria, futebol? Uma classe média cada vez mais encostada à baixa, na maneira de pensar, de articular o dia-a-dia, resignada e submissa, dependente de subsídios, reformas, do dinheiro ganho através do comércio que mais facilmente permite fugir aos impostos? Vencemos a pobreza? Somos enquanto povo mais civilizado? Temos políticos honestos, esclarecidos, visionários? Álvares Garoupa, citado por Palma, acrescenta: “O Estado Novo foi um regime do seu tempo, que até conseguiu fazer reformas a nível educativo, de justiça e de integração europeia.” Claro, toda esta análise é feita a partir do passado, antes de Salazar chegar ao poder e a relação que tanto um como o outro fazem, é uma viagem no tempo comparando o antes do Estado Novo e o depois da segunda Grande Guerra. A democracia leva 50 anos, tantos quantos o Estado Novo e eu o que vejo em muitos domínios é uma paragem, uma litania permanente entre esquerda e direita, uma maratona permanente pelo poder, e já agora uma imensa procissão de políticos corruptos a caminho dos tribunais...  É por sermos tão dependentes das esmolas da UE, que somos dos mais acérrimos povos a defender o patrão, aquele que nos tira a fome.