Quinta,
16.
O
João Corregedor recortou do Expresso a entrevista que o cardeal Gianfranco
Ravasi, presidente do Conselho Pontifício, para eu ler. Sobre sua reverência
nada a dizer. No fundo ele faz tudo o que pode para surfar nas águas ditas da
modernidade e nesse aspecto segue as normas da Igreja. Assim como o jornalista
que o entrevista, que começa a conversa deste modo: “Considera-se uma pessoa de
sucesso?” As cinco páginas que se seguem, contêm em si toda a modernidade da
imprensa de hoje, sendo matéria de estudo e análise para as faculdades de
jornalismo que por aí se multiplicam. O problema é que somos demasiado pequenos
e as cunhas e compadrios de toda a ordem, obrigam os novos profissionais, para
não perderem a honra, a fazer harakiri.
- Parece que a equipa que aconselha o
Presidente da República na concessão de condecorações, como no caso de Joe
Berardo ou Cristiano Ronaldo, vai sugerir a Marcelo que retire as honras ao
madeirense. Gostava de fazer uma pergunta inocente, posso? Se isso acontecer
vai na enxurrada também o “maior jogador do mundo” que fugiu ao fisco dando um
péssimo exemplo cívico?
- Estou revoltado. Então não é que a
Europa das musicatas, não deu nenhum voto à nossa patriótica canção, votada
democraticamente pela plebe culta, de bom gosto e ouvido musical, assessorada
pelo júri altamente conhecedor de música, homens e mulheres de TV, portanto,
com bagagem refinada e importância televisiva, durante um espectáculo que pôs
em sentido todas as cadeias-olheiras de televisão do mundo, que nos custou uma
fortuna, em fatiotas e sorrisos de plástico, barbas postiças e duas personagens
desengonçadas que obrigaram os portugueses a implorar à Virgem de Fátima que
não os desmembrasse em bocados em palco, numa gala cheia de glamour onde não
faltou até o pacóvio sorriso do Malato. Francamente. Merecíamos mais. Nós que
enfeitiçámos a União Europeia, somos o país com maior sucesso no mundo, temos
um mágico a governar-nos, levámos à Eurovisão os melhores palhaços circenses, e
vai na volta nem nos encaixaram nos dez mais melodiosos das dúzias de desarmónicas
presenças que por lá desfilaram.
- Como a temperatura desceu e uma
espécie de outono pardacento entrava e saía do horizonte, meti mãos à obra e
comecei a cortar o relvado que mais parecia mato denso. As máquinas não querem
nada comigo ou eu com elas. Por isso, o corta-relva levou quase uma hora a
aceitar a minha competência técnica que passou por uma revisão ao depósito da
gasolina, do óleo e da limpeza da vela. Restava encontrar forças para puxar a
corda que actua a ignição – uma trabalheira! Ao fim de muitas tentativas, com a
Piedade e dizer que era preciso mais gana, gana que eu não possuía, decidi ir
ler dez páginas do best-sellers para
mim sem qualquer interesse, mas que religiosamente devo acabar esta semana.
Depois voltei à carga. Puxei não sei quantas vezes pelo gatilho, até que o
motor rosnou, murmurou, salivou, entaramelou e por fim trabalhou.
- Há uma história impressionante que
retrata bem o tipo de sociedade que estamos a construir. No metro de Nova
Iorque, uma rapariga de 25 anos, atira deliberadamente um ancião para fora da
carruagem. O pobre homem cai estatelado na gare. A ambulância veio recolhê-lo e
leva-o para o hospital onde acaba por morrer. A assassina foi presa.