Quarta, 8.
Ontem
acesa discussão na Brasileira com o João. Como é habitual, ele apoia-se na lei
para esgrimir argumentos partidários e impor preferências ideológicas, como se
as leis fossem entes superiores que orientam os seres perdidos na confusão dos
dias, validando-lhes condições normativas restritas de vida. Disse e redigo: o
PCP devia ter preparado melhor a proposta dos professores (9A4D2M) e a sua
oportunidade à discussão na Assembleia. Foi lamentável ver o CDS e o PSD
aprovar ao seu lado um texto que nada tinha a ver com os seus princípios,
apenas para colher os votos da classe guerreira. O que ficou dos despojos
lamentáveis, é a confusão, o desinteresse dos portugueses pela política, a
imagem ainda mais degradada do Parlamento e dos políticos. Se as eleições ao
Parlamento Europeu sempre foram um bocejo, desta vez vão ser o voltar de costas
a um mundo para o qual o povo nunca foi tido nem achado.
- Muito mais calmo foi o nosso almoço mais
tarde na Trindade do Chiado. Conversámos como dois cavalheiros distintos, sem
que houvesse de nenhuma das partes a pressão do convencimento, a pata
partidária. Falou-se de Inteligência Artificial, do meu romance O Pesadelo dos Dias Felizes em análise
numa editora, de um certo passado solidário apesar da censura e da PIDE, de amigos
comuns. João Corregedor fica outro quando não é sacudido pelas questões
partidárias e até o seu rosto irradia uma espécie de felicidade tangente à
beatificação...
- O Inverno voltou e com ele os dias
cinzentos, com cortinas de chuva miúda e um frio ligeiro a convidar ao remanso
da casa. Contudo, dias antes, sob o sol claro e em manhãs pintadas como
aguarelas de cor e movimento, neste lugar isolado e pacato, o que os meus olhos
admiravam mal abria a janela era o movimento de um rancho de mulheres entregues
aos afazeres da vinha bebé. Que esplendor, que alegria! De súbito o bacelo
magnificamente alinhado, trazia de volta a azáfama dos braços acariciando cada
pé, moldando cada sopro de vida na prática milenar do campo restituído às suas
origens.