segunda-feira, outubro 02, 2023

Segunda, 2 de Outubro.

A pouco e pouco vou-me reencontrando comigo. Mas não tem sido fácil porque chafurdo sempre no mesmo país, com os mesmos charlatães, a mesma miséria e a mesma rasteira vidinha. Somos cativos, vassalos do que nos impõem de fora, calando-nos com PRRs e outras esmolas que nos humilham porque nos alienam a uma vida onde o trabalho que dignifica passou para plano secundário. Seremos sempre uns miseráveis, dependentes do Estado, de quem nos governa, de uma máfia de políticos que, vendo o barco a afundar-se, reúnem o que podem para sobreviverem noutro lugar, noutro posto, noutra feira de vaidades. Isto está a tocar o fundo. Algures alguém de atalaia para tomar conta do pouco que resta. Não avisto nenhuma dimensão tirânica de direita, não têm competência para tanto; mas de esquerda que à socapa tem vindo a incentivar as massas descontentes e a esperar pacientemente que o poder caia na rua, podre. 

         - Os jornais, na sua incomensurável ignorância, sem terem assunto, ou esgotado o que os entreteve, descobriram que o cardeal recém-investido é um dos mais jovens do coro cardinalício. Jovem com 50 anos! Isto leva-me a contar uma história passada no metro de Lisboa. Um velhote de bengala e sorriso bonito, abeirou-se de mim pedindo-me uma informação sobre a rota que pretendia seguir. Disse-lhe que viesse comigo porque ia na mesma direcção. Pelo caminho, ele despejou o saco de lamentos e doenças, explicando-me que os ossos dos joelhos, dos tornozelos, das costas, dos ombros estavam todos deslocados, tortos, desencaixados, estalavam a cada movimento e custavam-lhe 50 euros por mês para manter aquela chinfrineira de achaques. Respondo: “Olhe que até não é muito para tanta doença!” Riu-se. Perguntou-me que idade tinha e logo disparou: “Você parece que tem vinte anos, tem um aspecto muito jovem!” E eu passando-lhe os meus óculos: “O meu amigo não sofre só dos ossos, sofre também da vista.” Desatámos à gargalhada. Quanto à juventude de sua excelência, eu sorriu sem gargalhar. 

         - Em Israel vai um grande sururu porque na cadeia, em Telavive, um recluso palestiniano do HAMAS envolveu-se com um guarda ou vice-versa. Os fanáticos israelitas do senhor Benjamin Netanyahu, logo consideraram o facto lesa-Torá. Nem lhes ocorreu que os dois homens desenvolveram um amor que já durava há mais de um ano e, o envolvimento era de tal modo sagrado, que permitiu a sua duração por tanto tempo. Não era, portanto, um mero engate ou aproveitamento do guarda para com o preso. A sequência não se conhece, mas não me admiraria que o amor imperasse por sobre todas as normas, tratados, impedimentos e escândalos morais. Em Israel, pelo que sei, a homossexualidade é respeitada e não sofre qualquer repressão.