quinta-feira, janeiro 25, 2024

Quinta, 25.

Mais uma suspeita de corrupção. Desta vez é do outro lado, como se fosse normal a rotatividade: ora roubas tu, ora roubo eu. O honesto desta vez é um tal Miguel Albuquerque, de sotaque madeirense que, como todos os outros, se diz inocente. Isto de ser presidente de câmara às vezes toca mais que ser primeiro-ministro. 

         - O Fertagus, se vivêssemos num país com governantes ao nível do povo, era uma escola de importância sem igual para eles que não têm preparação política e só são obrigados a dar a barriga pelo partido. De contrário saberiam que os transportes públicos são uma escola que faz mover a indignação e projecta a revolta. Ao meu lado vinha um homem de uns cinquenta anos todo o percurso agarrado ao telemóvel, em luta com uma fulana do outro lado da linha. Ele repetia, e repetia, que não podia continuar com o contrato Vodafone porque vivia agora numa casa sem contrato de arrendamento, sem água, sem luz e por isso não via televisão. A dada altura diz que trabalha num hospital e à hora a que a funcionária lhe solicitava a presença, não lhe era impossível porque tinha de cumprir horários por turnos. Sempre muito bem educado, raramente alterando a voz, de súbito encerra o diálogo com um “não pagarei, a senhora faça o que quiser” e desliga o aparelho. Estava visivelmente fora de si. 

         - Terça e quarta não deixei este espaço. Todavia, ontem, tendo finalizado o trabalho iniciado de véspera, e concluído a limpeza da erva até ao portão, encontrava-me esgotado como raramente acontece. Quando digo esgotado era exausto, abatido, desmoralizado. Talvez tivesse sido tocado pelas páginas finais do livro de Lídia Jorge e a velhice da sua mãe se aproximasse da realidade que não desejo para mim, o que é certo é que me espapacei no sofá e de lá só saí para jantar. Hoje fui nadar. Amanhã vou a Lisboa. No fim-de-semana tenho aqui visitas. Terça-feira vou a Caldas da Rainha almoçar com a Alice.