sábado, junho 05, 2021

Sábado, 5.
A imagem arrepiante do jornalista Román Protasevich a responder a perguntas estudadas diante das câmaras de televisão da Bielorrússia, visivelmente sedado, transporta-nos ao tempo dos gulags de Estaline, Khrushchov, Brezhnev e por fim Putin. Era sinistra, trovão medonho que troou sobre milhões de russos, reduzindo-os a seres sem dimensão humana, manipulados e forçados a aceitar uma seita de criminosos que se apoderou das suas vidas e da Santa Mãe Russa. Espero que o Ocidente e os EUA onde a democracia se estabeleceu acredito definitivamente, conjuguem esforços para isolar regimes totalitários que só vingam ajudados pelas trocas comerciais com o mundo livre. Todas essas ditaduras comunistas de um só homem, apoiado nas forças armadas, não deviam merecer a consideração dos países civilizados onde a palavra é livre e o pensamento plana sobre divergências salutares que não oprimem antes consentem a diversidade e a liberdade de expressão.

         - Voltemos ao sujet que atraiu Teolinda Gersão: a incapacidade de entre duas grandes guerras os artistas (muitos) assumirem a sua homossexualidade. O burguês Thomas Mann, tendo construído a sua vida sob um embuste, obcecado pela fama, pelo dinheiro, a vida lá no alto, privando com os gananciosos, “os industriais”, num faz-de-conta constante. Foram raros os escritores que assumiram e trabalharam sem a capa das personagens femininas que se percebe terem reacções, paixões, gostos e sentimentos próprios da identidade masculina, em puro travestismo. André Gide que sempre se esteve nas tintas para o que dizia a foule, os rapazes imberbes por preferência, nunca se privou de correr Paris no seu encalço. Ele sabia porque o romancista lhe havia transmitido, que Julien Green mantinha um diário, digamos, “indecente”. Os dois escritores falavam disso, Green conheceu o sucesso logo no início de carreira, escondendo a sua natureza sexual atrás das personagens Adrienne Mesurat, Moira, Leviathan e tantas outras, atribuindo-lhes atitudes e gostos que vivia com homens e rapazes com quem mantinha relações sexuais – e foram centenas. Mais tarde, num momento de desespero por não poder ser sincero (ele era pela verdade), lamentou ter-se ajustado à moral burguesa, simulada e tergiversante, afirmando que as personagens femininas dos seus livros não passavam de homens dissimulados. Aliás, Paul Morand, havia dito o mesmo no seu Diário, ele que não pôde ler o Diário ad mortem de Green, entendido como era em mulheres... . Gide expôs-se e ao fazê-lo acrescentou à sua obra a imortalidade. Hoje continua a ler-se Gide e muito menos Green, apesar de ser um grande escritor. Mas o autor de Les Faux-Monnayeurs foi corajoso, e conseguiu agitar as mentes e submetê-las a outros valores e ciências sociais. Muitos dos escritores contemporâneos de Julien Green, disfarçaram os seus gostos em casamentos de fachada. Como ainda hoje se passa com alguns dos meus amigos, dos vossos amigos porventura para quem a vida nunca poderá ser uma travessia feliz, nem para eles nem para as mulheres e muito menos para os filhos. Não são felizes no murmúrio consigo mesmos, como nas relações do quotidiano – há sempre algo que lhes passa ao lado, uma vida dupla que se derrama na escuridão, no submundo da consciência, uma personalidade que não se aperfeiçoou. Acabam por morrer escondidos da vida plena, insatisfeitos com a covardia que os tomou como uma doença sem cura nem salvação. E até o adorno que a mulher é, diluísse na mentira que os atormenta para todo o lado – o outro que o observa detecta o que eles com denodo querem esconder. É uma obsessão. 

         - Pelo Algarve vai uma debandada apressada. Boris Johnson travou entusiasmos portugueses e, sempre atento e indiferente à política cúmplice e desastrosa da UE, ordenou que a partir de segunda-feira todos os nacionais que chegarem de Portugal ficam sujeitos a quarentena. Daí os aviões não têm parança e os areais de ouro esvaziam-se estorvando assim os entusiasmos de António Costa e Marcelo de Sousa, as duas argentarias da desgraça airada. Que diabo, Mr. Johnson, listen to me: o Algarve é sol e mar e ali o coronavírus não é convidado a banhar-se! 

         - Dia magnífico. Trabalhei na mesa no terraço de manhã e à tarde comecei, enfim, o tratamento da água, estendi as espreguiçadeiras, abri guarda-sóis e olhei deslumbrado o céu de azul imaculado. Eis que o Verão chegou! Aleluia!