terça-feira, janeiro 23, 2024

Terça, 23.

O melhor de Portugal e sobretudo dos últimos cinco anos no que diz respeito ao respeito que deve àqueles que ficaram sob a alçada da justiça, está nesta notícia do Público de hoje que transcrevo: “Celas bolorentas e com ratos custaram a Portugal 823 mil euros nos últimos anos O estado em que Portugal mantém as cadeias custou-nos, nos últimos cinco anos e até agora, cerca de 823 mil euros, entre condenações e acordos amigáveis com os reclusos no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos. São condições de alojamento que chegam a incluir o convívio com roedores, em celas bolorentas onde se defeca à frente do parceiro por não haver sequer cortinas que resguardem o mínimo de privacidade.” Esta realidade abafa toda a propaganda, a ideia de que somos um país de direitos humanos, profundamente cristão e cuidador dos mais desfavorecidos. Blá-blá-blá. Na campanha em curso, não se ouviu ainda nenhum partido falar de uma possível guerra à escala mundial, da condição das prisões, da pobreza que é real e atravessa transversalmente toda a sociedade. Um deputado para receber de reforma, em média, 1700 euros, sem precisar de atingir 66 anos de idade como acontece com o esgotado e mal pago trabalhador comum. É por isto que Portugal é um país de partidos, isto é, de submissos ao serviço dos líderes. 

         - A imprensa que temos também tem a sua cota-parte na situação. Porque não possui juízo crítico, porque se deixou enredar na bênção dos partidos, no dinheirinho que esconde a fome sobre a importância da palavra estudada, pesquisada, confrontada, livre e independente; no número de jornalistas que sai das faculdades como se fôssemos  um grande país, etc., etc.. Domingo reuniram-se para analisar a situação dramática de um grupo enorme de gente – rádio, jornais, revistas – e ao fim de três dias de reflexão dos problemas e consequentes causas, saiu a marcação de um dia de greve. Apetece dizer: a montanha pariu um rato. O apelo ao do erário público para remediar o mal causado por tanta desbunda, foi recusado – e bem, enfim! – pelo ministro da respectiva pasta. 

         - O Chega é produto das imposições hegemónicas da esquerda. Aqui como por todo o lado as pessoas estão fartas da ganância de uns quantos que se servem das patentes ideológicas em proveito próprio. O caso da Alemanha é perigosíssimo e lembra o período de antes os nazis tomarem o poder, mas também a configuração de equilíbrio no Parlamento Europeu, onde as direitas parecem vir a estar em alta. Talvez nesta tendência esteja uma vingança, uma posição política de censura à vaga esquerdista que assolou a Europa e de que todo mundo parece estar não só desiludido como convencido não dar a bota com perdigota. Entre nós, eliminados pelo eleitorado o PCP e BE, o PS, ainda por cima com maioria, governou como governam os grupos mafiosos da América Latina. Deixou o país num caos, e, contudo, acaba de pôr à frente do partido um homem que parece a imagem do companheiro Vasco Gonçalves, como se nada tivesse acontecido e a sua governação houvesse sido pelo menos sofrível. Resumindo: a posição do Chega não é mérito seu, mas demérito dos socialistas coligados com Marcelo e este com o seu pupilo “inteligente”. 

         - Esta tarde, no seguimento de duas horas de leitura, fui roçar a erva até ao portão. Surpreende-me ainda ter forças, capacidades mentais e físicas para um trabalho pesado que cada vez penso não ser capaz de o executar. Isto lembra-me aquela minha obsessão que me acompanha sempre que desembarco em Paris. Há anos que a coisa dura, pensar que não vou poder calcorrear a cidade como antigamente. Mas depois... tudo parece permanecer intacto. 

         - Como me faltam poucos capítulos para terminar o romance de Lídia Jorge, voltei a ele na esperança de o acabar. A dada altura disse: “pára, saboreia, junta ideias, goza e usufrui de uma obra com esta envergadura”. E de facto, ante a majestosa obra de arte que é Misericórdia, tudo à sua volta é “lixo”.