quarta-feira, junho 16, 2021

Quarta, 16.

Talvez a verdadeira geringonça seja a que os partidos conseguiram em Israel. É certo que foi para correr definitivamente (espero) com o corrupto Netanyahu; ainda assim é de louvar o acordo que arrasta todas as correntes políticas da direita à esquerda. A nossa “geringonça” ao lado daquela, é um pequeno negócio de interesses mesquinhos e vaidades esparsas. 

         - Fui ontem ao encontro da pintora Teresa Magalhães respondendo ao seu pedido de véspera. Ela quis oferecer-me o catálogo da exposição que teve lugar na Galeria Valbom, em Lisboa, e conta com o texto do entretanto falecido António Rodrigues. Os convites para expor agora que Marcelo R. de Sousa oferece o físico ao combate à Covid e ao primeiro-ministro, alargam-se e ela quer absolutamente que eu autorize a inserção do meu texto numa próxima exposição. Já lhe expliquei que o referido escrito foi pensado para uma temática especifica, mas ela teima que pode figurar em qualquer uma. Bom. Justamente os textos que escritores e estudiosos de arte, críticos e amigos têm o bom hábito de acrescentar às exposições como material de apoio do visitante. A Maria João com quem estive segunda-feira, entregou-me dois catálogos da exposição – um para ela, outro para mim -, sobre o tema Casa dos pintores Martinho Costa e Rui Macedo neste momento patente na sua galeria. Quem faz a apresentação é o escritor Gonçalo M. Tavares com um texto francamente... É pena porque o tema tem pano para mangas como se costuma dizer. Esperei que a Teresa acabasse de ler o que traduzira da pintura Gonçalo Tavares e logo ela: “É fraco, não diz nada.” Talvez diga, mas com outras palavras e sensibilidade. 

         - Parece que anda aí mais um campeonato não sei de quê, porque jogos disto e daquilo entopem a informação deixando de lado os verdadeiros problemas da humanidade. E do que quero falar é, justamente, de humanidade. Vi no canal 2 francês uma imagem impressionante que me comoveu. Um jogador tinha caído de súbito inanimado no relvado em pleno jogo. Depressa foi socorrido e parecia ter morrido no mesmo instante em que soçobrou. Logo os companheiros, em lágrimas e expressões de horror, cercam o infeliz evitando que as câmaras assassinas das televisões filmassem o triste acontecimento. Este gesto de uma humanidade sem fim, revela os corações frágeis que a informação desumanizada dos nossos dias não respeita nem venera. Quanto pior melhor é o rasto absurdo da notícia. Face a um mundo onde triunfa a vulgaridade, um gesto destes é de enaltecer. 

         - A dor do lado direito da região lombar que me levou em Janeiro ao hospital da Luz, não há meio de passar. Basta que pegue na roçadora uma horita, para ficar estragado dois dias seguidos. Conclusão: tudo patina por aqui. Hoje não deixei este espaço radioso e meti ombros a tarefas mais ligeiras como limpar o terraço nas traseiras da casa, apanhar meia-dúzia de ameixas, adorar as figueiras que abarrotam de figos, nadar. Dizem-nos que hoje e amanhã a chuva vai voltar. Com efeito, ela já caiu forte no Norte com estragos consideráveis na agricultura e casas. Tempo, portanto, incerto. As horas foram intervaladas com trabalho exterior, este registo, revisão do romance. Desse ponto de vista, jornada plena. São 17 horas e seis minutos. O Sol deu um ar de sua graça pelo meio-dia e espreguiçou pela tarde a dentro. As hortênsias disseram-me há instantes que agradecem. Uma abelha ferrou-me num braço, outra numa mão. Amanhã vou descascar a dentuça de cima. Chega por agora.