Quarta,
22.
Uma
equipa de televisão da RTP1, veio outro dia à Brasileira para nos entrevistar.
Queriam ouvir-nos dissertar sobre a União Europeia. Logo se instalou o
burburinho, devido à disparidade de opiniões, convicções políticas, económicas,
etc. Nenhum de nós se mostrou disponível para atender a jornalista, por sinal
de uma simpatia extraordinária e o cameraman
gentil como tudo. Depois, ao longo da manhã, desertou o Mário (economista), o
Castilho, o António, o Brito, acabando por ficar eu com o João Corregedor que
se afastou dos profissionais de TV e a Tereza Magalhães que entrou entretanto. Visivelmente
era comigo que eles queriam conversar porque, diziam, tinha as ideias sobre a
Europa mais originais e (digo eu) controvérsias. Ora a informação adora tipos
como um tal Helder de Sousa, dos outros existem a paletes empurrados por essa
informação que os forma a granel. A jornalista não me largou – era comigo que
queria registar opinião. Mas eu empurrei-a para a pintora que aceitou dizer
qualquer coisa. Instalada a câmara, o micro e a irresistível entrevistadora, a
Tereza foi dizendo de uma forma solta e saltitante, o que pensava. Grosso modo,
nada de substancial ou novo, portanto, (digo eu) pouco interessante para a televisão
de hoje. Assim, o que ontem passou no telejornal, foi apenas dois breves
instantes do muito que ela disse. “Os intelectuais, embora mantenham viva a
tertúlia, não se mostraram disponíveis para falar” disse a nota introdutória da
redacção. Bom. Eu sou useiro e vezeiro naquela situação. O ano passado, veio à
Brasileira uma jornalista alemã procurar-me com o intuito de me entrevistar.
Não me apanhou logo. Quando apareci, ante a minha surpresa e da irmandade
tertuliana, disse que vinha porque espreitava com frequência o meu blogue.
Agradeci e neguei-me a falar. Com efeito, se escrevo, talvez seja para me
esconder atrás das palavras. E se ela dizia conhecer o que penso, para quê
repetir-me? E nem falo de um outro inglês que, estando eu em Estrasburgo, me
enviou um e-mail a solicitar conversa. A este, embora não seja meu hábito, malcriadamente,
nem respondi.
- Bem vistas as coisas, a razão talvez
seja esta: conheço de perto os horrores da exposição. Não me importo de não
existir para a turbamulta, interessa-me apenas estar no coração dos meus
leitores, mesmo que seja um só. Eu contei à bonita jornalista que havia
trabalhado na mesma estação, falei do programa Feira Literária, realizado pelo Manuel Varela, e da equipa fazia
parte a saudosa Alice Cruz, o marido Rui Romano que foi meu amigo até morrer, o
João Perry e eu. Ela perguntou-me como me chamava, e quando soletrei o meu
nome, as campainhas tocaram no seu cérebro e os olhos abriram-se num
deslumbre... “Mais uma razão para me responder às perguntas.” Evidentemente, em
off despejei o saco e fui ao ponto de
afirmar que um dia a Europa do euro vai fazer a guerra contra os países que se
queiram libertar do cárcere em que Bruxelas os segura à força. O exemplo do
Reino Unido, com o calvário de urtigas e calhaus, humilhações e maus-tratos, é
deliberado – exemplo para todos os outros eurocépticos. A União Europeia é um embuste, Bruxelas um ninho de corruptos.