quinta-feira, maio 16, 2019

Quinta, 16.
O João Corregedor recortou do Expresso a entrevista que o cardeal Gianfranco Ravasi, presidente do Conselho Pontifício, para eu ler. Sobre sua reverência nada a dizer. No fundo ele faz tudo o que pode para surfar nas águas ditas da modernidade e nesse aspecto segue as normas da Igreja. Assim como o jornalista que o entrevista, que começa a conversa deste modo: “Considera-se uma pessoa de sucesso?” As cinco páginas que se seguem, contêm em si toda a modernidade da imprensa de hoje, sendo matéria de estudo e análise para as faculdades de jornalismo que por aí se multiplicam. O problema é que somos demasiado pequenos e as cunhas e compadrios de toda a ordem, obrigam os novos profissionais, para não perderem a honra, a fazer harakiri.  

         - Parece que a equipa que aconselha o Presidente da República na concessão de condecorações, como no caso de Joe Berardo ou Cristiano Ronaldo, vai sugerir a Marcelo que retire as honras ao madeirense. Gostava de fazer uma pergunta inocente, posso? Se isso acontecer vai na enxurrada também o “maior jogador do mundo” que fugiu ao fisco dando um péssimo exemplo cívico?

         - Estou revoltado. Então não é que a Europa das musicatas, não deu nenhum voto à nossa patriótica canção, votada democraticamente pela plebe culta, de bom gosto e ouvido musical, assessorada pelo júri altamente conhecedor de música, homens e mulheres de TV, portanto, com bagagem refinada e importância televisiva, durante um espectáculo que pôs em sentido todas as cadeias-olheiras de televisão do mundo, que nos custou uma fortuna, em fatiotas e sorrisos de plástico, barbas postiças e duas personagens desengonçadas que obrigaram os portugueses a implorar à Virgem de Fátima que não os desmembrasse em bocados em palco, numa gala cheia de glamour onde não faltou até o pacóvio sorriso do Malato. Francamente. Merecíamos mais. Nós que enfeitiçámos a União Europeia, somos o país com maior sucesso no mundo, temos um mágico a governar-nos, levámos à Eurovisão os melhores palhaços circenses, e vai na volta nem nos encaixaram nos dez mais melodiosos das dúzias de desarmónicas presenças que por lá desfilaram.

         - Como a temperatura desceu e uma espécie de outono pardacento entrava e saía do horizonte, meti mãos à obra e comecei a cortar o relvado que mais parecia mato denso. As máquinas não querem nada comigo ou eu com elas. Por isso, o corta-relva levou quase uma hora a aceitar a minha competência técnica que passou por uma revisão ao depósito da gasolina, do óleo e da limpeza da vela. Restava encontrar forças para puxar a corda que actua a ignição – uma trabalheira! Ao fim de muitas tentativas, com a Piedade e dizer que era preciso mais gana, gana que eu não possuía, decidi ir ler dez páginas do best-sellers para mim sem qualquer interesse, mas que religiosamente devo acabar esta semana. Depois voltei à carga. Puxei não sei quantas vezes pelo gatilho, até que o motor rosnou, murmurou, salivou, entaramelou e por fim trabalhou. 


         - Há uma história impressionante que retrata bem o tipo de sociedade que estamos a construir. No metro de Nova Iorque, uma rapariga de 25 anos, atira deliberadamente um ancião para fora da carruagem. O pobre homem cai estatelado na gare. A ambulância veio recolhê-lo e leva-o para o hospital onde acaba por morrer. A assassina foi presa.