segunda-feira, maio 08, 2017

Segunda, 8.

Voltemos ao artigo de frei Bento Domingues. Decerto os leitores mais assíduos deste Diário, encontram no dizer do monge pregador, muitas semelhanças com aquilo que de quando em vez eu verto para estas páginas e desde há muitos anos. Isto porque quanto mais reflito sobre a palavra de Jesus Cristo, à medida que vou avançando no estudo da Bíblia, hoje na comparação do texto traduzido por Frederico Lourenço, sou levado a interrogar-me sobre a figura de Deus, se é que Deus possui figura ou qualquer representação corporal. O que eu quero expressar é a concomitância com a raiz divina na sua essência primeira e aquilo que os tempos trouxeram até nós. Há dois elementos que têm transferido imenso sofrimento à humanidade propalados pela Igreja de Roma: a ideia de que somos seres vindos ao mundo para padecer horrores e que não fomos feitos para a felicidade. Mais: a simples palavra do Senhor, seja ela qual for, é uma cruz de stresse e dolências que temos de carregar. Não fomos feitos para nenhuma espécie de bem-estar e gozo terreno. A Igreja elegeu em primeiro o direito o prazer sexual, à escolha da santificação do corpo, como aquele em cujas adulações cai o selo da eternidade e o afastamento definitivo à santidade através da ressurreição – princípio matriz da nossa união a Deus. Durante séculos reconheceu ou consentiu na pena de morte, enquanto ia carregando eunucos e desesperados a viver com o seu próprio corpo no chamamento gritante que na adolescência nos impele às maiores loucuras, esquecendo-se que esse mesmo corpo que deseja, cede e se levanta perante os perigos da incerteza e do martírio, foi obra do Criador. Ora, o que acontece, é que não somos santos e, por isso, somos arrastados pela beleza, o murmúrio sensual de um corpo passando junto de nós, o odor que desperta nos sentidos o desvario, a precisão de satisfazer as necessidades primárias que nem o avanço da civilização proibiu e deviam ser momentos de santificação não fora o controlo que a Igreja exerce sobre cada um de nós. Ela, a Igreja, faz depender a passagem por este mundo, da aceitação do sofrimento que os judeus causaram a Jesus Cristo e que O levou à morte. A mim basta-me saber que alguém sofreu não para se orientar nas riquezas e poderes terrenos, mas por amor de todos os homens seja qual for a sua origem ou crença religiosa. A verdadeira mensagem, a mais original, a que reúne todos os princípios que dão consistência e sentido à vida é o Amor. Até então, ninguém à face da terra havia divulgado um tal conceito que ainda hoje é tido por escandaloso. Esse Amor vem de Deus que utilizou o seu Filho para no-lo transmitir. Assim como a igualdade. Somos todos iguais em Cristo. Claro que tais premissas foram um escândalo que não podia passar atendendo aos poderes da Sinagoga e da autoridade romana. “Gostará Deus do sofrimento de quem mais ama?” pergunta frei Bento Domingues. Claro que não. Mas foi ao abrigo desse pseudo desejo que o clero susteve, controlou, amarrou os fiéis analfabetos e manobrou o poder temporal apropriando-se dele. Deus na boca dessa gente de barretes vermelhos, é um sádico, um tirano, um prepotente. Ainda que eu não tenha detectado no NT dos Evangelistas nada que remeta para a sexualidade, a violência (aqui, talvez no tocante aos vendilhões do templo, sobretudo, em João (2-15-16) algum desnorte que surpreende), fora isso, o percurso de Jesus Cristo na terra, foi a divulgação da mensagem do Pai, quase toda em parábolas, as muitas curas que fez e o confronto com os poderes instituídos, as ideias feitas, tudo sob o manto enternecedor do Amor. Se cada um de nós vir no outro a imagem de Deus, mesmo que seja aquela que enquanto humanos identifiquemos com Jesus Cristo, o mundo e todas as criaturas que nele vivem conhecerão o paraíso na terra.