quarta-feira, maio 22, 2019

Quarta, 22.
Uma equipa de televisão da RTP1, veio outro dia à Brasileira para nos entrevistar. Queriam ouvir-nos dissertar sobre a União Europeia. Logo se instalou o burburinho, devido à disparidade de opiniões, convicções políticas, económicas, etc. Nenhum de nós se mostrou disponível para atender a jornalista, por sinal de uma simpatia extraordinária e o cameraman gentil como tudo. Depois, ao longo da manhã, desertou o Mário (economista), o Castilho, o António, o Brito, acabando por ficar eu com o João Corregedor que se afastou dos profissionais de TV e a Tereza Magalhães que entrou entretanto. Visivelmente era comigo que eles queriam conversar porque, diziam, tinha as ideias sobre a Europa mais originais e (digo eu) controvérsias. Ora a informação adora tipos como um tal Helder de Sousa, dos outros existem a paletes empurrados por essa informação que os forma a granel. A jornalista não me largou – era comigo que queria registar opinião. Mas eu empurrei-a para a pintora que aceitou dizer qualquer coisa. Instalada a câmara, o micro e a irresistível entrevistadora, a Tereza foi dizendo de uma forma solta e saltitante, o que pensava. Grosso modo, nada de substancial ou novo, portanto, (digo eu) pouco interessante para a televisão de hoje. Assim, o que ontem passou no telejornal, foi apenas dois breves instantes do muito que ela disse. “Os intelectuais, embora mantenham viva a tertúlia, não se mostraram disponíveis para falar” disse a nota introdutória da redacção. Bom. Eu sou useiro e vezeiro naquela situação. O ano passado, veio à Brasileira uma jornalista alemã procurar-me com o intuito de me entrevistar. Não me apanhou logo. Quando apareci, ante a minha surpresa e da irmandade tertuliana, disse que vinha porque espreitava com frequência o meu blogue. Agradeci e neguei-me a falar. Com efeito, se escrevo, talvez seja para me esconder atrás das palavras. E se ela dizia conhecer o que penso, para quê repetir-me? E nem falo de um outro inglês que, estando eu em Estrasburgo, me enviou um e-mail a solicitar conversa. A este, embora não seja meu hábito, malcriadamente, nem respondi.


         - Bem vistas as coisas, a razão talvez seja esta: conheço de perto os horrores da exposição. Não me importo de não existir para a turbamulta, interessa-me apenas estar no coração dos meus leitores, mesmo que seja um só. Eu contei à bonita jornalista que havia trabalhado na mesma estação, falei do programa Feira Literária, realizado pelo Manuel Varela, e da equipa fazia parte a saudosa Alice Cruz, o marido Rui Romano que foi meu amigo até morrer, o João Perry e eu. Ela perguntou-me como me chamava, e quando soletrei o meu nome, as campainhas tocaram no seu cérebro e os olhos abriram-se num deslumbre... “Mais uma razão para me responder às perguntas.” Evidentemente, em off despejei o saco e fui ao ponto de afirmar que um dia a Europa do euro vai fazer a guerra contra os países que se queiram libertar do cárcere em que Bruxelas os segura à força. O exemplo do Reino Unido, com o calvário de urtigas e calhaus, humilhações e maus-tratos, é deliberado – exemplo para todos os outros eurocépticos. A União Europeia é um embuste, Bruxelas um ninho de corruptos.