sábado, maio 06, 2017

Sábado, 6.

Esta manhã, quando me sentei à secretária para trabalhar, recebi de chofre um calafrio que me imobilizou. Um tímido raio de sol lambeu as muralhas de livros à minha direita e esquerda, a casa estava mais bonita e acolhedora, um refrigério de perfumes pairava no ar, nenhum ruído entrava, o tempo admirável anunciava uma nova que não ousei decifrar, tudo à minha volta recordava-me as horas serenas de leitura, a cavaqueira entre amigos, o amor vadio estendido ao sudário da memória... Cercando os móveis que me acompanham há muitos anos, o decore tão caro aos visitantes, onde me afundo em cogitações, o silêncio amado pelo Criador quando do início do mundo, que restará de toda esta atmosfera senão este estreito, extremoso abraço que me perpectuará no fosso entre a vida e a morte, impregnado do suspiro infinito de encantamento e agradecimento por aqui haver vivido os mais transcendentes instantes que não ouso soletrar.