sexta-feira, junho 18, 2021

Sexta, 18.

Aqui estamos nós impedidos de sair para onde nos apetece. A partir de hoje e nos próximos fins-de-semana ficamos confinados ao distrito que nos abriga, Isto porque os casos de coronavírus aumentaram substancialmente. Somos qualquer coisa como 2,9 milhões de reclusos na Área Metropolitana de Lisboa. Pergunto eu: então não era previsível? Mais uma questão inocente: que política é a da DSG? Será que tanto o Governo como o organismo da saúde não sabem em que país vivem? O povo que educaram ao longo de 50 anos de democracia? 

         - O que por aí vai com os dinheiros da “Bazuca”! Quem conseguir ocupar o poder durante os próximos anos, vai sair rico. Os partidos já só sonham com a parte que lhes cabe dos 1,8 biliões de euros que deverão começar a ser distribuídos a partir de Agosto. Dizem, ufanos, os nossos amantíssimos governantes, que fomos os primeiros a entregar o estudo de aplicação do euromilhões e fizemo-lo às seis da madrugada! Merecemos, portanto, ser recompensados em primeiro lugar como bons pobres que somos. Recordo-me que já em Janeiro deste ano se dizia que o bolo devia chegar no início do ano, dada a pobreza que cresce pelo país. Agora está apontada a esmola para Agosto. A ver vamos o que nos dizem a Hungria e a Polónia. 

         - Passei a noite em claro com dores. Pelas quatro da madrugada desci à cozinha para tomar um Ben-u-Ron e daí a algum tempo desapareci mergulhado no sono. Não sentia propriamente a ferraille, mas sangrava, tinha dificuldade em salivar. Andei toda a manhã tonto, ainda com dores, estendi-me na chaise longue do salão e passei pelas brasas. O resto do dia, foi passado ao telefone, a fazer as papas que devo comer até segunda-feira. Isto não e pera doce! O António que é medricas com a saúde, dizia-me que preferia ir fazer de novo a guerra na Guiné que submeter-se a uma operação destas. E de facto. No bloco operatório, anestesiado, não se sente rigorosamente dores, mas o trabalho do médico vi-o através do cérebro. Fui acompanhando todos os passos, sentindo a broca a perfurar o osso, depois a entrada dos parafusos, a aspiração dos pequenos pedaços de carne, as agulhas, os dedos do cirurgião. Mas o que me perturbou até às lágrimas, foi o gesto humano do Dr. Pedro Santos de quando em vez acariciando-me o braço como a dar-me coragem para o que era na realidade difícil. A dada altura ele disse: “Está tudo a correr muito bem, a empatia que temos um pelo outro conta muito.” Referia-se, decerto, à conversa que trouxe ao diálogo a irmã que comigo trabalhou na antiga Emissora Nacional.