terça-feira, janeiro 16, 2024

Terça, 16.

A vida oferece-nos quase sempre saídas imprevisíveis. Foi o caso esta manhã. Saí de casa com o propósito de ir responder ao Novo Banco sobre um assunto relacionado com o acesso à minha conta bancária. Pensei ir duas horas antes e abrigar-me no meu velho e conhecido café da vila, o Retiro Azul. Hoje transformado numa unidade moderna, com as paredes cobertas de azulejos, espaço amplo de mesas e um balcão com máquina automática de pagamento de um simples café ao prato mais apetitoso. Até aqui, enfim, digamos que é a modernidade ou lá o que isso seja, a atrair os gestores aficionados pelo progresso. Tomei a bica, abri o computador, chamei a Ana Boavida para ao pé de mim, mas ela recusou. O ruído das máquinas de café, das chávenas, e sobretudo da clientela, toda formada por surdos que gritavam uns para os outros a ver quem ouvia melhor, não me permitiu permanecer. Nunca compreendi por que razão os portugueses de classe, digamos, menos cultivada têm precisão de conversar aos berros. Fugi e entrei na porta ao lado onde o banco se encontra. Felizmente que a funcionária, uma brasileira competente (ufa, enfim!), estava com outro cliente e pediu-me que aguardasse. Há anos que não entrava naquela dependência bancária e foi para mim uma surpresa pois tive a sensação de chegar ao hall de um hotel de cinco estrelas: conforto, luz filtrada, maples profundos, cores claras e discretas, gabinetes em vez de balcões, atmosfera aquecida onde fiquei por mais de uma hora confortável a trabalhar no romance. De seguida, pelo meio-dia, voltei à natação. Desde antes do Natal que não me exercitava e, por isso, a meia hora foi custosa. 

         - E como estamos de política, irmã Agnes? Cada vez pior. Fechada a Assembleia Nacional, começado o lixo ambiental das promessas dos políticos, continuado os urras de várias classes profissionais, o Governo satisfeito por não poder responder, acotovelam-se as razões de uns e outros remetidas para a governação seguinte. O senhor Pedro Santos, fala em “orgulho”, “empatia”, “confiança” e... “humildade”! Para fintar aqueles que o dizem tempestuoso, extremista, radical. A verdade é que o homem está disposto a vender o pai, a mãe, o gato, o cão e até os lençóis da cama para nos convencer da sua humildade à S. Francisco de Assis; o senhor Ventura, esse, é um espectáculo demagógico;  a viúva do BE, coitada, até pode ter alguma razão, mas ninguém crê nela; quanto ao senhor Paulo Raimundo do PCP, não querendo ligar-se ao mentiroso do PS (a experiência com a “gerigonça” atirou-o para uns míseros 3%), não quer tentar outra. Resta o senhor Montenegro, embora mais contido e discreto, não me parece que por si só possa colher a confiança do eleitorado. Seja como for, para melhor não vamos e quem vai decidir a coisa é o Chega do assanhado Ventura. 

         - Pois que os jornais franceses o revelaram, eu retiro as reticências que pus na notícia da eleição de Gabriel Attal para primeiro-ministro da França (quinta-feira, 11). Todavia, outra notícia do mesmo género acaba de rebentar em Espanha. Eu sou dos que se surpreenderam quando do anúncio do casamento de Filipe VI. Aos meus ouvidos, desde há muito, haviam chegado notícias em sentido oposto às tendências sexuais do Príncipe das Astúrias – e aqui não vai nenhuma forma de censura.